Grupo de intelectuais reunido pelo Instituto Lula (ex-presidente sentado no centro) discutiu sobre "perspectivas da esquerda progressista na América Latina (Foto: Página/12) |
Por Aldo Ferrer
* (pequena parte da exposição do
professor argentino, conforme está explicado abaixo. Traduzido do jornal Página/12, edição de 27/01/2013. O
título acima é deste blog)
Nossos países não alcançaram, ainda, altos níveis de desenvolvimento econômico e social. No entanto, no plano da cultura, são potências de primeira grandeza. O desafio consiste em colocar a realidade econômica e social na mesma altura dos níveis alcançados na cultura.
A integração é um instrumento fundamental para impulsionar o desenvolvimento nacional de nossos países e fortalecer sua posição conjunta na ordem mundial. A integração abrange três planos: as políticas nacionais, as regras do jogo da integração e a projeção conjunta rumo ao resto do mundo.
A chave do êxito da integração não se assenta na delegação de soberania a órgãos supranacionais comuns. A experiência da União Europeia serve para demonstrar como a cessão de soberania termina subordinando as partes mais fracas ao poder hegemônico dos mais fortes. Muito pior, quando no regime comum, como acontece na União Europeia, prevalece o paradigma neoliberal.
Nossa integração não está assentada na cessão de soberania, mas na construção solidária da soberania que nos falta na ciência e na tecnologia, no desenvolvimento industrial e na inclusão social. Em matéria financeira, em tempos recentes, foram dados passos positivos em tal sentido, através do desendividamento externo, da acumulação de reservas internacionais e dos controles dos capitais especulativos. A integração consiste então na complementação das soberanias nacionais através de regras realistas da integração.
As diferenças atuais de dimensão das economias não devem induzir à suposição de que o destino da integração é reproduzir, no espaço regional, uma relação centro-periferia, entre um centro industrial e uma periferia principalmente provedora de alimentos e matérias primas. O melhor sócio é o plenamente desenvolvido.
Temos assim pela frente o desafio de construir uma relação viável, mutuamente conveniente, para o qual é necessário aprofundar o desenvolvimento industrial e tecnológico, integrar as cadeias de valor da produção primária com a participação crescente de componentes provenientes do nosso próprio acervo, impulsionar o protagonismo das empresas nacionais e regionais para o acesso conjunto aos mercados internacionais.
A emergência da China, e outros novos centros dinâmicos na economia mundial, é um fato positivo porque amplia as fronteiras da projeção internacional da América Latina. Mas apresenta o risco de reativar o antigo modelo centro-periferia que, no passado, nos subordinou à condição de provedores de produtos primários e importadores de manufaturados e capitais.
É necessário avançar, simultaneamente, nos três planos de integração: construir, a partir da força das densidades nacionais, uma densidade bilateral, mercosulista (“mercosureña”) e sul-americana, fundada na inclusão social, na eficácia das lideranças, na consolidação da democracia e no pensamento crítico. Cada país tem a globalização e a integração que merece, em virtude da força de sua densidade nacional.
Quanto mais se consolidem as situações nacionais mais fluidos serão os intercâmbios, quanto mais flexíveis e realistas as normas melhores serão as respostas frente às mudanças nas situações nacionais e, finalmente, quanto mais solidária seja a projeção conjunta no cenário global, mais liberdade de manobra terão as políticas nacionais e conjuntas.
* Professor emérito da Universidade de Buenos Aires. Embaixador argentino na França. O texto (completo publicado por Página/12) é uma reprodução das principais passagens da exposição Transformações da América Latina na última década, no contexto mundial, realizada em 21 de janeiro de 2013, no Encontro com Intelectuais sul-americanos “Caminhos progressistas para o desenvolvimento e a integração regional”, realizado no Instituto Lula, em São Paulo.
Tradução: Jadson Oliveira
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