"Esse povo rebelde durante 500 anos, mas especialmente há 24 anos,
hoje é poder, é governo na Venezuela e encabeça uma revolução bonita, democrática e socialista". Palavras do vice-presidente Nicolás Maduro (foto acima) durante a concentração em Caracas nesta quarta-feira, dia 27, em comemoração ao "Caracazo", rebelião popular estourada em 27 de fevereiro de 1989 contra o pacotão neoliberal do então presidente Carlos Andrés Pérez. Seguem mais algumas fotos, todas da estatal Agência Venezuelana de Notícias (AVN):
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
BANCÁRIOS: FOTO E FRASE EMBLEMÁTICAS DA PELEGAGEM NA DITADURA MILITAR
De
Salvador (Bahia) –
Uma das posses de Eraldo de Amorim Paim na presidência do Sindicato dos
Bancários da Bahia (ele foi eleito em 1975 e reeleito em 1978). Da dir. para a
esq.: Paim, Carlos Coqueijo Costa, presidente do TRT-BA, coronel do Exército
Bião Cerqueira, e José de Oliveira Torres, ex-presidente do sindicato e então
presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (depois juiz
classista).
A imagem é bem emblemática da
pelegagem da época, como atesta o retratão do general Garrastazu Médici, o
terceiro dos cinco ditadores de plantão (de 1964 a 1985). Emprestava, para
vergonha dos trabalhadores, o nome do auditório do sindicato, mudado depois
para Auditório Mutti de Carvalho, o fundador da entidade em 1933. A foto está na
página 287 do livro de Euclides Fagundes Neves, atual presidente do sindicato:
Bancos, Bancários e Movimento Sindical (2ª. Edição – revisada e atualizada).
Agora a frase: “O sindicato continua
nas nossas mãos”, disse Eraldo Paim, abraçando José Tores, quando o procurador
regional do Trabalho anunciou o resultado oficial das eleições sindicais no dia
18 de julho de 1975, conforme relata Euclides Fagundes no mesmo livro (página
286).
Dava-se aí a derrota da chamada Chapa
Verde, da oposição sindical bancária, fruto do movimento de ativistas entre o
período de 1972 a 1975. É o registro desses quatro anos de luta que começo a
contar neste meu blog a partir da próxima quarta-feira, dia 6, na minha condição
de um dos militantes da época e sob minha inteira responsabilidade.Uma pequenina parte da luta de muitos e valorosos companheiros que resultou na derrubada dos pelegos em 1981.
Com o relato (dividido em três
partes), eu me junto às comemorações que vêm sendo feitas pela direção do
sindicato baiano para marcar os 80 anos da entidade (1933-2013), cujo evento
maior será no próximo dia 22, a partir das 19 horas, no Bahia Café Hall - Avenida Luis Viana Filho, s/n - Paralela.
GARANTINDO DIREITOS DA BLOGUEIRA CUBANA E DOS MANIFESTANTES (e saudações ao Comandante Fidel)
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Yoani Sánchez no Brasil (Foto: www.gerivaldoneiva.com) |
Por
Gerivaldo Neiva, Juiz de Direito de
Conceição do Coité (interior da Bahia), membro
da Associação Juízes para a Democracia (AJD) e do Law Enforcement Against
Prohibition - Leap-Brasil. (Título original: A chegada de Yoani em Coité e o
papel do Juiz de Direito. O título acima é deste blog).
Para quem ainda não conhece, Yoani
Sánchez é cubana, apresentada por boa parte da mídia mundial como sendo uma
blogueira que rompeu as barreiras da censura em Cuba e faz oposição ao regime.
Pois bem, esta moça está visitando o Brasil, depois de várias tentativas de
sair da Ilha, e resolveu aceitar o convite para palestrar em Conceição do
Coité-Ba, comarca da qual sou o Juiz de Direito.
Sabendo da visita, os estudantes da
cidade e políticos de esquerda começaram a se organizar para impedir a entrada
da moça na cidade e também impedir a realização do evento. Em seguida, fui
procurado pelos organizadores do evento, acompanhado de dois bons advogados,
para garantir que sua convidada pudesse entrar em Coité e realizar a palestra.
Primeiro, tentei mediar um diálogo
entre os estudantes e os organizadores do evento, mas não obtive êxito. Os
primeiros estavam irredutíveis e não admitiam de forma alguma a presença da
moça cubana em terras coiteenses e os segundos não abriam mão de realizar o
evento, pois contavam com a presença de políticos famosos e convidados de toda
a região.
Diante do impasse, convidei o
comandante local da polícia militar e lhe determinei que garantisse, sem
violências ou repressão, a realização dos dois eventos. Primeiro, preparasse
uma escolta desde a entrada da cidade e conduzisse a moça cubana por onde
pretendesse circular na cidade, garantindo-lhe a integridade física. Segundo,
preparasse uma boa guarnição para garantir a realização do protesto dos
estudantes, mesmo barulhenta, desde que não impedisse a realização da palestra.
Enfim, comandante, seu papel é garantir a realização da palestra e também do
protesto dos estudantes.
E decidi assim com a Constituição
aberta sobre minha mesa de trabalho. O Brasil é um “Estado Democrático destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais
e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na
ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”, conforme, escrito em seu preâmbulo; o Estado
brasileiro tem como fundamentos a cidadania, a dignidade da pessoa humana e o
pluralismo político (art. 1o) e, por fim, é livre a manifestação do
pensamento, a liberdade de consciência, a expressão da atividade intelectual e
de reunião, dentre outras garantias previstas no artigo 5o da
Constituição.
Pois bem, decidindo
assim, a moça chegou à cidade sob vaias e protestos, mas teve garantido o seu
direito de locomover-se em território nacional e expressar seu pensamento. Da
mesma forma, garantiu-se o mesmo aos contrários ao seu pensamento.
Sabendo da minha
decisão a seu respeito, para minha surpresa, fui o primeiro a receber a visita
da moça cubana. Depois de alguns cumprimentos e agradecimentos, já na saída,
ela me pediu uma sugestão de roteiro na cidade. Pensei um pouco e, já que tinha
sido solicitado, respondi: olhe, conhecendo os que te acompanham, sei que irão
te oferecer um saboroso jantar acompanhado de bons vinhos; depois, não se
assuste se algum deles, para te impressionar, saque de sua caixinha um dos mais
finos charutos cubanos (saudades de casa?); depois, não irão te permitir
repousar em um dos hotéis da cidade, pois teu quarto de hóspede já está
preparado. Então, apesar do conforto, durma pouco e acorde na madrugada para
conversar com pessoas que já estão nas filas dos postos de saúde para marcar
uma consulta para alguns meses, apesar da urgência do seu caso; depois, visite
os bairros periféricos da cidade, completamente abandonados pelo poder público,
e converse com os jovens dependentes de crack para tentar entender suas razões;
mais tarde, visite a zona rural do município para ver os estragos causados pelo
seca e as condições de vida dos pequenos produtores rurais e entenda que
milhões de nordestinos ainda estão vivos graças aos programas sociais do governo
federal; na saída, passando na cidade vizinha, visite o presídio regional e
veja as condições em que vivem os presos deste país, quase todos analfabetos,
sem profissão e delinquentes comuns; por fim, quando tomar a rodovia para
Salvador, não deixe de visitar um assentamento do Movimento Sem Terra e então
poderá entender as consequências de tantas cercas por este país... Depois
disso, creio que você será capaz de entender que o Brasil não se resume aos
jantares das elites, ao luxo do Congresso Nacional, a alegria do carnaval e o
que divulga a mídia brasileira. Enfim, o Brasil que irão te mostrar talvez não
seja o Brasil real. De qualquer forma, conte comigo para ver assegurado o seu
direito de ir e vir, mas principalmente de ir e ver as contradições desse país.
Com ironia,
despedi-me de Yoani: seja portadora de saudações ao Comandante Fidel e, estando
em Santa Clara, deposite por mim uma flor no mausoléu de Che Guevara! Ela
sorriu meio sem graça, mas não se esquivou de me apertar a mão.
O autor adverte: esta notícia não é verdadeira, esta visita
não aconteceu.
(Matéria
enviada pelo companheiro Goiano/José Donizette)
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
CORREA: NA AMÉRICA LATINA HÁ UMA OPOSIÇÃO CONSPIRADORA (Parte 1)
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Correa denuncia "golpismo, conspiração permanente, em cumplicidade com alguns meios de comunicação" (Foto: Página/12) |
Diálogo
com o presidente do Equador, Rafael Correa, poucos dias depois de sua
reeleição: ele falou da Argentina, do Mercosul, da dolarização, da lei dos
meios de comunicação, da reforma judicial, do legado de Chávez, do modelo
econômico, da tentativa de golpe e das características da oposição. Disse que “estamos
preparando centenas, talvez milhares de quadros jovens”, ao responder se “vai preparar um delfim político como fez Lula
com Dilma Rousseff”.
Por Mercedes López San Miguel, de Quito
(entrevista publicada pelo jornal argentino Página/12, edição de 21/02/2013, com o título “Com a Argentina
temos a mesma visão política”. Está dividida em duas partes. O título acima é
deste blog).
No salão protocolar do Palácio Carondelet (sede do governo), Rafael
Correa apareceu diante desta repórter com um sorriso, modos afáveis e uma aparência
indestrutível. Quarenta e oito horas antes este homem de 49 anos havia
conseguido um triunfo eleitoral contundente, não só porque continuará ocupando a
cadeira presidencial, como porque seu partido Aliança País conquistou a maioria
especial de dois terços na Assembleia (Congresso) Nacional. Segundo anunciou o
presidente, Aliança País elegeu entre 97 e 98 deputados no Parlamento
unicameral de 137 membros (no Equador não há Senado), o que habilita o
presidente a fazer mudanças na Constituição aprovada em 2008 já durante a gestão
do próprio Correa. “Estou bem sem gravata?”, disse, usando uma camisa celeste e
paletó, antes de se sentar para conversar, rodeado de alguns assessores.
O mandatário do Equador, em entrevista exclusiva ao Página/12, contou o que propõe para os próximos quatro anos, incluindo
seus planos em relação à Argentina e à incorporação do seu país ao Mercosul. Com
voz tranquila e um pouco rouca, vestígio da campanha, Correa respondeu sobre
todos os temas loquazmente, dando dados como economista que é, e se referiu à
Lei da Comunicação sobre a qual tanto se tem escrito por estes dias nos veículos
locais de imprensa. “Aqui temos que buscar um equilíbrio adequado: controlar os
abusos da imprensa, mas sem que se caia em censura prévia”, assinalou,
insistindo que se deve mudar uma lei herdada da ditadura. Também falou de
Guillermo Lasso, ex-presidente do Banco de Guayaquil, que obteve o segundo
lugar nas eleições, identificado por Correa como um adversário que se atém às
regras da democracia.
– Como vê a relação com a Argentina nos próximos quatro anos? Que planos tem?
– Temos que seguir aprofundando a relação bilateral e tratar de
equilibrar um pouco o comércio. É pouco o comércio, mas bastante desbalanceado,
porque basicamente compramos da Argentina. E isso nos aproximará mais da
potencial entrada no Mercosul. Não gosto de mercantilizar as relações bilaterais.
O vínculo com a Argentina vai muito além do comercial, temos a mesma visão
política. Cristina Fernández está dizendo coisas muito importantes, que também
nós dizemos. Por exemplo, estes tratados de inversão recíproca, que foram uma
entrega total de nossos países em mãos das transnacionais. Agora as
transnacionais têm mais direitos do que os seres humanos? Se você quer ir à
Comissão Interamericana dos Direitos Humanos denunciar um atentado aos direitos
humanos tem que esgotar todas as instâncias jurídicas do país respectivo. Aqui,
qualquer transnacional pode acusar um Estado soberano diante do tribunal da
ONU. Estes tribunais sempre condenam os Estados e defendem o capital. Isso está
denunciando Cristina muito fortemente e nós também. Argentina e Equador sozinhos
podemos fazer muito pouco. Mercosul e Unasul podemos fazer muito. Temos que criar
nossas próprias instâncias de arbitragem e não estar submetidos às arbitragens
internacionais que sempre estão a favor do capital das transnacionais. Esse é outro
ponto de concordância com a Argentina: a coordenação política entre países pode
fazer muito.
– Por isso em seu discurso falou de construir a pátria grande.
– É uma necessidade. Analise as políticas econômicas de antes dos
Kirchner, analise aqui a política econômica da revolução cidadã. Os subsídios, sobre
os quais tanto reclamam as oligarquias e os neoliberais. Anteriormente os subsídios
eram para os ricos, não para os pobres, exemplo da sucretização de 1983 das dívidas
da burguesia. Em 1999 tivemos “el salvataje bancario” (crise enfrentada com
benefícios para os bancos em detrimento da população), com 6 bilhões de dólares
nessa época. Construir essa pátria grande é uma questão de sobrevivência. Nós
impomos as condições sobre esse capital transnacional. O que aconteceu com os
trabalhadores, competir precarizando a força de trabalho, fazendo cair os salários
reais. Se negociamos em conjunto com o capital internacional, nós colocamos as
condições.
– A dolarização da economia equatoriana é uma trava para a incorporação
do Equador ao Mercosul?
– A dolarização da nossa economia é uma trava para qualquer processo
integracionista e de liberação comercial, porque a dolarização significa estabelecer
outra política monetária. Um país que vai rumo a um mercado comum, se tem
problemas deprecia sua moeda. Nós não temos moeda nacional, assim que tudo isso
tem de ser pensado (a moeda corrente do Equador é o dólar). A entrada no
Mercosul nos exige eliminar muitas taxas alfandegárias e subir outras; estamos fazendo
a análise do benefício que teríamos para apresentar aos membros do Mercosul
para ver se há prejuízos e nos possam dar compensações, sobretudo considerando
que o Equador não tem moeda nacional. Nos interessa muito integrar o Mercosul e,
modéstia à parte, interessa muito ao Mercosul a integração do Equador, porque
seria um país com costa no Pacífico. E, além disso, porque temos proximidade
ideológica com o bloco.
– Quando o comparam a Hugo Chávez, e veem você como um sucessor na
liderança da região, o que responde?
- Que parem de opinar um pouquinho. Eu creio que falo em nome de
Cristina, de Evo, não buscamos nada para nós, como isso de ser um sucessor.
Estamos aqui para servir a nossos povos, não somente à pátria pequena, Equador,
e sim à pátria grande. Estaremos onde nos necessitem nossos povos, seja como
presidentes ou em outras funções.
– O Atpda (acordo de preferências alfandegárias com os EUA) vence dentro
de pouco tempo. Peru e Colômbia já têm tratados de livre comércio com os EUA. O
que vai fazer o Equador?
– Também está aí a Bolívia. As preferências alfandegárias nascem como uma
compensação pela luta contra as drogas. Sobre a qual os países andinos têm
responsabilidade porque são os maiores produtores de droga! Os Estados Unidos nada
dizem sobre a responsabilidade que têm por consumi-la. Eduardo Galeano diz que
as lutas contra a droga são compartilhadas: nós entramos com os mortos e eles com
os narizes. O Atpda nasceu na administração Clinton como compensação nessa luta
contra as drogas que é extremamente cara, que é uma causa da humanidade. Mas nós
temos outras causas como a miséria, como crianças sem escolas, famílias sem
hospitais. É uma nova forma de pressão contra os países que não se portam bem
de acordo com a visão dos Estados Unidos. Cada ano temos que ficar nesse
suspense se nos concedem ou não as preferências alfandegárias. Se concedem, bem,
se não, saberemos ir em frente.
– Agora que terá maioria no Parlamento você disse que uma das
prioridades será a aprovação da lei da comunicação. Suas críticos assinalam que
ela cria um organismo governamental que regula conteúdos e pune os meios de
comunicação que difundem conteúdos discriminatórios. Como se garante a plena
liberdade de expressão?
– Você não vai acreditar no que vou dizer: eu não conheço o projeto de
lei. Isso vem duma ordem constitucional aprovada pelo povo equatoriano nas
urnas. Como a imprensa diz que esta lei vai se meter com os conteúdos, não apoia
o cumprimento da Constituição de 2008, que foi aprovada com 63% dos votos e que
impulsiona uma nova lei da comunicação. A imprensa a bloqueou sistematicamente
com seus cúmplices na Assembleia (Nacional), você sabe que há deputados cúmplices
dos poderes de fato. Em todo caso, é uma iniciativa legislativa que não conheço
e já avisei ao presidente da Assembleia que se vai tramitar o projeto peço uma
reunião para que não haja maiores vetos. Aqui temos que buscar um equilíbrio
adequado: controlar os abusos da imprensa, mas sem que se caia em censura prévia.
Aqui no Equador há sim uma lei dos meios de comunicação, uma lei da época da
ditadura, claro, só para meios audiovisuais e impressos. E tem um conselho
controlado completamente pelo Executivo, que pode até suspender canais de
televisão. Então inventaram a mentira de que se quer agora controlar quando
temos que mudar uma lei da ditadura.
– No caso dos meios opositores, acredita que aprenderam alguma lição
depois da tentativa de golpe de 30 de setembro e sua questionada cobertura?
– Não. Ainda continuam negando que o 30 de setembro (de 2010) existiu. Incrível.
Alguns, há pouco, publicaram uma caricatura dizendo que a tentativa de golpe foi
uma invenção: que as ameaças de morte e os tiros contra o carro foram uma invenção.
Creia-me que existem um sectarismo e fundamentalismo em alguns meios, que como
diz Cristina Fernández, são meios de oposição. Porém nem sequer assumem sua
responsabilidade política; quando se quer que respondam por suas posições
políticas, aí são meios de comunicação que pedem que não os toquem. Esses senhores
bloqueiam uma lei da comunicação que foi respaldada no referendo de 2011, para
que não restem dúvidas de que o povo disse que quer essa lei. E continuam
bloqueando.
– Outro dos projetos que você mencionou como fundamentais é o Código
Penal. Seus detratores afirmam que se criminaliza o protesto. O que pode dizer
sobre este ponto?
– (Mostra um sorriso irônico) Olha como é a má fé, o código atual tem um
problema, tem uma seção que se chama Sabotagem e Terrorismo, onde são punidos
os que bloqueiam vias, jogam pedras contra carros, etc. Nós temos que punir essas
ações, mas não teriam que estar na seção Sabotagem e Terrorismo. Esta tipificação
é equivocada e já está corrigida no novo código. Os que usaram esses slogans da
criminalização do protesto obtiveram 3% dos votos, para que veja a quem
representam. A principal preocupação do povo equatoriano é a segurança. O atual
Código tem mais de 70 anos e estabelece delitos que já não existem, e não inclui
outros que ocorrem agora como o sicariato. O novo Código Penal foi enviado há um
ano à Assembleia, mas para causar dano a Correa, para que fracasse a luta
contra a insegurança - que matem nossos filhos, que destruam nossa família -, não
o aprovam. Mas graças ao povo equatoriano esse Código vai sair.
– Seu governo fará uma lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo?
– Não. A Constituição diz que o casamento como instituição é entre pessoas
de sexos diferentes. Nós promovemos muito os direitos e a não discriminação de
quem quer que seja por qualquer motivo, menos ainda por suas preferências sexuais.
A Constituição reconhece uniões de fato, por exemplo os direitos de herança, mas
claramente a Carta Magna diz que o casamento é entre um homem e uma mulher.
– Proporá uma lei que descriminalize o aborto?
– Pessoalmente não irei propor nenhuma lei que vá mais além dos dois
casos que já estão contemplados na legislação atual: no caso da violação duma
mulher com incapacidade mental e no caso de estupro, quando se violenta uma
menor.
– Quando disse no domingo que com alguns dirigentes opositores não ia
dialogar, estava incluindo Guillermo Lasso?
– Não. Estamos muito contentes que se tenha consolidado uma direita
ideológica, por fora duma “partidocracia” saqueadora e corrupta. Lasso tem um
discurso coerente com sua ideologia, ainda que não estejamos de acordo com ela.
A prática, o que se diz e o que se faz. Ele fez declarações muito corretas, muito
definidoras, quando reconheceu a derrota e disse “somos a segunda força eleitoral
e vamos inaugurar a oposição no Equador”, está reconhecendo que o que tivemos
não era uma oposição. Bem-vinda a oposição democrática. Na América Latina não
temos tido oposição democrática, temos tido oposição conspiradora. Lucio
Gutiérrez apoiou o golpe de Estado do 30 de setembro! Naquele dia os opositores
se reuniram num hotel cinco estrelas bebendo uísque importado e celebrando a queda
do governo. Quando fracassaram na sua tentativa porque o povo equatoriano saiu às
ruas para defender a democracia, ainda pediram uma anistia para todos os assassinos.
O que disse Lasso é muito acertado, é que vai inaugurar uma oposição
democrática. Tivemos golpismo, conspiração permanente, em cumplicidade com
alguns meios de comunicação.
– Você disse na campanha que o processo equatoriano vai mais além de sua
pessoa. Você vai preparar um delfim político como fez Lula com Dilma Rousseff?
– Estamos preparando centenas, talvez milhares de quadros jovens. Analise
nossa lista de candidatos ao Parlamento e a média de idade que eles têm. Temos
governadores de 25 anos, mulheres, confiamos muito na juventude e nas mulheres.
No ministério tivemos ministros de 28 anos. Confiamos muito nos jovens, estamos
preparando muitos quadros para que tomem o bastão. De acordo com a Constituição
pode ser candidato a partir dos 35 anos, por aí passamos com a juventude. E depois
de quatro anos os jovens terão somente 33 (sorri). Nosso projeto político não é
Correa, é a revolução cidadã e ultrapassa qualquer pessoa.
Tradução:
Jadson Oliveira
OU AS ESQUERDAS SE ATUALIZAM OU SE TORNARÃO CADA VEZ MAIS IRRELEVANTES
É preciso abandonar o conforto dogmático segundo o qual tudo na economia e na sociedade já foi resolvido pelos “clássicos”, bastando a nós repetir os textos como papagaios, sem consideração das imensas transformações pelas quais o mundo passou.
Por J. Carlos de Assis, do portal Carta Maior, de 11/02/2013
Dizia Marx na “Sagrada Família” que nenhuma formação histórica pode dar
lugar a outra mais avançada se “o velho não estiver ao ponto de cair
sozinho e o novo não estiver pronto para substituí-lo”. A crise atual
aponta para um capitalismo financeirizado virtualmente falido, mas me
exaspera o fato de não ver um projeto de base social nas esquerdas que
se apresente como maduro para ocupar seu lugar. Há, sim, em algumas
correntes esquerdistas, uma espécie de confiança dogmática, filha do
marxismo bastardo, na autodestruição do capitalismo, e nenhuma proposta
consistente sobre como ocupar o espaço supostamente a ser deixado vago.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
MÃOS SUJAS DE SANGUE
![]() |
Wainer faleceu em 1980, orgulhoso de não ter se acovardado diante dos desafios (Foto: Arquivo FolhaPress) |
(...) Podemos ser dirigidos por la prensa
sin advertilo. Y no existe en ningún diario
la información por la información; se informa
para orientar en determinado sentido a las
distintas clases e capas de la sociedad, y con el
propósito de que esa orientación llegue a
expresarse en acciones determinadas.
Periodismo y Lucha de Clases, de Camilo Taufic, Akal Ediciones, 1976, pág. 7
Por Emiliano José (reproduzido de Teoria e Debate, de 22/02/2013)
Dia 2 de fevereiro de 1951.
Palácio Rio Negro, Petrópolis.
Primeira reunião do ministério de Getúlio Vargas, recém-eleito, na qual seriam anunciadas as diretrizes centrais do novo governo.
Só dois jornalistas presentes: um repórter da Agência Nacional e Samuel Wainer. Iniciava-se, com ferocidade, a conspiração do silêncio da grande imprensa contra Getúlio. O silêncio ensurdecedor foi o primeiro movimento, não o último.
Getúlio certamente percebeu.
Fim da reunião, Wainer é convidado a ficar e jantar com a família.
Terminado o jantar, é chamado por Getúlio à sala de despachos, vasto salão que o presidente usava para conversas reservadas. Falava sempre entre baforadas de charuto e caminhadas de um lado para outro. Iniciou a conversa com rememorações.
– Tu te lembras de uma frase que disseste no dia em que começamos a campanha?
– Não, presidente – respondeu Wainer.
Getúlio puxou-lhe pela memória:
– Era uma frase sobre jornalismo.
Wainer lembrou-se. Voava com o presidente do Rio de Janeiro para o Amazonas e lhe disse:
– Presidente, a imprensa pode não ajudar a ganhar, mas ajuda a perder.
Dissera mais:
– Perceba que sou o único jornalista destacado para cobrir sua campanha. Note que a do brigadeiro Eduardo Gomes mobiliza pequenas multidões de repórteres e fotógrafos. Toda a grande imprensa está contra sua candidatura.
– Não preciso da grande imprensa para ganhar – retrucou Getúlio na conversa a bordo do avião.
O presidente pensava em Franklin Roosevelt, que nunca tivera apoio dos jornais americanos e sempre vencera as eleições. Pensou e disse.
Wainer ponderou:
– Presidente, ao contrário do que ocorre em países como os Estados Unidos, no Brasil a imprensa tem um fortíssimo poder de manipulação sobre a opinião pública. Não é fácil enfrentá-la.
E completou com a frase que o presidente pretendia que ele lembrasse:
– A imprensa pode não ajudar a ganhar, mas ajuda a perder.
Getúlio, entre as baforadas de charuto e as passadas pelo salão, perguntou:
– Tu reparaste que hoje não veio ninguém cobrir a reunião?
– Claro que reparei. Hoje foi desencadeada a conspiração do silêncio.
E Wainer acrescentou, ainda:
– O senhor só vai aparecer nos jornais quando houver algo negativo a noticiar. Essa é uma tática normal da oposição, e a mais devastadora.
O presidente não parava de caminhar, e fumava seu charuto, e queria dizer alguma coisa conclusiva, e disse:
– Por que tu não fazes um jornal?
Wainer, perplexo, e feliz, reagiu:
– Presidente, isso é o maior sonho de um repórter como eu. Não seria difícil editar uma publicação que defendesse o pensamento de um governante como o senhor, que tem o perfil de um autêntico líder popular.
Getúlio foi taxativo:
– Então, faça.
Wainer perguntou:
– O senhor quer saber como faria?
– Não – Getúlio respondeu prontamente.
E acrescentou:
– Troque ideias com a Alzira e faça rápido.
– Em 45 dias, dou um jornal ao senhor – reagiu Wainer.
– Então, boa noite, Profeta.
– Boa noite, presidente.
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