Rafael Correa, com Jorge Glas (novo vice-presidente eleito), na celebração do triunfo na Praça da Independência, em Quito (Foto: jornal equatoriano El Telégrafo) |
Por Atilio A. Boron* - cientista político e
sociólogo argentino (reproduzido do jornal argentino Página/12, de 18/02/2013)
A esmagadora vitória de Rafael Correa, com uma porcentagem de votos e uma
diferença entre ele e seu mais imediato concorrente que bem gostariam de obter
Obama, Hollande e Rajoy, deixa algumas lições que é bom recapitular:
Primeiro, e o mais
óbvio, a ratificação do mandato popular para continuar pelo caminho traçado mas,
como disse Correa em sua entrevista coletiva à imprensa, avançando mais rápida e
profundamente. O presidente reeleito sabe que os próximos quatro anos serão cruciais
para assegurar a irreversibilidade das reformas que, ao cabo de 10 anos de gestão,
será concluída com a refundação dum Equador melhor, mais justo e mais sustentável.
Na coletiva de imprensa já aludida disse textualmente: “Ou mudamos agora o país
ou não o mudamos mais”. O projeto de criar uma ordem social baseada no
socialismo do sumak kawsay, o “bom
viver” dos nossos povos originários, exige atuar com rapidez e determinação. Mas
isto o sabem também a direita nativa e o imperialismo, e por isso se pode prever
que vão redobrar seus esforços para impedir a consolidação do processo da
“Revolução Cidadã”.
Segunda lição: que se
um governo obedece ao mandato popular e produz políticas públicas que beneficiam
as grandes maiorias nacionais – que afinal de contas se trata da democracia –, a
lealdade do eleitorado pode ocorrer com certeza. A manipulação das oligarquias
midiáticas, a conspiração das classes dominantes e os estratagemas do
imperialismo se esfarelam contra o muro da fidelidade popular.
Terceiro, e como
corolário do anterior, o esmagador triunfo de Correa demonstra que a tese conformista
tão comum dentro do pensamento político convencional, a saber: que “o poder
desgasta”, só é válida na democracia quando o poder se exerce em beneficio das
minorias endinheiradas ou quando os processos de transformação social perdem
densidade, titubeiam e terminam por deter-se. Quando, ao contrário, se governa
tendo em vista o bem-estar das vítimas do sistema, acontece o que aconteceu
ontem no Equador: enquanto na eleição presidencial de 2009 Correa ganhou no
primeiro turno com 51% dos votos, ontem o fez - com a contagem existente no
momento de escrever esta matéria (25% dos votos escrutinados) -, com 57%. Em
lugar de “desgaste”, consolidação e crescimento do poder residual.
Quarto e
último: com esta eleição se supera a paralisia de decisões gerada por uma Assembleia
(Congresso) Nacional que se opôs intransigentemente a algumas das mais
importantes iniciativas propostas por Correa. Ainda que haja até agora poucas
cifras disponíveis a respeito, não há dúvidas de que a Aliança País (partido
governista) terá a maioria absoluta dos parlamentares e com chances de alcançar
uma representação parlamentar que chegue a uma maioria qualificada de dois terços.
Conclusão: os tempos mudaram. A
ratificação plebiscitária dum presidente que iniciou um formidável processo de mudanças
sociais e econômicas dentro do Equador, que protagoniza a integração latino-americana,
que incorporou seu país à ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa
América), que pôs fim à presença estadunidense na base (militar) de Manta, que
realizou uma exemplar auditoria da dívida externa reduzindo significativamente
seu montante, que outorga asilo a Julian Assange e que retira o Equador do
Ciadi (Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos,
criado sob a égide do Banco Mundial), não é algo que se veja todos os dias. Felicitações Rafael Correa, saúde
Equador!
* Diretor
do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais (PLED),
do Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.
Tradução:
Jadson Oliveira
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