(Fotos: Jadson Oliveira) |
- É comunista, prende este terrorista, arrebenta este filho da puta...
- Socorro minha gente, luto pela liberdade, luto pela democracia, querem
me prender, é a ditadura, vão me torturar...
- É ditadura mesmo, filho da puta, comunista, terrorista aqui não tem
mais vez não...
- Soltem meu marido, vão matar meu marido...
Quem passou pela Rua Afonso Pena, na altura do monumento aos mineiros
desaparecidos/assassinados durante o regime militar, de 1964 a 1985 (próximo à
Praça Tiradentes e à delegacia anti-drogas, na capital de Minas Gerais), por
volta do meio-dia da sexta-feira, dia 30, pôde ouvir tais gritos de raiva e de
dor.
E ver a reprodução em forma de teatro de cenas apropriadas aos dias de
terror vividos pelos brasileiros na segunda metade dos anos 60 e durante a
década de 70, quando mais de 400 presos e perseguidos políticos foram
“desaparecidos” pela repressão militar. Mais de 50 deles eram mineiros e seus
nomes estão registrados no monumento citado acima, homenageando “os que lutaram
pela liberdade”.
Personagens desse drama estavam na rua: os chamados comunistas e/ou
terroristas já com marcas de sangue pelo corpo (houve a simulação de duas
prisões), a esposa desesperada ante a passividade dos transeuntes (realidade
daquele tempo e também agora na ficção), os policiais, a violência, o
cassetete, as algemas e o famigerado pau-de-arara.
Poucos, entretanto, estiveram presentes, em torno de 40 pessoas, parte
delas ex-presos políticos que passaram (e sobreviveram) por aquela situação ali
representada, ex-militantes de organizações de esquerda, na época clandestinas,
que lutaram contra a truculência e pelas liberdades democráticas. E agora
tentam mostrar aos mais jovens a face mais cruel da ditadura.
A encenação, chamada pelos organizadores de “escracho”, fez parte de
vários eventos realizados em Belo Horizonte para marcar os 34 anos da Lei da
Anistia, aprovada em 28/agosto/79. Um deles foi o lançamento do livro “Rádio
Libertadora – A Palavra de Carlos Marighella”, organizado por Iara Xavier
Pereira, ex-militante da Ação Libertadora Nacional, a ALN da guerrilha urbana
liderada por Marighella (a publicação será objeto de matéria deste blog).
Mais algumas fotos do “escracho”:
O memorial com os nomes dos mineiros desaparecidos/assassinados pela repressão |
Cristina Rodrigues: presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil |
Cena da mulher do "terrorista" agredida pelo policial |
Comentários
BETINHO DUARTE