Ministro Paulo Vannuchi discursa, tendo ao lado, presidindo a sessão, Edmar José de Oliveira, vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça |
Momento solene e emocionante quando a plateia, de pé, ouve o pedido de desculpas do Estado brasileiro, grita "Joaquim Câmara Ferreira, presente!" e aplaude demoradamente |
Joaquim Câmara Ferreira, paulista de Jaboticabal, aos 57 anos, em 23 de outubro de 1970, foi preso e assassinado sob tortura. Era militante político, comunista, desde os 18 anos, quando estudante de Engenharia. Filiou-se em 1931 ao Partido Comunista do Brasil (que mudou para Partido Comunista Brasileiro, PCB), o chamado Partidão. Após o golpe de 1964, entrou em choque com a linha pacífica do PCB, virou dissidente, aderiu à luta armada e terminou na ALN. Ficou conhecido por um público mais amplo como o comandante político do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, em 1969, ação feita em associação com militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Das reviravoltas da história: um “terrorista” vira patriota
A relatora Rita Maria Sipahi lê o seu voto, seguido pelos demais membros da comissão |
O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência, participou da abertura da sessão e destacou o empenho do governo de Lula em avançar nos processos de anistia – já foram julgados, segundo ele, em torno de 60 mil processos e já foram feitas as chamadas caravanas em quase todos os estados. Aproveitou para lembrar que quando era estudante universitário, militante da ALN em São Paulo, foi encarregado de montar um “aparelho” para hospedar um tal de “Valter”, um quadro importante da organização, o qual, veio a saber depois, era o famoso Comandante Toledo (os militantes na atuação clandestina usavam diferentes codinomes, a depender do lugar e da missão, tentando dificultar o trabalho da repressão). O então jovem estudante acabou não o conhecendo pessoalmente, porque o trabalho terminou sendo feito por outro companheiro.
Clara Charf, viúva de Carlos Marighella (ao lado, o filho do criador da ALN. Tem o mesmo nome do pai e é conhecido em Salvador, onde mora, como Carlinhos Marighella) |
Memória da guerrilha: como comprar um carro com dinheiro miúdo
Quem também arrancou algumas recordações de mais de 40 anos atrás foi Guiomar Silva Lopes, hoje professora universitária. Recordou, por exemplo, que tinha em torno de 24 anos, no final da década de 60, integrante da ALN, e teve a missão de comprar um carro para ser usado por Toledo, que estava chegando de Cuba e precisava de toda a atenção e proteção por parte dos membros da organização. Ela guarda na memória a estranheza manifestada pelo vendedor do carro ao receber o pagamento todo em espécie, dinheiro vivo, incluindo dinheiro miúdo. Era dinheiro conseguido nos assaltos a bancos.
Já o historiador José Luís Del Roio, em meio a tantos adjetivos elogiosos, preferiu uma qualificação: Joaquim Câmara Ferreira foi “um bom comunista”. E concentrou-se em ressaltar sua grande atuação como jornalista, já que dirigiu jornais do PCB, nas décadas de 40/50, como o jornal Hoje, que depois de fechado foi reaberto com o nome Notícias de Hoje. Del Roio explicou que não eram simples jornais partidárias com a dimensão que se imagina com a realidade atual, e sim jornais diários, de grandes tiragens, com noticiário amplo e diversificado, inclusive na parte cultural e internacional, tanto assim que chegaram a alcançar tiragens maiores do que o Estadão na época. Jornais que travaram lutas memoráveis contra o imperialismo, em favor da industrialização do Brasil, pela criação da Petrobrás, etc.
Da esq. para dir.: Denise Fraenkel-Kose (filha de Toledo), Alípio Freire, José Luís Del Roio, Luiz Henrique de Castro e Silva e Guiomar Lopes |
Edwiges Cardieri e Roberto Ferreira, irmã e filho de Toledo |
Como parte dos eventos organizados para marcar os 40 anos da morte do militante comunista, a Câmara Municipal de São Paulo concedeu-lhe o Diploma de Gratidão e Medalha Anchieta. A iniciativa da homenagem foi do vereador Ítalo Cardoso, do PT, e a sessão solene aconteceu no dia 14 de outubro. E na sexta-feira, dia 22, foram colocadas flores em seu túmulo, no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Comentários
Sandro Lobo
sandro.lobo01@gmail.com
Abraços e saudades,
Fabiano