(Reproduzo artigo do jornalista Marcelo Salles, postado hoje, dia 30, na sua coluna SOBRE MÍDIA, POLÍTICA E ELEIÇÕES. O título acima é deste blog).
Por Marcelo Salles, do blog Fazendo Media: a média que a mídia faz
O debate na TV Globo transcorreu sem grandes surpresas, não houve nenhum fato que pudesse comprometer o atual quadro eleitoral, que mostra uma vantagem de Dilma sobre Serra entre 12% e 17% nas pesquisas (considerando os votos válidos).
Se no debate anterior Serra foi levemente melhor, no desta noite Dilma pareceu mais à vontade. Serena, respiração controlada, respostas precisas. Demonstrou conhecimento, firmeza e transmitiu confiança.
Serra, atrás nas pesquisas, poderia adotar a tática de partir para cima, abrir o confronto, mas não o fez. É verdade que o povo brasileiro não gosta de quem ataca, as tais pesquisas qualitativas já provaram isso – talvez uma das manifestações daquilo que Sérgio Buarque de Hollanda chamou de “homem cordial”. Só que para reverter a tendência, Serra precisava de um fato novo, que não se consegue com debates frios. Nem a tal armação que os tucanos estariam preparando para a marcha em São Paulo aconteceu. Estranho.
No primeiro turno, escrevi em minha coluna “Até a vitória, sempre!”, que mantenho no blog Escrevinhador, do jornalista Rodrigo Vianna (a propósito, leiam seu artigo na Caros Amigos desse mês, está um primor), que o setembro da direita ainda não havia acabado. Na ocasião, muitos já comemoravam vitória no primeiro turno.
Para resumir, escrevi o seguinte: no primeiro terço do mês, a direita se concentrou em denúncias de violação de sigilo na Receita Federal para atingir o PT. Em seguida veio o escândalo Erenice, que serviu para atacar Dilma diretamente. Por fim, eu disse, esperava mais um ataque à Dilma, dessa vez transformando sua história de luta contra a ditadura em “ações terroristas”. No conjunto da obra, a mensagem seria: “Dilma, se eleita, será a chefe suprema do Estado terrorista aparelhado”.
A terceira parte não se confirmou. Não da forma como achei que seria. O que aconteceu foi uma campanha sem precedentes, de calúnia e difamação, contra a candidata, por meios não convencionais. E-mails, panfletos apócrifos e centrais de telemarketing espalharam a mensagem que Dilma era abortista e até que ela defendia uma República satânica. Claro que as corporações de mídia entraram no debate e mantiveram o aborto em pauta, além de inflar ao máximo a “onda verde” de Marina Silva. O setembro da direita conseguiu inverter a tendência de vitória em primeiro turno e fomos para outubro.
Esse mês, tão famoso na história do século 20, não apenas por bruxas, mas por revoluções, insurreições, ainda terá de ser mais estudado, sobretudo o de agora, 2010. Há quem diga que o grande efeito do segundo turno foi aumentar o preço do PMDB, outros comentam que não foi à toa que a Globo substituiu o fuzil automático por um revólver 38, sugerindo acordos de bastidores.
É verdade que essa tese carece de comprovação, mas o fato é que ela se encaixa perfeitamente na conduta de Serra e das forças da direita na reta final do segundo turno. Pra quem já promoveu golpes de Estado, manipulou debates grosseiramente e tentou destituir o presidente mais popular da história com oito pedidos de impedimento, essa turma está muito sossegada.
Seguindo essa linha, o papel da direita e sua mídia estaria cumprido. Sentiram que não vai dar para vencer e resolveram adotar a tática do sangramento, já que bater de frente seria uma exposição que custaria muito caro futuramente (tanto em termos de credibilidade, no caso das corporações de mídia, quanto em futuras barganhas, no caso do resto da direita). Assim, caso eleita, Dilma estaria enfraquecida desde já. Se não por negociações ocorridas ao longo do mês, pelo menos devido à manutenção por mais 30 dias de Serra no seu pé e no calcanhar do PT, trabalhando intensamente o imaginário comum a ideia de que este é um “partido de aloprados”, de que o Estado é usado apenas como “cabide de empregos para a turma deles” e por aí vai.
O fato é que estamos a 24 horas do voto e o país não viu um fato político capaz de mudar a vontade expressa pelos eleitores até aqui. Por outro lado, não confio nas urnas eletrônicas, por não materializarem o voto para possibilitar recontagem, em caso de necessidade. E o fato político pode ser criado justamente aí, com uma surpresa na contagem, os institutos de pesquisa sem ter o que dizer e os colunistas da direita “explicando” que a manifestação do eleitor “nem sempre pode ser detectada com precisão” e generalidades do tipo.
De qualquer maneira, temos que estar atentos e fortes. As últimas horas devem ser de intensa disputa de votos, e para isso nada melhor que a comparação entre os dois projetos: Dilma-Lula x Serra-FHC. Apesar de muitos lunáticos não enxergarem diferenças, elas estão aí: 15 milhões de empregos x 5 milhões; na comunicação, EBC, Confecom e diversificação de verbas publicitárias x reforço do oligopólio no setor; economia crescendo a 7% x 2,5%; agricultura familiar com R$ 16 bilhões x R$ 2,6 bilhões; política externa soberana x “fala fino com EUA”; na educação, criação de mais de 100 escolas técnicas federais x paulada em professores; e por aí vai.
Por fim, é muito importante destacar que Dilma-Lula apostam no fortalecimento do Estado, enquanto Serra-FHC em seu enfraquecimento. Em outras palavras, é possível dizer que a escolha do dia 31 de outubro de 2010 será entre a construção coletiva de uma nação, em que todo o povo tenha seus direitos básicos assegurados, em contraposição à perspectiva de um país feito para poucos, onde imperam a privataria e a miséria na vida de milhões de brasileiros.
sábado, 30 de outubro de 2010
ÚLTIMAS IMAGENS DA CAMPANHA DE DILMA EM SP
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No meio (o mais alto), entre políticos na chamada "comissão de frente" da passeata, está o senador petista Mercadante, candidato ao governo de SP derrotado no primeiro turno. |
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Michel Temer, presidente da Câmara e do PMDB e candidato a vice de Dilma |
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Senador Suplicy, do PT |
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Área da Praça do Patriarca onde se concentrou o pessoal com camisas e bandeiras do PR (Partido da República), que faz parte da coligação liderada pelo PT. |
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
CHAUÍ: “TUCANOS ARTICULAM VIOLÊNCIA PARA CULPAR PT”
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Marilena Chauí: "Campanha tucana recrutou o que há de mais reacionário, tanto na direita como nas religiões" |
Por Suzana Vier, da Rede Brasil Atual
São Paulo – A filósofa Marilena Chauí denunciou nesta segunda-feira (dia 25) uma possível articulação para tentar relacionar o PT e a candidatura de Dilma Rousseff à violência. De acordo com ela, alguns partidários discutiram no final de semana uma tática para usar a força durante o comício que o candidato José Serra (PSDB) fará no dia 29.
Segundo Chauí, pessoas com camisetas do PT entrariam no comício e começariam uma confusão. As cenas seriam usadas sem que a campanha petista pudesse responder a tempo hábil. “Dia 29, nós vamos acertar tudo, está tudo programado”, disse a filósofa sobre a conversa. Para exemplificar o caso, ela disse que se trata de um novo caso Abílio Diniz. Em 1989, o sequestro do empresário foi usado para culpar o PT e o desmentido só ocorreu após a eleição de Fernando Collor de Melo.
A denúncia foi feita durante encontro de intelectuais e pessoas ligadas à cultura, estudantes e professores universitários e políticos, na USP, em São Paulo. “Não vai dar tempo de explicar que não fomos nós. Por isso, espalhem.”
Ela também criticou a campanha de Serra nestas eleições. “A campanha tucana passou do deboche para a obscenidade e recrutou o que há de mais reacionário, tanto na direita quanto nas religiões.”
FUNDAÇÃO DENUNCIA ESQUEMA GOLPISTA PATROCINADO PELA CIA NO BRASIL
(Recebi este texto da companheira Claudet Coelho Guedes, baiana residente na Paraíba. Foi divulgado em 20/10/2010 pelo sítio correiodobrasil.com.br. Creio que trata dos subterrâneos da política, sobre os quais a velha mídia não tem interesse de falar, muito ao contrário. Há algumas partes meio truncadas, deve ser problema de tradução).
Não bastasse o governador eleito do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, denunciar “uma campanha de golpismo político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar as ofensivas” contra o então governo estabelecido, o jornal da Strategic Culture Foundation – a partir de sua seção norte-americana, especializada em geopolítica – publicou, nesta semana, reflexão na qual avalia o esforço dos setores mais conservadores dos EUA para denegrir as “imaturas” democracias da América Latina e do Caribe.
No artigo intitulado “Elections in Brazil and the US Intelligence Community” (Eleições no Brasil e a comunidade de inteligência dos EUA), assinado pelo analista Nil Nikandrov, a instituição lembra que “o Brasil nunca pediu permissão para afirmar o seu direito à soberania e à posição de independência na política internacional em causa ao longo dos oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e era amplamente esperado que G. Bush acabaria por perder a paciência e tentar domar o líder brasileiro. Nada disso aconteceu, embora, evidentemente, porque os EUA se sentiram sobrecarregados demais com problemas com a Venezuela para ficar trancado em um conflito adicional na América Latina”.
A Strategic Culture Foundation aborda a questão geopolítica mundial
Leia os principais trechos do artigo:
“Falando aos diplomatas e agentes de inteligência na Embaixada dos EUA no Brasil em março de 2010, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, enfatizou: ‘Na administração Obama, estamos tentando aprofundar e alargar as nossas relações com um certo número de países estratégicos e o Brasil está no topo da lista. Este é um país que realmente importa. E é um país que está tentando muito duro para cumprir a sua promessa ao seu povo de um futuro melhor. E assim, juntos, os Estados Unidos e o Brasil têm que liderar o caminho para os povos deste hemisfério’.
Vale ressaltar que H. Clinton credita ao Brasil nada menos do que o direito de mostrar o caminho para outras nações, embora de mãos dadas com Washington. Para este último, o caminho é o de suprimir as iniciativas socialistas em todo o continente, de se abster de juntar projetos de integração regional, a menos que sejam patrocinados pelos EUA, para se opor aos esforços dos populistas que visam formar um bloco latino-americano de defesa, e para impedir a crescente expansão econômica chinesa.
Os EUA nomeou o ex-chefe do Departamento de Estado de Assuntos do Hemisfério Ocidental e um passaporte diplomático, com uma reputação dúbia, Thomas A. Shannon, como novo embaixador para o Brasil às vésperas das eleições no país. Ele se esforçou para convencer o presidente do Brasil para alinhar o país com os EUA e a adotar políticas internacionais menos independentes. Washington ofereceu vantagens ao Brasil, como maior cooperação na produção de combustíveis renováveis, consentiu em que se estabeleça uma divisão da Boeing no país, e assinou uma série de acordos com as indústrias de defesa brasileira, incluindo a comissão de 200 aviões Tucano para a Força Aérea dos EUA.
O presidente Lula não aceitou. Ele teimosamente manteve a parceria com H. Chávez e Morales J. (Hugo Chávez e Evo Morales), esteve em Havana e Teerã, condenou o golpe pró-EUA em Honduras, e até mesmo se comprometeu a desenvolver um setor nacional de energia nuclear. Ele propôs Dilma Rousseff – uma candidata séria, para esperar para orientar um curso da mesma forma independente – como sua sucessora. É alarmante para Washington. Dilma era membro do Partido Comunista e integrou a Vanguarda Armada Revolucionária (o nome correto é Vanguarda Popular Revolucionária, VPR) – nomeadamente, com o pseudônimo de Joana d’Arc, na década de 1970. Ela foi traída por um agente do governo, depois presa, torturada sob os métodos que a CIA ensinou na Escola das Américas, e teve que passar três anos na cadeia. Por isso, mesmo décadas depois, Rousseff não é a pessoa da qual se possa esperar que seja uma grande fã dos EUA.
A campanha de Dilma ganhou força gradualmente e as sondagens começaram a dar-lhe um lugar na corrida à frente do candidato de direita, José Serra. Jornalistas ‘amigos-da-américa (do norte)’ e agentes da CIA sondaram a sua disponibilidade para forjar um acordo secreto com Washington e então descobriu-se que o plano não teve chance, porque Rousseff firmemente prometera fidelidade ao curso do presidente Lula. A CIA reagiu à tentativa de manchar Rousseff, e os meios de comunicação de imediato lançaram o mito sobre o seu extremismo. Encontraram informantes da polícia, que posaram como ‘testemunhas’ de seu envolvimento em assaltos a bancos, para os quais pretendia pegar o dinheiro para apoiar o terrorismo no Brasil. A mídia conservadora travara uma guerra de classificações e elogios em coro pró-EUA, José Serra como o incontestado favorito e Dilma como um rival puramente nominal. Estabilizada a situação, no entanto, Dilma Rousseff finalmente emergiu como a líder da campanha, graças a um apoio pessoal do presidente Lula.
Ainda assim, a pontuação de Rousseff caiu de 3% a 4%, tirando a chance de vencer ainda no primeiro turno das eleições. O resultado do segundo turno dependerá em grande parte dos defensores de Marina da Silva Vaz de Lima, do Partido Verde, que ocupou o terceiro lugar nas eleições, com 19% dos votos. A guerra entre os militantes do PV está declarada e Shannon irá tentar de todos os meios para quebrar uma aliança entre Serra e Silva.
O time de Dilma visivelmente perdeu o tom triunfalista inicial – o segundo turno é um jogo difícil, e o adversário de seu candidato está implicitamente apoiado por um império poderoso e cheio de recursos que é conhecido por ter impulsionado rotineiramente candidatos à esperança para a vitória. A mídia no Brasil – O Globo, as editoras Abril, como Folha de S. Paulo e a revista Veja – está ocupada em lavagem cerebral do eleitorado do país.
A equipe de Shannon está enfrentando a missão de ajudar ‘novas forças’ menos propensas a desafiar Washington e ajudar a obter um controle sobre o poder no Brasil. A CIA emprega ex-policiais brasileiros demitidos de seus cargos por várias razões, para fazer o trabalho de campo como a vigilância, as invasões a apartamentos, roubos de dados de computador, e chantagem. Na maioria dos casos, estes são os indivíduos com tendências ultradireitistas que consideram Serra como seu candidato. Ministérios do Brasil, comunidades de inteligência e complexo militar-industrial estão fortemente infiltrados por agentes dos EUA. A embaixada dos EUA e o pessoal do consulado no Brasil incluem cerca de 40 dentre a CIA, DEA, FBI, agentes de inteligência e do exército, e têm planos para abrir 10 novos consulados nas principais cidades do Brasil, como Manaus, na Amazônia.
Embora o Departamento de Estado dos EUA esteja empenhado em reduzir o tamanho da representação diplomática no mundo, em um esforço para cortar despesas orçamentárias, o Brasil continua sendo uma exceção à regra. O país tem um potencial para se estabelecer como uma força contrária na geopolítica para os EUA, no Hemisfério Ocidental, dentro dos próximos 15 a 20 anos e as administrações dos EUA – tanto republicanas quanto democratas – estão preocupadas com a tarefa de impedi-lo de assumir o papel”.
Tradução: CdB
Não bastasse o governador eleito do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, denunciar “uma campanha de golpismo político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar as ofensivas” contra o então governo estabelecido, o jornal da Strategic Culture Foundation – a partir de sua seção norte-americana, especializada em geopolítica – publicou, nesta semana, reflexão na qual avalia o esforço dos setores mais conservadores dos EUA para denegrir as “imaturas” democracias da América Latina e do Caribe.
No artigo intitulado “Elections in Brazil and the US Intelligence Community” (Eleições no Brasil e a comunidade de inteligência dos EUA), assinado pelo analista Nil Nikandrov, a instituição lembra que “o Brasil nunca pediu permissão para afirmar o seu direito à soberania e à posição de independência na política internacional em causa ao longo dos oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e era amplamente esperado que G. Bush acabaria por perder a paciência e tentar domar o líder brasileiro. Nada disso aconteceu, embora, evidentemente, porque os EUA se sentiram sobrecarregados demais com problemas com a Venezuela para ficar trancado em um conflito adicional na América Latina”.
A Strategic Culture Foundation aborda a questão geopolítica mundial
Leia os principais trechos do artigo:
“Falando aos diplomatas e agentes de inteligência na Embaixada dos EUA no Brasil em março de 2010, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, enfatizou: ‘Na administração Obama, estamos tentando aprofundar e alargar as nossas relações com um certo número de países estratégicos e o Brasil está no topo da lista. Este é um país que realmente importa. E é um país que está tentando muito duro para cumprir a sua promessa ao seu povo de um futuro melhor. E assim, juntos, os Estados Unidos e o Brasil têm que liderar o caminho para os povos deste hemisfério’.
Vale ressaltar que H. Clinton credita ao Brasil nada menos do que o direito de mostrar o caminho para outras nações, embora de mãos dadas com Washington. Para este último, o caminho é o de suprimir as iniciativas socialistas em todo o continente, de se abster de juntar projetos de integração regional, a menos que sejam patrocinados pelos EUA, para se opor aos esforços dos populistas que visam formar um bloco latino-americano de defesa, e para impedir a crescente expansão econômica chinesa.
Os EUA nomeou o ex-chefe do Departamento de Estado de Assuntos do Hemisfério Ocidental e um passaporte diplomático, com uma reputação dúbia, Thomas A. Shannon, como novo embaixador para o Brasil às vésperas das eleições no país. Ele se esforçou para convencer o presidente do Brasil para alinhar o país com os EUA e a adotar políticas internacionais menos independentes. Washington ofereceu vantagens ao Brasil, como maior cooperação na produção de combustíveis renováveis, consentiu em que se estabeleça uma divisão da Boeing no país, e assinou uma série de acordos com as indústrias de defesa brasileira, incluindo a comissão de 200 aviões Tucano para a Força Aérea dos EUA.
O presidente Lula não aceitou. Ele teimosamente manteve a parceria com H. Chávez e Morales J. (Hugo Chávez e Evo Morales), esteve em Havana e Teerã, condenou o golpe pró-EUA em Honduras, e até mesmo se comprometeu a desenvolver um setor nacional de energia nuclear. Ele propôs Dilma Rousseff – uma candidata séria, para esperar para orientar um curso da mesma forma independente – como sua sucessora. É alarmante para Washington. Dilma era membro do Partido Comunista e integrou a Vanguarda Armada Revolucionária (o nome correto é Vanguarda Popular Revolucionária, VPR) – nomeadamente, com o pseudônimo de Joana d’Arc, na década de 1970. Ela foi traída por um agente do governo, depois presa, torturada sob os métodos que a CIA ensinou na Escola das Américas, e teve que passar três anos na cadeia. Por isso, mesmo décadas depois, Rousseff não é a pessoa da qual se possa esperar que seja uma grande fã dos EUA.
A campanha de Dilma ganhou força gradualmente e as sondagens começaram a dar-lhe um lugar na corrida à frente do candidato de direita, José Serra. Jornalistas ‘amigos-da-américa (do norte)’ e agentes da CIA sondaram a sua disponibilidade para forjar um acordo secreto com Washington e então descobriu-se que o plano não teve chance, porque Rousseff firmemente prometera fidelidade ao curso do presidente Lula. A CIA reagiu à tentativa de manchar Rousseff, e os meios de comunicação de imediato lançaram o mito sobre o seu extremismo. Encontraram informantes da polícia, que posaram como ‘testemunhas’ de seu envolvimento em assaltos a bancos, para os quais pretendia pegar o dinheiro para apoiar o terrorismo no Brasil. A mídia conservadora travara uma guerra de classificações e elogios em coro pró-EUA, José Serra como o incontestado favorito e Dilma como um rival puramente nominal. Estabilizada a situação, no entanto, Dilma Rousseff finalmente emergiu como a líder da campanha, graças a um apoio pessoal do presidente Lula.
Ainda assim, a pontuação de Rousseff caiu de 3% a 4%, tirando a chance de vencer ainda no primeiro turno das eleições. O resultado do segundo turno dependerá em grande parte dos defensores de Marina da Silva Vaz de Lima, do Partido Verde, que ocupou o terceiro lugar nas eleições, com 19% dos votos. A guerra entre os militantes do PV está declarada e Shannon irá tentar de todos os meios para quebrar uma aliança entre Serra e Silva.
O time de Dilma visivelmente perdeu o tom triunfalista inicial – o segundo turno é um jogo difícil, e o adversário de seu candidato está implicitamente apoiado por um império poderoso e cheio de recursos que é conhecido por ter impulsionado rotineiramente candidatos à esperança para a vitória. A mídia no Brasil – O Globo, as editoras Abril, como Folha de S. Paulo e a revista Veja – está ocupada em lavagem cerebral do eleitorado do país.
A equipe de Shannon está enfrentando a missão de ajudar ‘novas forças’ menos propensas a desafiar Washington e ajudar a obter um controle sobre o poder no Brasil. A CIA emprega ex-policiais brasileiros demitidos de seus cargos por várias razões, para fazer o trabalho de campo como a vigilância, as invasões a apartamentos, roubos de dados de computador, e chantagem. Na maioria dos casos, estes são os indivíduos com tendências ultradireitistas que consideram Serra como seu candidato. Ministérios do Brasil, comunidades de inteligência e complexo militar-industrial estão fortemente infiltrados por agentes dos EUA. A embaixada dos EUA e o pessoal do consulado no Brasil incluem cerca de 40 dentre a CIA, DEA, FBI, agentes de inteligência e do exército, e têm planos para abrir 10 novos consulados nas principais cidades do Brasil, como Manaus, na Amazônia.
Embora o Departamento de Estado dos EUA esteja empenhado em reduzir o tamanho da representação diplomática no mundo, em um esforço para cortar despesas orçamentárias, o Brasil continua sendo uma exceção à regra. O país tem um potencial para se estabelecer como uma força contrária na geopolítica para os EUA, no Hemisfério Ocidental, dentro dos próximos 15 a 20 anos e as administrações dos EUA – tanto republicanas quanto democratas – estão preocupadas com a tarefa de impedi-lo de assumir o papel”.
Tradução: CdB
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
COMANDANTE TOLEDO: HERÓI DO POVO BRASILEIRO
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Ministro Paulo Vannuchi discursa, tendo ao lado, presidindo a sessão, Edmar José de Oliveira, vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça |
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Momento solene e emocionante quando a plateia, de pé, ouve o pedido de desculpas do Estado brasileiro, grita "Joaquim Câmara Ferreira, presente!" e aplaude demoradamente |
Joaquim Câmara Ferreira, paulista de Jaboticabal, aos 57 anos, em 23 de outubro de 1970, foi preso e assassinado sob tortura. Era militante político, comunista, desde os 18 anos, quando estudante de Engenharia. Filiou-se em 1931 ao Partido Comunista do Brasil (que mudou para Partido Comunista Brasileiro, PCB), o chamado Partidão. Após o golpe de 1964, entrou em choque com a linha pacífica do PCB, virou dissidente, aderiu à luta armada e terminou na ALN. Ficou conhecido por um público mais amplo como o comandante político do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, em 1969, ação feita em associação com militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Das reviravoltas da história: um “terrorista” vira patriota
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A relatora Rita Maria Sipahi lê o seu voto, seguido pelos demais membros da comissão |
O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência, participou da abertura da sessão e destacou o empenho do governo de Lula em avançar nos processos de anistia – já foram julgados, segundo ele, em torno de 60 mil processos e já foram feitas as chamadas caravanas em quase todos os estados. Aproveitou para lembrar que quando era estudante universitário, militante da ALN em São Paulo, foi encarregado de montar um “aparelho” para hospedar um tal de “Valter”, um quadro importante da organização, o qual, veio a saber depois, era o famoso Comandante Toledo (os militantes na atuação clandestina usavam diferentes codinomes, a depender do lugar e da missão, tentando dificultar o trabalho da repressão). O então jovem estudante acabou não o conhecendo pessoalmente, porque o trabalho terminou sendo feito por outro companheiro.
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Clara Charf, viúva de Carlos Marighella (ao lado, o filho do criador da ALN. Tem o mesmo nome do pai e é conhecido em Salvador, onde mora, como Carlinhos Marighella) |
Memória da guerrilha: como comprar um carro com dinheiro miúdo
Quem também arrancou algumas recordações de mais de 40 anos atrás foi Guiomar Silva Lopes, hoje professora universitária. Recordou, por exemplo, que tinha em torno de 24 anos, no final da década de 60, integrante da ALN, e teve a missão de comprar um carro para ser usado por Toledo, que estava chegando de Cuba e precisava de toda a atenção e proteção por parte dos membros da organização. Ela guarda na memória a estranheza manifestada pelo vendedor do carro ao receber o pagamento todo em espécie, dinheiro vivo, incluindo dinheiro miúdo. Era dinheiro conseguido nos assaltos a bancos.
Já o historiador José Luís Del Roio, em meio a tantos adjetivos elogiosos, preferiu uma qualificação: Joaquim Câmara Ferreira foi “um bom comunista”. E concentrou-se em ressaltar sua grande atuação como jornalista, já que dirigiu jornais do PCB, nas décadas de 40/50, como o jornal Hoje, que depois de fechado foi reaberto com o nome Notícias de Hoje. Del Roio explicou que não eram simples jornais partidárias com a dimensão que se imagina com a realidade atual, e sim jornais diários, de grandes tiragens, com noticiário amplo e diversificado, inclusive na parte cultural e internacional, tanto assim que chegaram a alcançar tiragens maiores do que o Estadão na época. Jornais que travaram lutas memoráveis contra o imperialismo, em favor da industrialização do Brasil, pela criação da Petrobrás, etc.
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Da esq. para dir.: Denise Fraenkel-Kose (filha de Toledo), Alípio Freire, José Luís Del Roio, Luiz Henrique de Castro e Silva e Guiomar Lopes |
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Edwiges Cardieri e Roberto Ferreira, irmã e filho de Toledo |
Como parte dos eventos organizados para marcar os 40 anos da morte do militante comunista, a Câmara Municipal de São Paulo concedeu-lhe o Diploma de Gratidão e Medalha Anchieta. A iniciativa da homenagem foi do vereador Ítalo Cardoso, do PT, e a sessão solene aconteceu no dia 14 de outubro. E na sexta-feira, dia 22, foram colocadas flores em seu túmulo, no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
OS RISCOS NA RETA FINAL DA ELEIÇÃO
Por Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador (postado no sábado, dia 23)
Pesquisas internas do PT – avisa-me um colega muito bem informado - mostram que a diferença entre Dilma e Serra segue a se alargar: nesse fim-de-semana, em votos válidos, o resultado é Dilma 57% x Serra 43%.
Desde o debate na “Band” – quando partiu para o confronto, e mudou a pauta do segundo turno – a tendência tem sido essa. O que aparece nas pesquisas Ibope, DataFolha e Vox Populi da última semana - que apontam vantagem entre 10 e 12 pontos para Dilma. Só o Sensus trouxe um levantamento diferente, com vantagem de 5 pontos.
A última capa da “Veja” – que muitos viam como ameaça para Dilma – foi apenas mais um factóide, sem importância, que não para em pé. Além disso, nas bancas de todo o país, estará exposta ao lado da “Istoé” e da “CartaCapital” – que trazem capas desfavoráveis a Serra. Nese terreno, o jogo está empatado. O progama de TV de Dilma segue melhor.
Então, qual seria a aposta de Serra para virar o jogo? Como sempre, a aposta está nas sombras.
Escrevi há alguns dias um texto sobre as “Cinco Ondas” da campanha negativa contra Dilma. O texto está aqui (quem quiser lincar, tem que ir ao blog do Rodrigo). O desdobramento final dessa campanha de medo e boatos (ou seja, a ”Quinta Onda”) seria ”mostrar” ao eleitor que a “Dilma terrorista” e o “PT contra as liberdades” não são apenas boatos. A Quinta Onda, pra dar resultado, precisa gerar fatos. Não pode viver só de boatos.
Serra parece ter chegado à Quinta Onda, com o factóide da bolinha de papel em Campo Grande. Caiu no ridículo, é verdade. Mas a mensagem que interessa a ele segue no ar (especialmente na Globo): “os petistas agridem, são violentos”.
Por isso, o grande risco dessa reta final é a criação de um factóide de maior gravidade: temo muito pelo que possa acontecer no Rio nesse domingo, com passeatas do PT e PSDB marcadas para o mesmo dia (felizmente, o PT mandou cancelar qualquer atividade na zona sul, onde os tucanos vão marchar).
Serra precisa de tumulto, de militantes tucanos feridos. Ou até de uma agressão mais grave contra ele mesmo. Imaginem só, entrar na última semana de eleição com essa pauta: “PT violento”, “a turma da Dilma é terrorista”. Imaginem Serra com um curativo na cabeça no debate da Globo!
A emissora dirigida por Ali Kamel já mostrou que não terá limites na tarefa de reverberar a onda serrista – seja ela qual for.
Serra quer criar tumulto. Serra precisa do tumulto. Só o tumulto salva Serra.
Não é por outro motivo que o vice dele, Indio da Costa, encomendou uma pesquisa ao grupo GPP – como nos alertou o Renato Rovai em seu blog. Normalmente, partidos e politicos encomendam pesquisas não para divulgá-las, mas para uso interno – para ajudar a traçar estratégias de campanha. Essa pesquisa do Indio é diferente, foi registrada no TSE. Ou seja, ele contratou a pesquisa para divulgar na reta final.
Por que? Qual a lógica?
Evidentemente, para provocar dúvida, confusão, para arrancar – na marra – um resultado que seja mais favorável aos demo-tucanos.
Pesquisas contraditórias na reta final seriam um ingrediente perfeito para quem – desde o começo – apostou numa linha “Bush” de campanha. Lembremos que Bush ganhou a primeira eleição (contra Al Gore) na base da confusão, com o tapetão na Flórida.
Humildemente, acho que a campanha de Dilma deveria ficar atenta para esse tripé: tumultos forjados/pesquisas estranhas/urnas eletrônicas. É o que resta para os adversários. E o trio Serra-Indio-Globo já mostrou nessa campanha que não tem limites.
Por isso, apesar do amplo favoritismo de Dilma, sigo a afirmar: é preciso estar preparado para qualquer coisa na última semana da eleição.
(Muito interessante o artigo, do mesmo Rodrigo Vianna, O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel, falando da reação dos jornalistas na redação da TV Globo em São Paulo, onde Rodrigo trabalhou, diante da matéria em que a emissora tentou mostrar que um outro objeto, além da bola de papel, teria atingido a careca de Serra. Li no blog Conversa Afiada, com o título Até jornalistas do JN vaiam Ali Kamel).
Pesquisas internas do PT – avisa-me um colega muito bem informado - mostram que a diferença entre Dilma e Serra segue a se alargar: nesse fim-de-semana, em votos válidos, o resultado é Dilma 57% x Serra 43%.
Desde o debate na “Band” – quando partiu para o confronto, e mudou a pauta do segundo turno – a tendência tem sido essa. O que aparece nas pesquisas Ibope, DataFolha e Vox Populi da última semana - que apontam vantagem entre 10 e 12 pontos para Dilma. Só o Sensus trouxe um levantamento diferente, com vantagem de 5 pontos.
A última capa da “Veja” – que muitos viam como ameaça para Dilma – foi apenas mais um factóide, sem importância, que não para em pé. Além disso, nas bancas de todo o país, estará exposta ao lado da “Istoé” e da “CartaCapital” – que trazem capas desfavoráveis a Serra. Nese terreno, o jogo está empatado. O progama de TV de Dilma segue melhor.
Então, qual seria a aposta de Serra para virar o jogo? Como sempre, a aposta está nas sombras.
Escrevi há alguns dias um texto sobre as “Cinco Ondas” da campanha negativa contra Dilma. O texto está aqui (quem quiser lincar, tem que ir ao blog do Rodrigo). O desdobramento final dessa campanha de medo e boatos (ou seja, a ”Quinta Onda”) seria ”mostrar” ao eleitor que a “Dilma terrorista” e o “PT contra as liberdades” não são apenas boatos. A Quinta Onda, pra dar resultado, precisa gerar fatos. Não pode viver só de boatos.
Serra parece ter chegado à Quinta Onda, com o factóide da bolinha de papel em Campo Grande. Caiu no ridículo, é verdade. Mas a mensagem que interessa a ele segue no ar (especialmente na Globo): “os petistas agridem, são violentos”.
Por isso, o grande risco dessa reta final é a criação de um factóide de maior gravidade: temo muito pelo que possa acontecer no Rio nesse domingo, com passeatas do PT e PSDB marcadas para o mesmo dia (felizmente, o PT mandou cancelar qualquer atividade na zona sul, onde os tucanos vão marchar).
Serra precisa de tumulto, de militantes tucanos feridos. Ou até de uma agressão mais grave contra ele mesmo. Imaginem só, entrar na última semana de eleição com essa pauta: “PT violento”, “a turma da Dilma é terrorista”. Imaginem Serra com um curativo na cabeça no debate da Globo!
A emissora dirigida por Ali Kamel já mostrou que não terá limites na tarefa de reverberar a onda serrista – seja ela qual for.
Serra quer criar tumulto. Serra precisa do tumulto. Só o tumulto salva Serra.
Não é por outro motivo que o vice dele, Indio da Costa, encomendou uma pesquisa ao grupo GPP – como nos alertou o Renato Rovai em seu blog. Normalmente, partidos e politicos encomendam pesquisas não para divulgá-las, mas para uso interno – para ajudar a traçar estratégias de campanha. Essa pesquisa do Indio é diferente, foi registrada no TSE. Ou seja, ele contratou a pesquisa para divulgar na reta final.
Por que? Qual a lógica?
Evidentemente, para provocar dúvida, confusão, para arrancar – na marra – um resultado que seja mais favorável aos demo-tucanos.
Pesquisas contraditórias na reta final seriam um ingrediente perfeito para quem – desde o começo – apostou numa linha “Bush” de campanha. Lembremos que Bush ganhou a primeira eleição (contra Al Gore) na base da confusão, com o tapetão na Flórida.
Humildemente, acho que a campanha de Dilma deveria ficar atenta para esse tripé: tumultos forjados/pesquisas estranhas/urnas eletrônicas. É o que resta para os adversários. E o trio Serra-Indio-Globo já mostrou nessa campanha que não tem limites.
Por isso, apesar do amplo favoritismo de Dilma, sigo a afirmar: é preciso estar preparado para qualquer coisa na última semana da eleição.
(Muito interessante o artigo, do mesmo Rodrigo Vianna, O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel, falando da reação dos jornalistas na redação da TV Globo em São Paulo, onde Rodrigo trabalhou, diante da matéria em que a emissora tentou mostrar que um outro objeto, além da bola de papel, teria atingido a careca de Serra. Li no blog Conversa Afiada, com o título Até jornalistas do JN vaiam Ali Kamel).
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
FOTOS DO BANDEIRAÇO PRÓ-DILMA EM SÃO PAULO
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Entrando pela Rua Líbero Badaró |
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Passando pelo tradicional Largo do São Francisco, defronte da Faculdade de Direito |
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Chegando à Praça da Sé |
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Em frente à Catedral da Sé |
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Foto para marcar o rolo entre política e religião, a partir da baixaria criada pela extrema- direita serrista, com a ajuda da TV Globo, Veja e os jornalões Folha, Estadão e O Globo |
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
O CASO DO CANDIDATO DE MARÍLIA. E O QUE VEM POR AÍ
Por Luiz Carlos Azenha, do blog Vi o Mundo (postado nesta quinta, dia 21)
Eu era, então, um jovem repórter de TV. Trabalhava na TV Bauru, uma afiliada da Globo. Participei da cobertura das eleições municipais de 1982. A emissora era a responsável pela cobertura da disputa em um número imenso de municípios de toda a região.
Marília era uma destas cidades. Os principais candidatos eram os do PDS (sucessor da Arena, que deu sustentação ao regime militar) e do MDB.
O chefe de reportagem era Luís Malavolta, de quem fui colega posteriormente na Globo de São Paulo e sou agora, na Record.
Faltando pouco tempo para a votação, o candidato do PDS declarou que tinha sido agredido por apoiadores do candidato do MDB. Apareceu todo cheio de gesso, sentado em uma cadeira de rodas. Não era eu o repórter do caso, mas a emissora fez imagens e pretendia levá-las ao ar no Jornal das Sete, um noticiário de âmbito regional. O candidato do MDB, ao saber disso, ligou desesperado para denunciar que se tratava de uma farsa pré-eleitoral. Se não me engano, a solução foi gravar uma entrevista dele por telefone fazendo a denúncia, para acompanhar as imagens.
O candidato do MDB venceu.
Acompanhei outras campanhas sujas. À distância, em Nova York (eu já era correspondente da TV Manchete), a vitória de Collor de Melo sobre Lula.
Em 2006, como repórter da Globo, a tentativa de “derrubar” Lula pelo voto.
Em 2008, talvez a mais suja, travada entre John McCain e Barack Obama, nos Estados Unidos. Teve de tudo: boatos, calúnias, “incidentes” forjados (Obama estudou em uma madrassa na Indonésia, Obama se nega a colocar a bandeira dos Estados Unidos na lapela do paletó, Obama ligado a um pastor “radical”, Obama associado a um terrorista, vídeos falsificados, montagens, ligações disparadas por robôs, etc).
A deste ano, no Brasil, está rapidamente se tornando a mais suja de todas as que testemunhei.
O que esperar na reta final? Mais do mesmo.
Teremos mais dez dias de denúncias na mídia contra a candidata Dilma Rousseff, com certeza.
E, prevê um colega que é do ramo, dependendo do andamento das pesquisas teremos mais um ou dois grandes incidentes. Ele acredita que os “incidentes” vão acontecer no Rio de Janeiro, pela presença na cidade da TV Globo e por se tratar de um estado decisivo para as eleições de 2010.
Trata-se, obviamente, de um exercício de futurologia. A campanha de José Serra entregou-se definitivamente à extrema direita e, para ter alguma chance no dia 31, provocará episódios suficientemente fortes para insuflar seus apoiadores de classe média.
Espero que ele esteja errado.
QUE SERIA DESTE MUNDO SEM MILITANTES?
(Trecho de um discurso de Pepe Mujica, militante de esquerda, ex-guerrilheiro e atual presidente do Uruguai. Foi citado em comentário de Laurita Salles, no blog Vi o Mundo, que, por sua vez, disse estar reproduzindo comentário de Vanessa no Blog do Rodrigo).
“Que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e super-mulheres e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu. Vêm entregar a alma por um punhado de sonhos. Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano. Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente”.
Eu era, então, um jovem repórter de TV. Trabalhava na TV Bauru, uma afiliada da Globo. Participei da cobertura das eleições municipais de 1982. A emissora era a responsável pela cobertura da disputa em um número imenso de municípios de toda a região.
Marília era uma destas cidades. Os principais candidatos eram os do PDS (sucessor da Arena, que deu sustentação ao regime militar) e do MDB.
O chefe de reportagem era Luís Malavolta, de quem fui colega posteriormente na Globo de São Paulo e sou agora, na Record.
Faltando pouco tempo para a votação, o candidato do PDS declarou que tinha sido agredido por apoiadores do candidato do MDB. Apareceu todo cheio de gesso, sentado em uma cadeira de rodas. Não era eu o repórter do caso, mas a emissora fez imagens e pretendia levá-las ao ar no Jornal das Sete, um noticiário de âmbito regional. O candidato do MDB, ao saber disso, ligou desesperado para denunciar que se tratava de uma farsa pré-eleitoral. Se não me engano, a solução foi gravar uma entrevista dele por telefone fazendo a denúncia, para acompanhar as imagens.
O candidato do MDB venceu.
Acompanhei outras campanhas sujas. À distância, em Nova York (eu já era correspondente da TV Manchete), a vitória de Collor de Melo sobre Lula.
Em 2006, como repórter da Globo, a tentativa de “derrubar” Lula pelo voto.
Em 2008, talvez a mais suja, travada entre John McCain e Barack Obama, nos Estados Unidos. Teve de tudo: boatos, calúnias, “incidentes” forjados (Obama estudou em uma madrassa na Indonésia, Obama se nega a colocar a bandeira dos Estados Unidos na lapela do paletó, Obama ligado a um pastor “radical”, Obama associado a um terrorista, vídeos falsificados, montagens, ligações disparadas por robôs, etc).
A deste ano, no Brasil, está rapidamente se tornando a mais suja de todas as que testemunhei.
O que esperar na reta final? Mais do mesmo.
Teremos mais dez dias de denúncias na mídia contra a candidata Dilma Rousseff, com certeza.
E, prevê um colega que é do ramo, dependendo do andamento das pesquisas teremos mais um ou dois grandes incidentes. Ele acredita que os “incidentes” vão acontecer no Rio de Janeiro, pela presença na cidade da TV Globo e por se tratar de um estado decisivo para as eleições de 2010.
Trata-se, obviamente, de um exercício de futurologia. A campanha de José Serra entregou-se definitivamente à extrema direita e, para ter alguma chance no dia 31, provocará episódios suficientemente fortes para insuflar seus apoiadores de classe média.
Espero que ele esteja errado.
QUE SERIA DESTE MUNDO SEM MILITANTES?
(Trecho de um discurso de Pepe Mujica, militante de esquerda, ex-guerrilheiro e atual presidente do Uruguai. Foi citado em comentário de Laurita Salles, no blog Vi o Mundo, que, por sua vez, disse estar reproduzindo comentário de Vanessa no Blog do Rodrigo).
“Que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e super-mulheres e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu. Vêm entregar a alma por um punhado de sonhos. Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano. Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente”.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
“NÃO HÁ NADA MAIS REVOLUCIONÁRIO QUE A VIDA”
De São Paulo (SP) - Extraído do sítio de Carta Maior, vai a seguir o texto do poema Os Filhos da Paixão, de Pedro Tierra (foto), recitado na noite do dia 18, durante o ato dos artistas e intelectuais em apoio à candidatura de Dilma Rousseff, no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro (por falar nisso, uma boa para quem não assistiu, é o vídeo postado no blog Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha, com o discurso de Leonardo Boff e umas palavrinhas de Chico Buarque). O título acima – um verso do poema – é deste blog.
Pedro Tierra é o nome pelo qual é conhecido o poeta Hamilton Pereira, nascido em 1948 na cidade de Porto Nacional (Tocantins). Tem oito livros publicados. Foi lutador contra a ditadura e preso político. Militou na Ação Libertadora Nacional, a aguerrida ALN criada por Carlos Marighella. Depois se tornou militante do sindicalismo rural e do PT. Foi secretário de Cultura do governo do Distrito Federal na gestão de Cristovam Buarque.
OS FILHOS DA PAIXÃO
Nascemos num campo de futebol.
Haverá berço melhor para dar à luz uma estrela?
Aprendemos que os donos do país só nos ouviam
quando cessava o rumor da última máquina...
quando cantava o arame cortado da última cerca.
Carregamos no peito, cada um, batalhas incontáveis.
Somos a perigosa memória das lutas.
Projetamos a perigosa imagem do sonho.
Nada causa mais horror à ordem
do que homens e mulheres que sonham.
Nós sonhamos. E organizamos o sonho.
Nascemos negros, nordestinos, nisseis, índios,
mulheres, mulatas, meninas de todas as cores,
filhos, netos de italianos, alemães, árabes, judeus,
portugueses, espanhóis, poloneses, tantos...
Nascemos assim, desiguais, como todos os sonhos humanos.
Fomos batizados na pia, na água dos rios, nos terreiros.
Fomos, ao nascer, condenados a amar a diferença.
A amar os diferentes.
Viemos da margem.
Somos a anti-sinfonia
que estorna da estreita pauta da melodia.
Não cabemos dentro da moldura...
Somos dilacerados como todos os filhos da paixão.
Briguentos. Desaforados. Unidos. Livres:
como meninos de rua.
Quando o inimigo não fustiga
inventamos nossas próprias guerras.
Desenvolvemos um talento prodigioso para elas.
Com nossas mãos, sonhos, desavenças compomos um rosto de peão,
uma voz rouca de peão,
o desassombro dos peões para oferecer ao país,
para disputar o país.
Por sua boca dissemos na fábrica, nas praças, nos estádios
que este país não tem mais donos.
Em 84 viramos multidão, inundamos as ruas,
somamos nosso grito ao grito de todos,
depois gritamos sozinhos
e choramos a derrota sob nossas bandeiras.
88. Como aprender a governar,
a desenhar em cada passo, em cada gesto,
a cada dia a vida nova que nossa boca anunciou?
89. Encarnamos a tempestade.
Assombrados pela vertigem dos ventos que desatamos.
Venceu a solidez da mentira, do preconceito.
Três anos depois, pintamos a cara como tantos
e fomos pra rua com nossos filhos
inventar o arco-íris e a indignação.
Desta vez a fortaleza ruiu diante dos nossos olhos.
E só havia ratos depois dos muros.
A fortaleza agora está vazia
ou povoada de fantasmas.
O caminho que conduz a ela passa por muitos lugares.
Caravanas: pelas estradas empoeiradas,
pela esperança empoeirada do povo,
pelos mandacarus e juazeiros,
pelos seringais, pelas águas da Amazônia,
pelos parreirais e pelos pampas, pelos cerrados e pelos babaçuais,
mas sobretudo pela invencível alegria
que o rosto castigado da gente demonstra à sua passagem.
A revolução que acalentamos na juventude faltou.
A vida não. A vida não falta.
E não há nada mais revolucionário que a vida.
Fixa suas próprias regras.
Marca a hora e se põe de nós, incontornável.
Os filhos da margem têm os olhos postos sobre nós.
Eles sabem, nós sabemos que a vida não nos concederá outra oportunidade.
Hoje, temos uma cara. Uma voz. Bandeiras.
Temos sonhos organizados.
Queremos um país onde não se matem crianças
que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro.
Onde os filhos da margem tenham direito à terra,
ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança,
às histórias que povoam nossa imaginação,
às raízes da nossa alegria.
Aprendemos que a construção do Brasil
não será obra apenas de nossas mãos.
Nosso retrato futuro resultará
da desencontrada multiplicação
dos sonhos que desatamos.
Pedro Tierra
1994
Pedro Tierra é o nome pelo qual é conhecido o poeta Hamilton Pereira, nascido em 1948 na cidade de Porto Nacional (Tocantins). Tem oito livros publicados. Foi lutador contra a ditadura e preso político. Militou na Ação Libertadora Nacional, a aguerrida ALN criada por Carlos Marighella. Depois se tornou militante do sindicalismo rural e do PT. Foi secretário de Cultura do governo do Distrito Federal na gestão de Cristovam Buarque.
OS FILHOS DA PAIXÃO
Nascemos num campo de futebol.
Haverá berço melhor para dar à luz uma estrela?
Aprendemos que os donos do país só nos ouviam
quando cessava o rumor da última máquina...
quando cantava o arame cortado da última cerca.
Carregamos no peito, cada um, batalhas incontáveis.
Somos a perigosa memória das lutas.
Projetamos a perigosa imagem do sonho.
Nada causa mais horror à ordem
do que homens e mulheres que sonham.
Nós sonhamos. E organizamos o sonho.
Nascemos negros, nordestinos, nisseis, índios,
mulheres, mulatas, meninas de todas as cores,
filhos, netos de italianos, alemães, árabes, judeus,
portugueses, espanhóis, poloneses, tantos...
Nascemos assim, desiguais, como todos os sonhos humanos.
Fomos batizados na pia, na água dos rios, nos terreiros.
Fomos, ao nascer, condenados a amar a diferença.
A amar os diferentes.
Viemos da margem.
Somos a anti-sinfonia
que estorna da estreita pauta da melodia.
Não cabemos dentro da moldura...
Somos dilacerados como todos os filhos da paixão.
Briguentos. Desaforados. Unidos. Livres:
como meninos de rua.
Quando o inimigo não fustiga
inventamos nossas próprias guerras.
Desenvolvemos um talento prodigioso para elas.
Com nossas mãos, sonhos, desavenças compomos um rosto de peão,
uma voz rouca de peão,
o desassombro dos peões para oferecer ao país,
para disputar o país.
Por sua boca dissemos na fábrica, nas praças, nos estádios
que este país não tem mais donos.
Em 84 viramos multidão, inundamos as ruas,
somamos nosso grito ao grito de todos,
depois gritamos sozinhos
e choramos a derrota sob nossas bandeiras.
88. Como aprender a governar,
a desenhar em cada passo, em cada gesto,
a cada dia a vida nova que nossa boca anunciou?
89. Encarnamos a tempestade.
Assombrados pela vertigem dos ventos que desatamos.
Venceu a solidez da mentira, do preconceito.
Três anos depois, pintamos a cara como tantos
e fomos pra rua com nossos filhos
inventar o arco-íris e a indignação.
Desta vez a fortaleza ruiu diante dos nossos olhos.
E só havia ratos depois dos muros.
A fortaleza agora está vazia
ou povoada de fantasmas.
O caminho que conduz a ela passa por muitos lugares.
Caravanas: pelas estradas empoeiradas,
pela esperança empoeirada do povo,
pelos mandacarus e juazeiros,
pelos seringais, pelas águas da Amazônia,
pelos parreirais e pelos pampas, pelos cerrados e pelos babaçuais,
mas sobretudo pela invencível alegria
que o rosto castigado da gente demonstra à sua passagem.
A revolução que acalentamos na juventude faltou.
A vida não. A vida não falta.
E não há nada mais revolucionário que a vida.
Fixa suas próprias regras.
Marca a hora e se põe de nós, incontornável.
Os filhos da margem têm os olhos postos sobre nós.
Eles sabem, nós sabemos que a vida não nos concederá outra oportunidade.
Hoje, temos uma cara. Uma voz. Bandeiras.
Temos sonhos organizados.
Queremos um país onde não se matem crianças
que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro.
Onde os filhos da margem tenham direito à terra,
ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança,
às histórias que povoam nossa imaginação,
às raízes da nossa alegria.
Aprendemos que a construção do Brasil
não será obra apenas de nossas mãos.
Nosso retrato futuro resultará
da desencontrada multiplicação
dos sonhos que desatamos.
Pedro Tierra
1994
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
COMO ENFRENTAR A DIREITA MIDIÁTICA
Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania (criador do Movimento dos Sem-Mídia - MSM) – Postado em 18/10/10
Há tanto a dizer sobre o assunto que o título deste post indica que não tenho certeza de que sei por onde começar. Talvez começar pelo começo seja a melhor opção, o que nem sempre é verdade, pois, com frequência, o meio ou o fim de uma história pode ser a parte mais importante para introduzir um relato.
Mas onde começa o assunto Dilma, PT, blogosfera e debate político? Pode ser pela ausência desse debate durante os quase oito anos do governo Lula – e por iniciativa desse governo e do partido no qual teve origem, é bom dizer.
Apesar da quase súplica de setores da sociedade que, contrariando os seus interesses de classe, dedicaram-se, durante estes anos todos, a alertar o governo e o seu partido sobre a inapetência pelo debate político em que mergulharam, o alerta foi ignorado até há pouco.
Vejam os jornalistas de renome que entregaram as suas carreiras a uma causa que contraria os seus interesses profissionais. Quem, em sã consciência, pode ignorar que um jornalista confrontar a Globo, por exemplo, pode lhe hipotecar o futuro em um país em que a informação é controlada por um oligopólio?
Há, também, pessoas como este que escreve, por exemplo, que chegam a deixar de ganhar dinheiro com os seus trabalhos remunerados para militarem em uma causa da qual sabem que jamais extrairão nada, do ponto de vista material.
Será que não mereceríamos um pouco de atenção? Até porque, pessoas comuns, mas atentas e informadas, podem apontar aos que estão na arena política o que só é possível enxergar da arquibancada, digamos assim.
Alguns me dizem que não é hora de travar este debate, que deve ser deixado para depois das eleições. Discordo.
Depois das eleições será um tempo bom para essa discussão partindo da premissa de que então o desejo cívico de eleger Dilma Rousseff estará contemplado. Mas e se a falta deste debate provocar situação inversa à que se quer?
Porque ainda é tempo de corrigir rotas. Por exemplo, a rota para aqueles que se negaram a travar o debate político por anos retomarem-no agora de forma eficiente.
As condições da disputa eleitoral são, em termos, adversas a Dilma, a Lula e ao PT. Eles têm contra si aqueles que controlam a parte do leão da comunicação no Brasil. Ou melhor: os adversários têm a máquina midiática a seu favor.
É importante essa distinção porque o outro lado colhe os frutos da má relação do PT e do governo Lula com a mídia, que poderia ter má relação com o poder mas nem por isso precisaria substituir as críticas democráticas que tem inclusive o dever de fazer por legítima sabotagem para favorecer a oposição.
Não estou propondo, é claro, que tivesse havido algum tipo de acordo com a mídia, o que seria impossível. Pelo contrário: julgo que o PT e o governo Lula se encolheram demais diante dela. Poderiam ter usado, durante estes quase oito anos, a estratégia que usaram agora de cobrar investigação do outro lado, também.
Além disso, há a questão do estado emocional e psicológico de Dilma. A missão que ela aceitou foi dificílima. Sobrepujando a falta de traquejo no debate político decorrente de ter sido uma técnica a vida inteira, agora tem que lidar com aquela que talvez seja a maior raposa da direita contemporânea no Brasil.
Ao estar diante do representante da direita, Dilma está, também, diante dos seus algozes de outrora, daqueles que a seviciaram durante um dos períodos mais tristes da história deste país. O estado de espírito de quem tem sofrido uma campanha difamatória como a que se vê, portanto, não poderia mesmo estar muito serenado.
Não nos esqueçamos, também, de que Dilma é mulher, um ser de um gênero em que a emotividade anda de mãos dadas com a razão muito mais do que nos homens, em média, e que, portanto, sente mais as pancadas de uma estratégia de destruição de imagem.
Esse psicológico de Dilma tem que ser sustentado por especialistas e com técnicas amplamente existentes na psicologia. Qualquer um de nós – e mesmo os mais experientes em debates – seria beneficiado por esse instrumento. É a minha opinião sobre uma dificuldade que acho que tem que ser superada no curtíssimo prazo, pois prazo para tanto já quase não há.
Quero opinar, com sinceridade absoluta, que acho que Dilma pode vencer esta eleição. Acho que tem armas poderosas à sua disposição – um governo excelente e uma população que sente os seus benefícios. O adversário é fraco. Sustenta seu discurso em mentiras, dissimulações, omissões, fugas e trânsfugas e, sobretudo, em muita, mas muita cara-de-pau.
Vejam só o que Dilma tem à sua disposição: tudo o que Serra diz que está ruim hoje no Brasil, na época em que o tucano esteve no poder era muito pior, foi deixado muito pior e basta comparar. Dilma tinha que ter esses dados, mas não tinha – ou não se lembrou de que tinha, o que é muito pior.
Temos, agora, 13 dias para a eleição. É tempo para acontecer de tudo. A mídia deve estar preparando alguma. Não tenho a menor dúvida de que está permitindo denúncias contra Serra porque quer amealhar capital de credibilidade e de “isenção” para esgrimir quando disparar sua derradeira bala de prata contra Dilma.
Vejam como o caso Paulo Preto já vai sumindo. O caso Erenice e o da quebra de sigilo de tucanos, porém, ficaram nas manchetes principais, ininterruptamente, por semanas e semanas a fio…
Não é fácil.
É nesse ponto que se deve cobrar continuidade da cobrança de esclarecimentos de casos como o de Paulo Preto, da hipocrisia de Mônica Serra e do marido por atacarem Dilma com o que não negaram pessoalmente que fizeram (aborto), dos panfletos difamatórios contra a petista confeccionados sem CNPJ e sob firma falsa da CNBB na gráfica da irmã de um membro da campanha tucana, etc.
Dilma tampouco atentou, no debate, para o fato de que quando Serra usou as vitórias do PSDB em São Paulo para desqualificar o PT no Estado, ela poderia ter respondido que se perder eleição em um colégio eleitoral for determinar alguma coisa o PSDB perde no Brasil para o seu partido desde 2002.
Enfim, é fácil debater com Serra. Só é preciso ter serenidade. Não se trata de competência, mas de serenidade. Tenho certeza de que qualquer blogueiro ou jornalista teria destruído o tucano no debate de ontem. Já Dilma, enfrenta a imprensa com muito mais sucesso. Todavia, diante do adversário de fato ela perde o controle.
Por fim, para quem me achou pessimista, quero dizer que para uma mulher capaz de aprender tudo o que Dilma aprendeu em tão pouco tempo, agora falta pouco para ela terminar esta eleição com um debate exemplar com Serra mesmo estando na casa do adversário – no debate da Globo. Basta se acalmar.
Há tanto a dizer sobre o assunto que o título deste post indica que não tenho certeza de que sei por onde começar. Talvez começar pelo começo seja a melhor opção, o que nem sempre é verdade, pois, com frequência, o meio ou o fim de uma história pode ser a parte mais importante para introduzir um relato.
Mas onde começa o assunto Dilma, PT, blogosfera e debate político? Pode ser pela ausência desse debate durante os quase oito anos do governo Lula – e por iniciativa desse governo e do partido no qual teve origem, é bom dizer.
Apesar da quase súplica de setores da sociedade que, contrariando os seus interesses de classe, dedicaram-se, durante estes anos todos, a alertar o governo e o seu partido sobre a inapetência pelo debate político em que mergulharam, o alerta foi ignorado até há pouco.
Vejam os jornalistas de renome que entregaram as suas carreiras a uma causa que contraria os seus interesses profissionais. Quem, em sã consciência, pode ignorar que um jornalista confrontar a Globo, por exemplo, pode lhe hipotecar o futuro em um país em que a informação é controlada por um oligopólio?
Há, também, pessoas como este que escreve, por exemplo, que chegam a deixar de ganhar dinheiro com os seus trabalhos remunerados para militarem em uma causa da qual sabem que jamais extrairão nada, do ponto de vista material.
Será que não mereceríamos um pouco de atenção? Até porque, pessoas comuns, mas atentas e informadas, podem apontar aos que estão na arena política o que só é possível enxergar da arquibancada, digamos assim.
Alguns me dizem que não é hora de travar este debate, que deve ser deixado para depois das eleições. Discordo.
Depois das eleições será um tempo bom para essa discussão partindo da premissa de que então o desejo cívico de eleger Dilma Rousseff estará contemplado. Mas e se a falta deste debate provocar situação inversa à que se quer?
Porque ainda é tempo de corrigir rotas. Por exemplo, a rota para aqueles que se negaram a travar o debate político por anos retomarem-no agora de forma eficiente.
As condições da disputa eleitoral são, em termos, adversas a Dilma, a Lula e ao PT. Eles têm contra si aqueles que controlam a parte do leão da comunicação no Brasil. Ou melhor: os adversários têm a máquina midiática a seu favor.
É importante essa distinção porque o outro lado colhe os frutos da má relação do PT e do governo Lula com a mídia, que poderia ter má relação com o poder mas nem por isso precisaria substituir as críticas democráticas que tem inclusive o dever de fazer por legítima sabotagem para favorecer a oposição.
Não estou propondo, é claro, que tivesse havido algum tipo de acordo com a mídia, o que seria impossível. Pelo contrário: julgo que o PT e o governo Lula se encolheram demais diante dela. Poderiam ter usado, durante estes quase oito anos, a estratégia que usaram agora de cobrar investigação do outro lado, também.
Além disso, há a questão do estado emocional e psicológico de Dilma. A missão que ela aceitou foi dificílima. Sobrepujando a falta de traquejo no debate político decorrente de ter sido uma técnica a vida inteira, agora tem que lidar com aquela que talvez seja a maior raposa da direita contemporânea no Brasil.
Ao estar diante do representante da direita, Dilma está, também, diante dos seus algozes de outrora, daqueles que a seviciaram durante um dos períodos mais tristes da história deste país. O estado de espírito de quem tem sofrido uma campanha difamatória como a que se vê, portanto, não poderia mesmo estar muito serenado.
Não nos esqueçamos, também, de que Dilma é mulher, um ser de um gênero em que a emotividade anda de mãos dadas com a razão muito mais do que nos homens, em média, e que, portanto, sente mais as pancadas de uma estratégia de destruição de imagem.
Esse psicológico de Dilma tem que ser sustentado por especialistas e com técnicas amplamente existentes na psicologia. Qualquer um de nós – e mesmo os mais experientes em debates – seria beneficiado por esse instrumento. É a minha opinião sobre uma dificuldade que acho que tem que ser superada no curtíssimo prazo, pois prazo para tanto já quase não há.
Quero opinar, com sinceridade absoluta, que acho que Dilma pode vencer esta eleição. Acho que tem armas poderosas à sua disposição – um governo excelente e uma população que sente os seus benefícios. O adversário é fraco. Sustenta seu discurso em mentiras, dissimulações, omissões, fugas e trânsfugas e, sobretudo, em muita, mas muita cara-de-pau.
Vejam só o que Dilma tem à sua disposição: tudo o que Serra diz que está ruim hoje no Brasil, na época em que o tucano esteve no poder era muito pior, foi deixado muito pior e basta comparar. Dilma tinha que ter esses dados, mas não tinha – ou não se lembrou de que tinha, o que é muito pior.
Temos, agora, 13 dias para a eleição. É tempo para acontecer de tudo. A mídia deve estar preparando alguma. Não tenho a menor dúvida de que está permitindo denúncias contra Serra porque quer amealhar capital de credibilidade e de “isenção” para esgrimir quando disparar sua derradeira bala de prata contra Dilma.
Vejam como o caso Paulo Preto já vai sumindo. O caso Erenice e o da quebra de sigilo de tucanos, porém, ficaram nas manchetes principais, ininterruptamente, por semanas e semanas a fio…
Não é fácil.
É nesse ponto que se deve cobrar continuidade da cobrança de esclarecimentos de casos como o de Paulo Preto, da hipocrisia de Mônica Serra e do marido por atacarem Dilma com o que não negaram pessoalmente que fizeram (aborto), dos panfletos difamatórios contra a petista confeccionados sem CNPJ e sob firma falsa da CNBB na gráfica da irmã de um membro da campanha tucana, etc.
Dilma tampouco atentou, no debate, para o fato de que quando Serra usou as vitórias do PSDB em São Paulo para desqualificar o PT no Estado, ela poderia ter respondido que se perder eleição em um colégio eleitoral for determinar alguma coisa o PSDB perde no Brasil para o seu partido desde 2002.
Enfim, é fácil debater com Serra. Só é preciso ter serenidade. Não se trata de competência, mas de serenidade. Tenho certeza de que qualquer blogueiro ou jornalista teria destruído o tucano no debate de ontem. Já Dilma, enfrenta a imprensa com muito mais sucesso. Todavia, diante do adversário de fato ela perde o controle.
Por fim, para quem me achou pessimista, quero dizer que para uma mulher capaz de aprender tudo o que Dilma aprendeu em tão pouco tempo, agora falta pouco para ela terminar esta eleição com um debate exemplar com Serra mesmo estando na casa do adversário – no debate da Globo. Basta se acalmar.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
SEM-TETO FAZEM FESTA E MOSTRAM QUE CHEGARAM PARA FICAR
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Comes, bebes e muita alegria na festa do Dia da Criança |
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Avenida Ipiranga, 925, centro de São Paulo: OCUPADO |
Estão ali desde a madrugada de 3 para 4 de outubro, quando famílias organizadas pelos movimentos dos sem-teto ocuparam (de surpresa, óbvio) quatro prédios abandonados no centro de São Paulo. E bote “organizadas” nisso: a festa e a vida no dia-a-dia da nova comunidade mostram que eles estão dispostos e estruturados para ficar ali mais seis meses, um ano, dois anos, enquanto durar a negociação com a prefeitura e o governo do estado.
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Distribuição de presentes doados por fábrica da Zona Leste |
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As 297 crianças do "acampamento" tiveram um dia especial |
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Dona Maria, coordenadora do Terra de Nossa Gente (TNG), movimento filiado à Frente de Luta por Moradia (FLM) |
“O pagamento que tenho é a alegria de ver os companheiros pegar a chave”
O TNG atua há 11 anos e tem 3.800 famílias cadastradas – moram em áreas e/ou barracos de alguma forma precários, sob riscos, em encostas, brejos, vítimas preferenciais das chuvas, etc. O sonho maior na cabeça: ter uma moradia mais digna. Sua base, onde, digamos, tem a retaguarda montada é a Zona Leste. É lá, na Fazenda da Juta, que dona Maria mora, depois de 23 anos na luta dos sem-teto, 13 anos depois de ter conseguido sua casa: “Consegui minha casa e continuei na luta para ajudar os outros, não ganho nada, o pagamento que tenho é a alegria de ver os companheiros e companheiras pegar a chave”. (Ela é mineira de nascimento, foi trazida para cá com dois anos, tem segundo grau, casada, três filhas e duas netas).
A festa das crianças, por exemplo, foi feita basicamente com doações arrecadadas na Zona Leste, os brinquedos foram doados por uma fábrica lá da Zona Leste, onde trabalha um dos agora moradores da Ipiranga. A alimentação do dia-a-dia vem também de doações de ocupantes que trabalham, de familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos, inclusive de moradores e comerciantes do centro. Dona Maria conta que foram recebidos com simpatia pela gente da área.
“Aqui não tem partido nem crença religiosa, só o povo de luta”
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Horário das refeições: café da manhã, da tarde, almoço e jantar |
“Na portaria – continua dona Maria – é anotado todo mundo que sai e que entra. Aqui não entra alcoolizado, se aparecer algum drogado é expulso. Aqui não tem partido político, não tem crença religiosa, não tem essas distinções, só o povo de luta”.
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Uma das paredes internas do salão usado como "escolinha" |
“SÓ PODE SER ASSIM, SEM LUTA NÃO HÁ VITÓRIA”
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Suely com sua netinha Isabelly |
“SOMOS DA PERIFERIA, ELES (O GOVERNO) NÃO VÃO ATÉ LÁ”
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Vanderlan, baiano de Camaçari |
“NÃO SOMOS DESOCUPADOS, SOMOS NECESSITADOS”
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Ana: "Temos que lutar aqui" |
(Logo abaixo, uma seleção de fotos da festa e de detalhes internos do prédio que mostram como estão organizados)
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