O vice-presidente Michel Temer (PMDB), Dilma Roussef e Gilberto Kassab durante o ato de apoio do PSD à presidenta, em junho (Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil) |
A população deu a Kassab, pelo voto, o poder de controlar a quarta maior
bancada da Câmara. O Psol, por sua vez, tem 5 parlamentares, menos de
1% do total
Por Lino Bocchini
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no site da revista Carta Capital, de
30/10/2014 (lembrado pelo velho companheiro Geraldo Guedes, advogado em Brumado-Bahia)
Não leve a mal, mas você votou para escolher, dentre duas opções, qual era a melhor (ou menos pior) para o país. Não foi votada a queda do capitalismo, o fim das trocas de cargos por apoios ou uma maior participação da população.
Aliás, o interesse da maioria dos políticos é
justamente o contrário: menor participação popular. Nesta terça-feira 28
a Câmara dos Deputados derrubou o decreto presidencial que cria
Política Nacional de Participação Social – que prevê mecanismos para
acompanhar, monitorar, avaliar e articular políticas públicas. Foi uma
“vingança” pela vitória de Dilma.
Foi só um aperitivo do que virá por aí. Teremos no Senado duros opositores como José Serra (PSDB-SP), Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), uma base aliada acostumada a trocar apoio por favores,
como Fernando Collor (PTB-AL), Jáder Barbalho (PMDB-PA) e Blairo Maggi
(PR-MT), e senadores "aliados" (assim, com aspas) como Ana Amélia
(PP-RS) e Cristóvão Buarque (PDT-DF). Até o PSB inteiro, agora com
Romário, estará na oposição.
Na Câmara, a situação também não será nada fácil. Não à
toa, antes mesmo da posse dos parlamentares no dia primeiro de janeiro,
este já vem sendo considerado “o pior Congresso eleito desde 1964”. A
bancada da bala aumentou, os homofóbicos ganharam força, os ruralistas
também cresceram e os partidos mais à esquerda, à exceção do Psol,
perderam força. No que depender desse pessoal, o país ficará
ingovernável até 2018, quando tentarão conduzir Aécio Neves ou Geraldo
Alckmin à Presidência.
A própria reforma política, considerada uma solução
universal para todos os males do sistema, dificilmente virá da forma
defendida pelas 8 milhões de pessoas que assinaram o “plebiscito
popular”, ou seja, com financiamento público de campanha e paridade de
gênero nas cadeiras, entre outros temas de difícil aceitação pelos
congressistas em geral.
Você acredita mesmo que os políticos eleitos vão mudar
o sistema que lhes garante o poder? Algum deputado vai lutar, por
exemplo, pelo financiamento público de campanha, sendo que já armado um
eficiente esquema de financiamento privado que o colocou lá?
Uma reforma política com o mínimo de efetividade só
virá com muita pressão popular e com um movimento muito mais organizado,
claro e progressista do que o promovido pelos “Gigantes Acordou” da
vida.
E aí, lamento, mas parte da culpa é sua. Acabamos de
sair do processo eleitoral e boa parte das pessoas já se esqueceu em
quem votou para deputado estadual ou federal. As regras do jogo político
atual foram definidas por você, por meio do seu voto.
Isto posto, voltemos ao Gilberto Kassab, o ex-prefeito
de São Paulo que fundou o PSD, o mais novo e poderoso PMDB da praça.
Ele é o presidente e o líder absoluto do partido com a 4ª maior bancada
do Congresso, atrás apenas de PT, PSDB e PMDB. Tem ainda, de quebra,
quatro senadores, dois governadores, dezenas de deputados estaduais e
centenas de prefeitos e vereadores Brasil afora. Em um cenário no qual
mais 6 partidos ganharam representação parlamentar –eram 22 e agora são
inacreditáveis 28— como convencer essa turma a aprovar qualquer projeto?
A população brasileira deu a Kassab, por meio de seu
voto, o enorme poder de controlar a quarta maior bancada de deputados
federais. Logo, como ignorá-lo? E o que dizer do PMDB, a segunda maior
força da casa, com 66 deputados?
Para garantir as mudanças constitucionais, como as
previstas em qualquer modelo de reforma política, serão necessários três
quintos dos votos. E um partido como o Psol, apontado como um exemplo
de ética política e com ótimos parlamentares como Ivan Valente, Jean
Wyllys e Chico Alencar, tem apenas 5 votos, menos de 1% dos 513 eleitos.
E aí?
Vamos cair na real: o Marcelo Freixo não vai ser
ministro da Justiça. O João Pedro Stédile não será o ministro do
Desenvolvimento Agrário. E o economista Eduardo Suplicy não vai ser o
ministro da Fazenda. E tudo indica que Kassab será, sim, ministro —pelo
jeito, das Cidades.
Impedir a vitória de Aécio e seu grupo político e tudo
o que ele representa foi uma importante vitória. O país barrou um grave
retrocesso e sinalizou que aprova as mudanças que vêm sendo promovidas
pelos governos do PT. Agora, para seguir rumo a uma sociedade mais justa
e moderna, ainda há um longo trabalho pela frente. E o caminho passa
por um debate político diário, maduro e que precisa ser feito á luz da
realidade. Sem mimimi despolitizado.
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