Edifício Néstor Kirchner tem 1.500 metros quadrados e empregou mais de 700 pessoas durante a construção (Foto: Agência Andes) |
Cúpula Extraordinária do bloco deve discutir também
projetos de desenvolvimento multinacional e realização de obras de
infraestrutura
Por Opera Mundi, de São Paulo, de
05/12/2014
Presidentes
e representantes de 11 países sul-americanos viajaram ao Equador para
participar da 8ª Cúpula Extraordinária da Unasul (União de Nações
Sul-Americanas). Os dirigentes participaram, nesta sexta-feira (05/12), da
inauguração da primeira sede do organismo, em Guayaquil, a 420 km de
Quito. A Cúpula Extraordinária, que teve início na quarta-feira (03/12) e
se encerra hoje, deu o primeiro passo para o estabelecimento da livre
mobilidade na região, com a chamada "cidadania sul-americana".
"Nosso
norte deve ser o Sul em todos os sentidos”, defendeu o presidente equatoriano,
Rafael Correa, que, durante a inauguração da nova sede, destacou a importância
que a integração sul-americana tem em termos econômicos, sociais e políticos e
defendeu um centro de arbitragem sul-americano, a consolidação do Banco do Sul
e a criação de um sistema próprio de pagamentos como forma de fortalecer esta
união.
Durante o
ato político-cultural que integrou a cerimônia, o secretário-geral da entidade,
Ernesto Samper, ressaltou que “assim como agora temos uma casa grande,
precisamos também de ideias grandes para esse conceito de identidade
sul-americana”.
O novo
edifício, chamado Néstor Kirchner, em homenagem ao ex-presidente argentino,
primeiro secretário-geral da entidade e um dos impulsionadores da integração
sul-americana, custou aproximadamente US$ 41 milhões, aportados do fundo dos
países integrantes do bloco, e demorou dois anos para ser construído. A
presidente argentina, Cristina Kirchner, agradeceu a homenagem ao falecido
esposo e "aos milhares de companheiros do sul que lutaram para que a
democracia não seja somente o voto a cada quatro ou cinco anos, e sim
igualdade. Porque a democracia não é ir às urnas. Democracia é igualdade e
equidade”.
De Ernesto Samper, no Twitter: "Cumbre histórica de UNASUR en la Mitad del Mundo durante la inaguración de la sede".
Apontado
por muitos como o fato político mais importante na América Latina atualmente,
os diálogos de paz realizados entre o governo colombiano e as FARC (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia), com o objetivo de acabar com o conflito
armado que dura mais de 65 anos, estiveram presentes nas discussões. Neste
sentido, Samper fez um apelo direto ao mandatário colombiano, Juan Manuel
Santos: “a geração à qual nós pertencemos não conhece um dia sequer de paz” e
ressaltou o esforço realizado em Cuba para que a paz não seja para os vitimários,
mas também para as vítimas. E mencionou o escritor Gabriel García Márquez ao
dizer que “’ninguém é de nenhuma parte até que tenha mortos embaixo da terra’ e
nós temos demasiados mortos. Por favor consiga esta paz não só para os
colombianos, mas para todos os sul-americanos”.
Economista,
Correa defendeu a integração sul-americana no marco de uma nova arquitetura
financeira regional. Ele também advogou pelo fortalecimento do Banco do Sul e
ressaltou a importância de um sistema de intercâmbio compensado que permita
diminuir o uso do dólar para um dia, talvez, chegar a “ter uma moeda comum”.
Além disso, apontou que a criação de um centro de arbitragem sul-americano deve
ser uma alternativa aos tribunais internacionais.
Evento
histórico
No
Twitter, Samper afirmou que “5 de dezembro de 2014 passará para a história como
o dia em que relançamos a Unasul mirando novas políticas e ações”. Os
mandatários do bloco participam, nesta sexta, de uma reunião privada onde
discutirão, além da implantação da cidadania sul-americana, diversos temas de
desenvolvimento multinacional, sobretudo na área de infraestrutura, como a
revitalização do Rio da Prata, a construção de ferrovias e rodovias para
ligação com o Brasil.
De acordo
com o secretário do bloco, a entidade deu o primeiro passo para o
estabelecimento da livre mobilidade para os cerca de 400 milhões de habitantes
que vivem nos 12 países que compõem o bloco a partir da adoção, nesta
quinta-feira (04/12), da chamada "cidadania sul-americana".
Para
Samper, a cúpula deve marcar a consolidação da Unasul como liderança regional
(Foto: Agência EFE)
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Durante
cerimônia realizada ontem, o Suriname transferiu a presidência temporária do
bloco para o Uruguai.
Sul-americanos
Para
Samper, o passaporte sul-americano (similar ao Schengen na União Europeia) será
o maior registro do que ocorreu na reunião no Equador. Em um prazo ainda não
fixado, os sul-americanos poderão estudar, trabalhar e homologar títulos
profissionais na região.
O
documento será similar ao acordo que já existe entre os membros do Mercosul
(Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela), que contam com um
visto de residência e de trabalho e cujos cidadãos podem viajar livremente
apenas com a apresentação de um documento nacional.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em declarações proferidas nesta
quinta-feira (04/12) durante o seminário Integração e Convergência na América
do Sul, destacou que seriam necessárias novas medidas para complementar a
chamada "cidadania sul-americana".
Lula
sugeriu a criação de tribunais internacionais regionais que resolvam questões
do subcontinente: "Não faz sentido que, em pleno século 21, um conflito
entre dois países da América do Sul seja dirimido em um tribunal de Haia e que
tenha que recorrer à OEA", afirmou.
"A
integração não é um problema e sim parte da solução”, frisou Lula. Ele
acrescentou que quanto mais os países se integram "melhores serão as
condições para se enfrentar e superar as crises". Por isso, reivindicou, parlamentos
"devem criar mecanismos especiais mais ágeis" para concretizar os
acordos internacionais.
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