LULA E O PÊNDULO DO PT: “APESAR DE HIPNOTIZAR ALGUNS BLOGUEIROS, SE MOVE DE FORMA OPORTUNISTA” – POR LUIZ CARLOS AZENHA
(Foto: Reproduzida do Viomundo) |
“É sempre assim, desde a campanha de 2002: à
esquerda durante a campanha, à direita no governo, à esquerda às vésperas do
próximo período eleitoral, à direita depois da composição do governo.
Um pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns
blogueiros, se move de forma oportunista”.
Por Luiz Carlos Azenha, no seu blog Viomundo – o que você não vê na mídia, de 20/01/2016, com o título
e a íntegra logo a seguir (o artigo foi recomendado pelo companheiro Geraldo Guedes, advogado em
Brumado-Bahia; o título e o destaque acima são da edição deste blog)
LULA FAZ O PÊNDULO DO PT SE MOVER À
ESQUERDA; É A CAMPANHA ELEITORAL DE 2016
O
ex-presidente Lula viajou o Brasil várias vezes.
Ele
conhece o país física e intuitivamente.
Tem o
Nordeste no DNA. Cresceu com os deserdados de São Paulo.
Lutou com
a elite operária do ABC industrial. Não há outro líder com a sensibilidade
social de Lula.
Fernando
Henrique Cardoso, o líder intelectual da oposição, é um sociólogo de elite. Que
só montou num jegue e se declarou com “um pé na cozinha” durante campanhas
eleitorais. A relação entre FHC e o povo brasileiro é de água e óleo. O povo
sabe que FHC não é “dos seus”.
Lula,
não. Ele usa muitas metáforas no discurso. Algumas não fazem o menor sentido,
mas garantem que seu discurso chegue ao povão. Ele adora falar como o pai e a
mãe que administram o Brasil como se fosse uma imensa família, quando não é.
Pelo contrário: a História do Brasil é a história da insurreição e da supressão
dos que lutam por direitos. Mas Lula, o conciliador, parece realmente acreditar
que o empresário Gerdau e o sindicalista Vicentinho podem conviver
harmoniosamente. Em outras palavras, Lula incorpora a ideia de que o pobre
brasileiro “sabe o seu lugar”.
O
ex-presidente diz que Dilma está à sua esquerda. Confere. Diz-se que Golbery, o
fiador da abertura lenta, gradual e restrita da ditadura militar, preferia Lula
aos comunistas. O irmão de Lula era comunista. Ele, nunca foi. Lula é um social
democrata, cujo horizonte é dar casa própria e automóvel a todos. Num país de
deserdados e de imensa desigualdade social, como o Brasil, isso é
revolucionário. Lula fala sempre nos bagres e nos sapos como um estorvo ao
desenvolvimento. Ele ainda não chegou ao ponto de reconhecer que sem os bagres
e os sapos nós, seres humanos, não sobreviveremos nesta Terra.
Como diz
Paulo Henrique Amorim, sempre um observador arguto de nossa realidade, os
tucanos vivem na e da mídia. Tiram o oxigênio dos colunistas de jornais, emissoras
de rádio e TV. Não têm qualquer afinidade com o povo brasileiro.
Eleitoralmente, sobrevivem na negação do outro. São, assim, cópia fiel da UDN.
Criam uma realidade paralela, a do eterno “mar de lama”, para se apresentarem
como “alternativa” à corrupção — da qual, aliás, fazem parte intimamente. PHA
diria: qual é a ideia política original dos tucanos, além de entregar o
patrimônio público para financiar seus governos? Eles sobrevivem vendendo a
soberania brasileira.
Lula, na
entrevista aos blogueiros, admitiu hoje que o PT se tornou um partido
igualzinho a todos os outros. Fato. Quando ele fala que alguns companheiros
“erraram”, provavelmente está se referindo aos crimes cometidos por gente como
o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, que armava para
tirar uma testemunha-chave do Brasil.
Todos os
escândalos tucanos sobreviveram ao PT no poder: sanguessugas, vampiros,
mensalão, petrolão. Em torno deles, o famoso pacto das elites.
O
ex-presidente tem razão quando diz que o PT é perseguido pela mídia desde que
ele assumiu o poder, em 2002. Vi isso de dentro da redação da TV Globo. Eu
estava presente — e abominei — quando colegas jornalistas aplaudiram Lula antes
da entrevista que ele deu ao Jornal Nacional, depois que se elegeu.
E abominei quando, na onda das primeiras denúncias do mensalão, a Globo entrou
na onda de criminalizar o PT, o que já dura mais de 12 anos. Testemunhei
pessoalmente: a Globo colocou todos os seus recursos materiais e profissionais
para investigar o PT, quando não fez o mesmo com nenhum outro partido.
A postura
da mídia como linha auxiliar da oposição, no entanto, não deve ser usada como
desculpa para o “reformismo fraco” do PT. Desde que José Dirceu, com suas
alianças a qualquer custo, levou Lula ao poder, o PT se tornou ferramenta da
“modernização conservadora” do Brasil. Um partido da ordem, que proporcionou
migalhas aos mais pobres enquanto os mais ricos enchiam as burras de dinheiro.
O governo
de coalizão do PT só pode se dar ao luxo de ser social democrata na bonança.
Na crise,
banca a lei antiterrorismo contra os movimentos sociais, a reforma da
Previdência, os leilões do pré-sal, o desmanche da Petrobras e da Eletrobras.
Na
entrevista aos blogueiros, Lula mais uma vez mexeu com o pêndulo. Como líder
mais importante do PT, se disse contra a lei antiterrorismo, a venda da
Gaspetro e da Transpetro e propôs uma política econômica distinta do
austericídio de Dilma.
É como se
fosse aquele jogo do bad cop (Dilma) e do good cop (Lula).
Lula
prega o apoio a Dilma, mas se distingue dela com propostas à esquerda, para não
perder o campo político essencial, onde se encontra a militância do partido.
É sempre
assim, desde a campanha de 2002: à esquerda durante a campanha, à direita no
governo, à esquerda às vésperas do próximo período eleitoral, à direita depois
da composição do governo.
Um
pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns blogueiros, se move de forma
oportunista.
Mantém,
como cenoura no horizonte, as reformas que realmente importam: democratização
da mídia, reforma tributária que obrigue os ricos a assumirem carga tributária
hoje carregada pela classe média e os mais pobres, soberania nacional sobre
setores estratégicos (energia, comunicações e recursos naturais), um banco
central que não esteja a serviço eminentemente do sistema financeiro.
O PT
continua acreditando que pode se perpetuar como o menos ruim dos partidos.
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