AMAURI CHAMORRO: O GLOBO E AS MEIAS VERDADES QUE VIRAM MENTIRAS COMPLETAS

(Foto: Reprodução/Carta Maior)

Quem consome produtos como Época, G1, O Globo, Globo News, CBN e o Jornal da Globo, é contaminado por mentiras que beiram a irresponsabilidade.


Ao contrário do que diz O Globo, o Equador, pequenino país sul-americano, vive há 8 anos um processo de mudanças estruturais tão profundas, que podemos considerar que o país foi refundado.


Por Amauri Chamorro (*) - no portal Carta Maior, de 17/09/2015


No dia 30 de agosto O Globo publicou uma reportagem de página inteira com a manchete “Resistência Sufocada. Com reeleição sem limites de Correa em jogo, Equador reforça repressão a manifestantes”. A matéria é, na verdade, uma soma de mentiras, desinformação e demonstra a linha editorial das Organizações Globo, habitualmente preconceituosa e sempre contrária aos governos progressistas na América Latina.


A Globo nasceu como um projeto da ditadura militar. Não é à toa que tem entre seus porta-vozes Alexandre Garcia, que foi empregado dos ditadores, e Arnaldo Jabor, cuja economia privada se resolveu depois que os Marinhos lhe deram um microfone giratório. Assim, quem consome produtos globais como Época, G1, O Globo, Globo News, CBN e o Jornal da Globo, não é contaminado apenas por parcialidade disfarçada de “independência”, mas por mentiras que beiram a irresponsabilidade.


As marchas, no Equador, na realidade são resultado de uma lei que cria o imposto da herança que castigaria principalmente as fortunas administradas por falsas fundações sediadas em paraísos fiscais. A fúria da direita foi imediata e a sua reação se deu poucos dias depois do anúncio presidencial. Imagina se essa boa moda pega e Dilma propõe isso no Brasil?


Para seguir a cartilha de acusação contra o governo do Equador, onde uma bem sucedida revolução democrática serve de exemplo ao resto do continente, O Globo se sustenta no fato de uma franco-brasileira ter sido detida numa violenta marcha que tentava invadir o palácio presidencial para justificar uma inexistente reação violenta do governo equatoriano. O jornal afirma que manifestantes apenas querem impedir a aprovação de uma emenda constitucional que permitiria ao Presidente Correa ser novamente candidato em 2017, mas o faz a partir de três fontes explicitamente contrárias ao governo, o que faz com que o texto não pare em pé.


Por fim, buscando esquentar seus argumentos, o jornal publicou uma micro-entrevista totalmente mutilada do Ministro do Interior, dados muito relevantes para a compreensão não só dos fatos, mas da conjuntura que vive o país. Por isso, eu me sinto na obrigação de contrastar a publicação.


Distorção jornalística


A franco-brasileira Manuela Picq, detida enquanto participava da violenta marcha que buscava cercar e tomar o palácio presidencial, é uma papagaia-de-pirata que procurava um lugar ao sol midiático. Diferentemente do que afirma O Globo, ela nunca foi presa, e nem obrigada a sair do país. Basta ler a entrevista da Ministra de Justiça, Direitos Humanos e Cultos do Equador, na Folha, para entender realmente o que aconteceu. No momento em que ela foi abordada junto com outros manifestantes, ela se apresentou como estrangeira, e por não estar em posse dos seus documentos, ela foi retida. Depois de passar pelo atendimento médico, fora levada para um hotel onde se encontram estrangeiros sem a posse de seus documentos. Depois de uma decisão judicial, ela foi colocada em liberdade e não foi deportada. Apesar de seu visto não permitir atividades políticas no Equador, ela saiu do hotel em uma nova marcha, iniciando uma sequência de entrevistas aos meios opositores. Após alguns dias, se confirma a revogação do visto, já que ela infringiu a lei equatoriana por participar de uma manifestação violenta. Além disso ela se diz jornalista, o que é totalmente falso.  A outra fonte utilizada pelo O Globo é Carlos Pérez Guartambel, namorado de Picq, que se autodenomina líder indígena e defensor do meio ambiente. O Globo omite que este sujeito foi representante de mineradoras e outras empresas autuadas por contaminação ao lençol freático. Ele não diz que apoiava o governo e que quando seus clientes foram prejudicados e afetaram sua situação financeira, ele passou a ser de oposição. O Globo dá espaço para Guartambel afirmar que a polícia reagiu de maneira violenta contra os manifestantes, mas não aponta que o semi-indígena liderava a tentativa de cercar e tomar o Palácio (confira neste link).
 
Vale lembrar que Correa tem 61% de aprovação da sua gestão, comprovando assim que ampla maioria da população o apoia. Esta marcha apenas buscava gerar factóides com violência para ter o que mostrar aos meios internacionais.


A outra fonte do jornal é a ONG Fundamedios, que se apresenta como defensora da livre expressão, mas que representa apenas as empresas de comunicação, é financiada pela Usaid, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que não passa do mecanismo de financiamento da desestabilização política em diversos países. Em 2012, o embaixador dos EUA admitiu que a Usaid pagava 25 mil dólares mensais para Fundamedios. Apesar de indicar a suposta violência do Estado contra a oposição, nem O Globo, nem Fundamedios falaram sobre as bombas que explodiram contra meios públicos de comunicação e a sede do partido do Presidente Correa durante as “legitimas” manifestações.


A intencionalidade de O Globo em enganar se mistura à de Fundamedios, e fica absolutamente evidente quando afirmam que a declaração do “Estado de exceção” seria para permitir a repressão contra os manifestantes e não, como de fato o é, devido à erupção do Cotopaxi, maior vulcão ativo do mundo, que ocorreu dia 14 de agosto. Vale saber que o vulcão fica a apenas 50 km de Quito e suas cinzas já chegam em praticamente a todo o país. Correa assinou este decreto com o intuito de poder mobilizar todos os recursos necessários para a assistência dos mais de 350 mil afetados. Ainda que absurdo, a oposição, alinhada com a oposição equatoriana e com a narrativa do Globo, chegou a afirmar que o Presidente teria dinamitado o vulcão.


O jornal carioca cumpriu seu papel como empresa de comunicação responsável pela desinformação da imensa classe média do continente. Como parte de um processo estritamente de inclusão ao mercado de consumo, e sem uma formação educacional e cultural que permitissem uma leitura crítica do seu novo papel na sociedade, esses milhões de incluídos no mercado de consumo estão à mercê das análises de Jabores, Leitões e Sarderbergs.


A matéria não traz à luz o fato de que a oposição dispõe de um mecanismo constitucional chamado de “Revocatória de Mandato”, que após recolher as assinaturas necessárias, imediatamente tem que ser convocadas novas eleições. A questão é que eles sabem que não vencerão. Correa arrasa nas urnas desde que se apresentou pela primeira vez. Pelas vias democráticas e constitucionais a oposição não tem chance, então o caminho é buscar eco nos meios de comunicação por meio de violência para fazer crer de que o Estado é opressor. Para se ter a dimensão da realidade, há 133 policiais feridos e apenas 60 manifestantes foram detidos, e todos já estão em liberdade. Se fosse um Estado opressor, os números seriam totalmente distintos.


Revolução Cidadã


Este pequenino país sul-americano vive há 8 anos um processo de mudanças estruturais tão profundas, que podemos considerar que o país foi refundado. Algumas das metas atingidas pela Revolução Cidadã são parte dos anseios da sociedade brasileira, inclusive da conservadora classe média e alta. No Equador, foi criada uma nova Constituição que permitiu a reforma política, judiciária, tributária e do executivo.


Rafael Correa conseguiu, a partir dessa lógica, mudar os índices de desenvolvimento equatorianos, que até então eram iguais aos dos piores países africanos. Assim, o Equador se transformou num modelo de desenvolvimento sustentável, segundo a ONU.


Desde que Correa chegou à presidência, a direção do país saiu das mãos das elites econômicas e políticas que desde a independência definiram o futuro do país. Nunca fora perdoado por isso. Antes, a situação era tão miserável, que até os indígenas que viviam nos grandes latifúndios eram contabilizados como parte da propriedade: “vendo uma fazenda de 30 alqueires e com 14 indígenas”. Era muito comum que as empregadas domésticas não ganhassem salários, num regime de escravidão tolerado socialmente. Elas trabalhavam apenas por comida e moradia e seus filhos, desde muito pequenos, também trabalhavam. Lavavam os carros, cortavam a grama. Ambos apanhavam no caso de quebrar um prato ou não cumprir com suas atividades. Ninguém me contou que era assim. Eu presenciei esses fatos. Hoje essas mães têm carteira assinada, previdência, pelo menos recebem um salario mínimo, e seus filhos estudam gratuitamente nas melhores escolas do mundo com bolsas do governo. Já são mais de 10 mil estudantes.


Correa tem uma característica visceral em sua gestão, impensável para quem espera um protocolar estadista. A dureza da defesa de suas posições criou um estilo odiado por todos aqueles que não o admiram. Esse temperamento difícil e muito carismático já deu ao presidente 79% de aprovação do seu mandato. Por isso, nas manifestações de agosto estavam lado a lado as forças de oposição, Guartambel e Manuela Picq. Uma aliança pra lá de suspeita. Isso O Globo não comenta.


(*) Amauri Chamorro é Comunicador Social, formado pela Universidade de Sorocaba, cursando Mestrado em Comunicação Política pela Universidade Autónoma de Barcelona. Mais de 20 anos de experiência em estratégias comunicacionais, trabalha com governos, partidos e organizações sociais progressistas na América Latina.

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