QUINTANA: "ELES PASSARÃO... EU PASSARINHO"


Poeminhos do Mario Quintana (parte 1)

POEMINHO DO CONTRA

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

  De CH (Caderno H - 1973)


O verdadeiro imortal

Por Carlos Machado

O "Poeminho do Contra" também tem sua história. Mario Quintana, sabe-se lá por quê, candidatou-se três vezes à imortalidade da Academia Brasileira de Letras. Na primeira (em março, 1981), perdeu para Eduardo Portella, ex-ministro da Educação do general-presidente João Figueiredo. Depois (em novembro, 1982), foi derrotado pelo jornalista Carlos Castello Branco (1920-1993). Na última vez, a vaga foi para o professor carioca Arnaldo Niskier.

Diante da insensibilidade dos acadêmicos — que parecem votar com critérios como influência política, poder e prestígio social (e não os méritos literários), Quintana desistiu. E brindou os que lhe atravancaram o caminho com o delicioso e profético "Poeminha do Contra".

Eles passarão...
Eu passarinho!


Tarsila do Amaral - A caipirinha
Mais poeminhos:



A coisa mais solitária que existe é um solo de flauta.

  De CH

TIC-TAC

Esse tic-tac dos relógios é a máquina de costura do Tempo a fabricar mortalhas.

  De CH


RELÓGIO

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede; conheço um que já devorou três gerações da minha família.
          
De CH

COISAS NUMERADAS DE UM A TRINTA E CINCO

XIX

Um dia de chuva é bom para a gente comprar livros de poemas... Quem perguntar por que, de nada lhe adianta comprar um livro de poemas.

XXXII

Me lembro de um colega de ginásio que tirou da sua própria cachola e escrevia em seus cadernos e livros, com letra caprichada, o seguinte: "Estudo, és tudo!". Teve o fim que merecia.

  De CH

DA ARTE PURA

Dizem eles, os pintores, que o assunto não passa de uma falta de assunto: tudo é apenas um jogo de cores e volumes. Mas eu, humanamente, continuo desconfiando que deve haver alguma diferença entre uma mulher nua e uma abóbora.

  De CH

Tudo aí, inclusive exemplar da obra de Tarsila do Amaral, vem do sítio Poesia.net , mantido na web por Carlos Machado.

Comentários

Anônimo disse…
Não faz sentido... o poema foi publicado em 1973 (segundo a referência neste mesmo post) e as candidaturas à Academia nos anos 80!
Lucas disse…
Na minha opinião ele quis falar que ELES PASSARÃO pela vida só por passar e EU PASSARINHO seria "eu vou sobrevoar e ver o que de mais belo tem nesta vida"...
Unknown disse…
Concordo com o Lucas Ferreira...
Unknown disse…
[O Trágico Dilema]
Unknown disse…
Ele se referiu ao invejoso. Que não age e apenas observa!
Unknown disse…
Na época de Quintana(durante ditadura), os jornais(no caso o "Correio do Povo", jornal onde ele trabalhava, como colunista) era constantemente censurados então vinham tarjas pretas no lugar das matérias, isso começou a se intensificar principalmente pós "Milagre Economico" em 1970, Quintana tinha a própria coluna no jornal, e fazia poemas para serem postos sobre os grandes retângulos negros do jornal(sobreimpressos nas matérias que foram censuradas), um dia uma de sua coluna inteira foi censurada então ele criou este poema como sátira, para por sobre a sua matéria censurada: "À todos àqueles que atravancam meu caminho... Eles passarão... Eu passarinho." Significa que ele não se importava pois era apenas uma matérias de muitas outras que havia feito por isso era livre, e censura nenhuma iria mudar isso.
Fonte, Arquivo do correio do povo.
Richard disse…
Como dizia Nelson Rodrigues, a gente não enxerga o "óbvio ululante" , passarão é o aumentativo de pássaro, ou seja, eles são gigantes e nada posso contra eles, pois sou "passarinho".
Murilo Amati disse…
Engraçado que nunca tinha visto por esse enfoque pessimista mas que realmente é o "óbvio ululante" que o Richard comentou. Ao mesmo tempo que Quintana parece dizer mesmo que é apenas um pequeno frente aos grandes, um contra todos, também parece haver uma certa delícia do autor em dar seu jeitinho, escapar de fininho, ser passarinho; isso é o que parece ter eternizado este poeminho.
Alex disse…
O interessante é como as palavras podem dizer muitas coisas e, todas fazem um certo sentido, sempre interpretei da mesma forma citada pelo Richard!
Remy Sales disse…
A geniosidade do trocadilho de "passarão", pássaro grande e futuro do verbo passar,demonstram a esperança do poeta de sair daquela dura realidade da ditadura. "Passarinho", ave pequena, mas também simboliza o voo, a liberdade. Eles se vão e eu continuo voando livre das gaiolas ditatoriais...
Sheldon Coura disse…
Fazendo uma comparação profunda com um pensamento de Ribot " Indiferentes são aqueles que vivem sem que sua vida seja advertida", quando Mario Quintana diz que "muitos passarão", está se referindo aos indiferentes, quando diz "eu passarinho", é que tenho asas e posso voar com meus pensamentos pois vivo intensamente, sou livre, nada me escapa, não vou passar advertidamente sobre a vida.

Sheldon Coura, engenheiro, em 14 de novembro de 2016 às 20:53 h.
Alicinha disse…
O autor poetista se motivou em fatos da sua vida;que ele vivia.
Unknown disse…
Concordo plenamente!
Unknown disse…
Quintana era um de um grau de singularidade extraordinária, daí ficar tentando interpretar o que ele utilizou como palavra ou metáforas em sua poesia. Passarinho, rima com o verbo "passarão" do verbo passar daí a grande viagem do composto poético. Fui! 👀
Anônimo disse…
Eles passarão (mortais), eu passarinho (imortal)... Poema de singeleza genial. Remete ao otimismo.
Unknown disse…
Muito Boa Reny Sales
Anônimo disse…
Perfeito por isso o título poeminha do contra... passarinho jamais irá vencer passarão por tal motivo ele desistiu...
Unknown disse…
Também o entendo com essa dualidade, ao mesmo tempo em que os outros são grandes (passarão), estão ali de passagem... e, ele, humildemente (passarinho) irá aos poucos conquistar o seu espaço. Belíssimo!
Unknown disse…
Excelente análise. Análise bela, inclusive!!! ❤❤
thawsz disse…
Parabéns. Não passou pela minha cabeça isto.
claudia retti disse…
A pontuação que segue passarão, são reticências... e passarinho, exclamação! A meu ver a pontuação dá sentido. Fortalece a ideia de liberdade de passarinho e de transitoriedade de passarão.
Anônimo disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Impressionante o que o poeminha do contra marcou na literatura..cabe uma reflexão: quando o próprio Quintana escreveu que muitos passarão..podemos compreender no sentido da fama e de alguns poetas receberem troféus vencedores na academia de letras e outros quesitos arranjados talvez? assim é a vida..e o poeminha do contra quando diz...eles passarão e eu passarinho..é a prova estamos discutindo interpretando Mário Quintana!o poeta na minha opinião.
Interessante o troféu da vitória é isso as pessoas lendo e discutindo as singelas palavras...ele passarinho tão simples e voando com a sua liberdade de pensar, de escrever de ser o poeta livre...
Stephanie Macedo disse…
Gostei do dual. Da liberdade imprimida na interpretação do passarinho. E da versão da censura e da posição do contra ataque. Veja que como na pintura, na leitura a alma é quem traduz o que enxergamos.
Grazy disse…
Acho que ele fez um trocadilho, que de tão inteligente, permite múltiplas interpretações, assim como qualquer obra de arte que se admira, oferece a quem contempla múltiplas perspectivas. Passarão/ Passarinho, gigantes que passam, que caem, passarinhos, que na simplicidade, permanecem.Com suas rotinas simples, perpetuam o belo, o livre...
Amigo, vejo que seu comentário foi um pouco do tipo "ai, eu o único certo". Usou até a morfologia para tentar explicar, sendo que na literatura a análise parte do contexto em que cada indivíduo está inserido. Lógico que é possível fazer a divisão morfológica dos textos, mas as interpretações são distintas. O "óbvio" é só para você. Cada um irá se identificar com uma análise. Isso aue faz a literatura ser SENSACIONAL!
As pessoas tentam decifrar o que ele quis dizer,sendo que, às vezes, pôde querer causar justamente isso em nossas mentes.
A literatura é uma área incrível, pois causa nos leitores inúmeras formas de pensar, ela é livre para cada pessoa em cada contexto em que viveu. Lógico que é possível fazer a divisão morfológicas do texto literário, mas você tem que ir além disso e notar que existem várias concepções e que todas são válidas.
Clodoaldo Brito disse…
Quem diz que viver de amor é maluquice
E que só cantar não é o melhor caminho
Eu vou responder como o poeta disse
"Eles passarão e eu, passarinho"

Pato Quén
Fabão
Unknown disse…
Que maravilha de interpretação, foi um vôo muito alto e poético da análise, perfeito.
Unknown disse…
Eles “passarão” (como um problema um pássaro diante de um passarinho) e ele um frágil passarinho ficou na história com seus poemas fantástico. Ao contrário dos acadêmicos poucos são citados como referência. Beijos de Luz a todos
Unknown disse…
Sim , foi !
Porém o poeminha caiu como uma luva . Pois a politicagem já vinham acontecendo a tempos . É assim até hoje. O dinheiro e a influência fala mais alto. Quem nunca passou por isso né! Bjs iluminados a todos
Unknown disse…
Eles passarão, vão ficar no ostracismo, a minha obra vai ficar livre em todos os lugares encantado as pessoas como os passarinhos.

Acho que é isso
Unknown disse…
Quintana era tão mago com as palavras que respondeu às injustiças - da Casa de Machado de Assis (que deve estar rolando no tumulo, até hoje, com tamanha indignação)- com simples poema o mais significativos de sua imensa OBRA!A prova aí está, tamanho número de comentarios, os mais diversos e elogiosos! Descanse em paz, Quintana, eles tiveram minutos de fama, você terá a vida eterna!
Anônimo disse…
Amo, Amo, Amo.......80 anos, quisera ter começado a passarinhar há muitos, mas muitos anos
atrás....mas, tá valendo
Anônimo disse…
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