GALEANO: “NÃO QUEREMOS MORRER NEM DE FOME NEM DE TÉDIO”



Eduardo Galeano: "Esses são os vínculos mais dignos de fé: os que nascem da solidariedade" (Foto: Página/12)
De Salvador (Bahia) – Com vocês, Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, autor de vasta obra literária/política, seu livro mais conhecido é As veias abertas da América Latina. Acaba de somar mais uma entre as suas muitas premiações: recebeu o Prêmio ALBA das Letras 2012 (Alba é Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América).

Os ganhadores deste último Prêmio ALBA das Artes e Letras foram conhecidos durante o encerramento do III Encontro Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, realizado no final de janeiro em Havana (Cuba), reunindo mais de 800 intelectuais de 40 países, em homenagem ao herói da independência cubana José Martí (entre os convidados estava o ex-presidente Lula).

Transcrevo palavras de Galeano, conforme matéria do jornal argentino Página/12:

“A todos os que nos reconhecemos parte da ALBA nos move a certeza de estar contribuindo para uma tarefa de recuperação da dignidade coletiva”.

“De alguma maneira me confirma que o que a gente escreve pode ser algo mais que um desabafo solitário: palavras que se unem a outros escritos ou ditos por outras mãos e outras bocas, em lugares muito diferentes. (…) Isso vai mais além das fronteiras do mapa e do tempo. A gente pode sentir-se companheiro de gente nascida em lugares distantes e irmão de gente vivida em tempos passados. Esses são os vínculos mais dignos de fé: os que nascem da solidariedade”.

“O desenvolvimento da ALBA é uma das mais eficazes respostas ao sistema mundial de poder que nos convida a ‘escupir al espejo’ (tradução literal: cuspir no espelho) e nos obriga a aceitar a impotência como destino. Queremos ser corpos, não sombras: queremos ser vozes, não ecos. Reivindicamos a dignidade, a solidariedade e a diversidade. Nos negamos a aceitar a ordem de escolher entre as duas maneiras de morrer que o sistema nos oferece: não queremos morrer nem de fome nem de tédio. Este mundo é muito injusto, muito desigual nas oportunidades que oferece e muito massificador (no original: ‘igualador’) nos costumes que impõe. Temos somente o direito de copiar? Está proibido criar?”.

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