Membros da Milícia Bolivariana desfilam durante um ato de apoio a Chávez em 10 de janeiro em Caracas (Foto: Página/12) |
Pesquisador venezuelano da Universidade Simon Rodrigues, reduto da intelectualidade bolivariana em Caracas, afirma à Carta Maior que, mesmo com eventual morte de Hugo Chávez, a reforma militar feita pelo presidente, com ascensão de novos oficiais, renovação dos equipamentos (como o caça russo Sukhoi) e a criação das “milícias bolivarianas”, protege a “revolução” contra golpes como o de 2002. “Este é um processo pacífico e democrático, mas que também está bem armado”, diz ele.
Por Dario Pignotti (reproduzido do portal Carta Maior, de 28/01/2013)
Guerra é guerra. No
combate cotidiano contra a chamada “revolução bolivariana”, as direitas
concederam um papel preponderante à infantaria midiática, tema abordado em
ensaios e documentários como o revelador “A revolução não será televisionada?”.
Curiosamente, é menos fecunda a produção analítica sobre o componente militar, que é fundamental em toda luta verdadeira pelo poder – tenhamos em conta que a Venezuela vive uma revolução pacífica, mas é uma revolução armada. E hoje podemos dizer com certeza que na Venezuela as armas estão em poder do povo? – questiona desde Caracas o pesquisador Adrián Padilla, da Universidade Simon Rodrigues, reduto da intelectualidade bolivariana, em conversa por telefone.
No diálogo com Carta Maior, Padilla ligou a questão militar ao futuro da revolução, e discorreu sobre as mudanças nas forças armadas desde o golpe de Estado de 2002, quando altos oficiais se somaram à ação apesar de terem jurado lealdade a Chávez.
Padilla, que fez doutorado na Universidade de São Paulo, ainda falou positivamente sobre a visita do ex-presidente Lula a Cuba, onde Hugo Chávez está internado, mas lamentou a ausência da presidente Dilma Rousseff no ato de 10 de janeiro, quando foi prorrogado o mandato do líder venezuelano, justamente em virtude de cirurgia contra um câncer, em Havana. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Carta Maior – Recentemente circulou um comunicado golpista assinado por militares da reserva. É possível confiar nos generais, almirantes e brigadeiros da ativa?
Adrián
Padilla – Não é possível dizer categoricamente que não há mais focos de
conspiração militar. É possível que haja alguém dentro das forças armadas que
tenha sido seduzido materialmente para colaborar com a direita em algum plano
desestabilizador. Mas desde 2002 se ganhou um terreno importante a favor do
processo. Chávez determinou que os militares devem responder às demandas da
causa bolivariana, anti-imperialista e socialista. Isso não acontecia poucos
anos atrás. É destacável que o ministro da Defesa, o almirante Molero Bellavia,
começou a aparecer mais publicamente, a fazer declarações, convertendo-se em
referência de poder e um homem que manifesta suas convicções sobre o que é termos
forças armadas bolivarianas e anti-imperialistas. Na Venezuela e em muitos
países latino-americanos, a Marinha foi em geral uma força de concepção mais
reacionária e com menos base popular do que o Exército, mas o almirante
Bellavia é alguém que tem a confiança de Chávez, é uma relação histórica que vem
de antes da década de noventa. Diria que ele é um homem leal ao projeto. Além
disso, o alto comando militar em geral teve gestos de forte compromisso com o
projeto bolivariano, quando se conheceu qual era o estado de saúde do
presidente, em dezembro, antes de que ele partisse para Cuba e sofresse a
cirurgia. Acredito que tenha havido um processo de depuração das forças
armadas, graças à promoção de novos oficiais comprometidos com o processo de
transformação, do qual eles participam ao lado do povo. Nós temos a
Universidade das Forças Armadas, onde há várias carreiras, onde estudam 200 mil
alunos não militares que trabalham com os próprios militares. Isso é muito
importante, já que instalações militares funcionam como salas de aula em todo o
país, permitindo que lá estudem pessoas de zonas distantes do país. Vemos que é
importante o fato de que tenha surgido uma interação entre militares e a gente
do povo, fazendo com que todos tomem consciência da questão da defesa nacional,
um tema que não diz respeito somente às forças armadas.Curiosamente, é menos fecunda a produção analítica sobre o componente militar, que é fundamental em toda luta verdadeira pelo poder – tenhamos em conta que a Venezuela vive uma revolução pacífica, mas é uma revolução armada. E hoje podemos dizer com certeza que na Venezuela as armas estão em poder do povo? – questiona desde Caracas o pesquisador Adrián Padilla, da Universidade Simon Rodrigues, reduto da intelectualidade bolivariana, em conversa por telefone.
No diálogo com Carta Maior, Padilla ligou a questão militar ao futuro da revolução, e discorreu sobre as mudanças nas forças armadas desde o golpe de Estado de 2002, quando altos oficiais se somaram à ação apesar de terem jurado lealdade a Chávez.
Padilla, que fez doutorado na Universidade de São Paulo, ainda falou positivamente sobre a visita do ex-presidente Lula a Cuba, onde Hugo Chávez está internado, mas lamentou a ausência da presidente Dilma Rousseff no ato de 10 de janeiro, quando foi prorrogado o mandato do líder venezuelano, justamente em virtude de cirurgia contra um câncer, em Havana. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Carta Maior – Recentemente circulou um comunicado golpista assinado por militares da reserva. É possível confiar nos generais, almirantes e brigadeiros da ativa?
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