(Foto: Paulo Pinto/Carta Maior) |
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST: “Evidentemente, no jogo
político, o governo precisa ter apoio no Congresso Nacional, embora eu ache que
o Congresso é um antro de picaretas. Agora, sempre que houve uma situação
grave, o apoio principal desde o governo Lula foi o movimento social”.
Para o
MST, defesa da democracia não abandona crítica ao governo
Manifestações contra o impeachment não livram a presidente Dilma
Rousseff de cobranças para mudar a política econômica e garantir direitos
sociais.
Por Tatiana Farah - Agência Pública – reproduzido do portal
Carta Maior, de 17/12/2015 (o título principal é deste blog)
Liderança nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), Gilmar Mauro afirma que os movimentos sociais mais uma vez sairão em
defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, mas cobram ações do governo em
prol dos trabalhadores e uma política agrária que contemple os sem-terra.
O MTST deixou claro que a
mobilização desta quarta-feira (16) é contra o impeachment, mas não é um endosso
ao governo da presidente Dilma. Esta é a posição do MST?
Sim. O acordado pelo conjunto dos movimentos sociais é fazer um ato
contra o impeachment, pelo “Fora Cunha” e por uma nova política econômica. A
avaliação que fazemos é que não há como titubear em nenhum momento na defesa da
democracia contra o golpe em nosso país. Agora, evidentemente que isso coaduna
com um processo de crítica. A defesa do mandato da Dilma é uma coisa. Isso não
significa que não haja críticas à forma que ela vem conduzindo o governo,
sobretudo a política econômica.
Como é apoiar uma presidente
que tem em seu time de defesa Katia Abreu (ministra a Agricultura), ferrenha
adversária do MST?
É difícil. E não só pela Katia Abreu. Se você pegar desde as nomeações do governo, do Joaquim Levy na condução econômica e todo o conjunto de aliados supostamente da base aliada do governo, o MST já fez críticas. Mas não dá só para criticar as pessoas, a Katia ou o Levy. A responsabilidade é de quem comanda isso, que é a presidenta da República. Mas não é por essa razão que ninguém vai titubear na defesa da democracia e contra o golpe. Agora é evidente que há um descontentamento popular porque não avançamos na reforma agrária; e além de tudo não foi isso que foi discutido nas eleições nem nos programas que foram aprovados nas eleições. Por isso, as mobilizações (dos movimentos sociais) durante o ano todo foram contra o golpe, mas também contra as políticas aplicadas pelo governo federal e, principalmente, a preocupação para que não haja retrocesso nas conquistas sociais que conseguimos a duras penas.
As lideranças do MST são
pressionadas pela militância sem-terra a ter uma atitude mais incisiva nas
disputas com o governo federal?
Com certeza, a militância pressiona. A militância do MST está muito
crítica em relação às posturas do governo federal, sobretudo na política
econômica recessiva que penaliza o conjunto da sociedade brasileira. Afinal de
contas, é importante destacar que tudo que é produzido passa pelas mãos dos
trabalhadores, inclusive o lucro dos patrões e os impostos que são recolhidos.
Embora a Fiesp reclame dos impostos altos, quem produz para pagar os impostos é
a classe trabalhadora, que paga os impostos de tudo o que consome. E é a classe
trabalhadora que está pagando fortemente por esse processo recessivo. Então há
esse descontento. Mas ninguém vai abrir espaço para a direita mais reacionária
que quer implantar uma política mais neoliberal mais agressiva do que hoje é
aplicada, que, a nosso ver, tem um viés neoliberal também.
A presidente Dilma sinalizou
a retomada do diálogo com os movimentos sociais? Ela vai se encontrar com vocês
depois da manifestação contra o impeachment?
Vai ter uma reunião com a presidenta possivelmente na sexta-feira (18),
mas pode ser antecipada. E há uma retomada das conversas, sim. Agora, para nós,
conversa e diálogo… têm de consistir em conversa e ação. Porque, se for só
conversa, eu acho que todo mundo está meio saturado. Isso que você perguntou da
militância é verdade: nós queremos ações concretas da presidenta. No nosso
caso, o avanço da reforma agrária, a solução das famílias acampadas, o plano
nacional de reforma agrária e mudanças na política econômica.
Nesta terça-feira (15) a presidente Dilma parece ter dado um passo no
sentido de preservar conquistas sociais e contrariou o ministro Joaquim Levy,
diminuindo a meta fiscal para garantir o Bolsa Família.
É um bom sinal. Dilma deve se dar conta hoje de que ela fez uma aposta
aí… Evidentemente, no jogo político, precisa ter apoio no Congresso Nacional,
embora eu ache que o Congresso é um antro de picaretas. Agora, sempre que houve
uma situação grave, o apoio principal desde o governo Lula foi o movimento
social. Hoje, acho que a presidenta, se não se deu conta disso, aí é grave a
situação. Quem fez campanha no segundo turno, foi pra rua no segundo turno,
quem defendeu e continua defendendo o seu mandato neste momento é o movimento
social organizado. Mas aqui ninguém é idiota. Defendemos a democracia e não
queremos dar um passo atrás. Agora é preciso que o governo aja com uma
sinalização muito clara a respeito dos direitos sociais e com a possibilidade
de ampliar esses direitos. Acredito que isso seja possível. Quero dizer mais
uma coisa: nós passamos o ano inteiro lutando e espero (com a manifestação) que
se consiga enterrar essa história de impeachment, que o “fora Cunha” aconteça e
que a gente possa discutir uma pauta política nova para o próximo período, com
muita luta e mobilização, mas com sinalizações do governo federal.
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