(Foto: Blog do Miro) |
Sobre a questão da regulação econômica da mídia, a
presidenta reafirmou a sua defesa da tese. Mas jogou um balde de água fria
neste caminho. “No momento não há a menor condição de abrir essa discussão, por
conta de toda a situação [política]”.
Por Altamiro Borges,
no seu Blog do Miro, de 14/04/2015
Na manhã desta terça-feira (14), na
sala de reuniões do quarto andar do Palácio do Planalto, a presidenta Dilma
Rousseff concedeu uma entrevista exclusiva para um grupo de blogueiros.
Participaram da coletiva Maria Inês Nassif, Cynara Menezes, Paulo Moreira
Leite, Renato Rovai e Luis Nassif. A conversa foi franca, elucidativa e bem
descontraída. Durou cerca de uma hora e meia e ainda teve mais outros 40
minutos de conversa informal – que incluiu literatura, filmes de preferência e
algumas amenidades. No geral, a presidenta se mostrou muito segura, convicta
das ações do seu governo e confiante no futuro. Confesso, porém, que sai
bastante preocupado da entrevista em Brasília.
Como já é do seu feitio, a presidenta
priorizou os temas econômicos. Defendeu, sem pestanejar, as medidas de ajuste
fiscal adotadas logo após a eleição de outubro passado. Detalhou cada
iniciativa e garantiu que Joaquim Levy, seu ortodoxo ministro da Fazenda, segue
as suas ordens. Não demonstrou qualquer disposição para “ajustar os ajustes” –
tão criticados pelo movimento sindical e pelos setores que saíram às ruas para
garantir a sua reeleição. Ela falou longamente sobre as dificuldades da
economia mundial, que impactam o Brasil. Mas nada disse sobre o que virá depois
da austeridade fiscal, sobre qual será a estratégia do governo para superar os
sinais negativos de redução do ritmo de crescimento do país e de geração de
emprego. Reforçou o seu perfil tecnocrático e pouco falou sobre a política e
sua relação com as bases sociais que a apoiaram.
Sobre um tema que está assombrando os
trabalhadores – o da ampliação da terceirização, que teve seu projeto de lei
aprovado na semana passada pela Câmara Federal –, Dilma foi evasiva. Afirmou
que as mudanças não devem afetar os direitos trabalhistas e previdenciários,
nem retirar a responsabilidade das contratantes sobre as irregularidades das
terceirizadas e nem afetar a arrecadação de impostos – tudo o que já está
embutido no projeto de lei. Mas evitou dizer qual será a postura do seu governo
caso a proposta seja aprovada no Senado Federal. “Não discuto a questão do
veto”. Insinuou que isto seria demagogia e não corresponderia à realidade
política do país!
Já sobre a questão da regulação
econômica da mídia, a presidenta reafirmou a sua defesa da tese. Mas jogou um
balde de água fria neste caminho. “No momento não há a menor condição de abrir
essa discussão, por conta de toda a situação [política]”. Ela até elogiou a
sociedade civil pela coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa
popular sobre o tema. Mas disse desconhecer o conteúdo da proposta, que foi
elaborada há dois anos pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
(FNDC). Ou seja: jogou novamente o assunto para a sociedade civil, isentando o
Estado de qualquer atitude política!
Em apenas um tema a presidenta foi
enfática – e até solicitou que fosse tratado. Dilma exibiu sólidos argumentos
contra a proposta conservadora de redução da maioridade penal. Garantiu que
isto representaria um grave retrocesso civilizatório e não resolveria o
problema da insegurança no país. Já com relação aos protestos golpistas de
março e abril, organizados por grupelhos fascistóides e com descarado apoio dos
barões da mídia, a presidenta novamente evitou a polêmica. Afirmou que são “normais”.
Ela ainda minimizou as iniciativas desestabilizadoras da oposição direitista
derrotada nas urnas, que tenta insistentemente realizar um terceiro turno das
eleições. “São normais”.
A presidenta Dilma Rousseff, com toda a
sua experiência e conhecimento, mostrou-se muito segura e confiante. Já eu
deixei o Palácio do Planalto bem preocupado! A sensação é de que o governo está
sentado em cima de um vulcão em erupção e, tecnocraticamente, ainda não se deu
conta! Espero estar totalmente errado.
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