El Nacional, um dos dois diários conservadores mais tradicionais da Venezuela (Fotos: Jadson Oliveira) |
Numa banca da Av. Baralt, centro de Caracas, estavam expostos 19 jornais diários |
Os
jornalões venezuelanos apelam no vale-tudo da manipulação contra Chávez
De
Caracas (Venezuela) – Que tal a manchete acima? É da primeira
página do El Nacional, um dos dois
jornais mais tradicionais do país (o outro é El Universal), edição da quarta-feira, dia 13, dizendo ser com base
nos programas dos dois candidatos entregues quando da inscrição no Conselho
Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso Tribunal Superior Eleitoral/TSE).
No texto da chamada de capa menciona as promessas do oposicionista Henrique
Capriles (inscrito dia 10), inclusive falando contra a violência, e, quanto ao
presidente Hugo Chávez (inscrito dia 11), os redatores dizem que “insiste em
formar milicianos ‘para conflitos não convencionais’ e novos corpos de combatentes”.
Os diários antichavistas, a grande maioria entre os da
mídia privada, forçam a barra para tentar quebrar o favoritismo do candidato “oficialista”,
como dizem aqui. No mesmo dia, El
Universal berrava, também em manchete de capa, que Chávez quer que 68% da
população do país vivam em comunas, tentando assustar a classe média, um
segmento para o qual o próprio presidente dissera em discurso que seus
partidários devem dar uma atenção especial.
E sempre há os que exageram mais ainda na dose: El Nuevo País, por exemplo, do mesmo dia
13, dedica quase toda a primeira página à inscrição dos dois principais
concorrentes à eleição presidencial de 7 de outubro. Escancara: “Algo saiu mal”,
com o reforço: “O Comando Carabobo (do “oficialista”) só levou 121.500 pessoas
para inscrever Chávez, 12% do que conseguiu o Comando Venezuela (do
oposicionista) um dia antes ao inscrever Capriles”. A fraude com as fotos é
impressionante: a foto maior mostra uns grupinhos de gente numa praça e um
textinho intitulado “Falando ao vento”. E ainda tem um título com um dos ministros
do CNE confirmando o “ventajismo oficialista” (ou seja, o órgão que dirige o
pleito, o Poder Eleitoral, como dizem aqui, estaria favorecendo a campanha do
presidente).
Os editores do El Nuevo País capricharam na manipulação |
Primeira página do estatal Correo del Orinoco, da terça, dia 12 |
A escolha, os cortes e a edição das fotos devem se
transformar num quebra-cabeça especial para os editores, tal a disparidade que
elas mostram a depender da linha editorial e o atrevimento no ato de manipular
a informação.
Outro capítulo estarrecedor é quanto à estimativa do
número de militantes/apoiadores de cada candidato. No caso acima do El Nuevo País (é só fazer as contas), os
caprilistas nas ruas de Caracas teriam sido pouco mais de 1 milhão, para
121.500 chavistas (é muita precisão!). Aliás, a incrível cifra de 1 milhão foi
mencionada por Capriles em seu discurso e destacada na cobertura do El Universal como se fosse algo crível. Os
jornais chavistas procuraram mostrar que o poder de mobilização de seu
candidato superou o do adversário, mas preferiram a expressão “um mar de gente”
ao falar da sua manifestação. O que não deixa de ser verdade, só falta
acrescentar “um mar vermelho”, pois é a cor de quase todas as camisetas.
(Essa questão sempre é escorregadia: se eu fosse
perguntado, eu chutaria: cerca de 30 mil para Capriles e cerca de 50 mil para
Chávez. Me lembro dos velhos tempos de repórter em Salvador, Bahia, época da
ditadura: nas coberturas de comícios, manifestações e passeatas, os repórteres
dos diversos diários combinávamos o número estimado: se fosse da oposição, a
gente espichava pra cima, se fosse qualquer coisa a favor do governo, a gente
espichava pra baixo. O pobre do leitor recebia a informação capenga).
Numa banca de jornais da Avenida Baralt, uma das
principais do centro da capital venezuelana, contamos (eu e o dono do “kiosko”,
William Ovalles) 19 diários. Somente três eram governistas, conforme avaliação
de Ovalles e minha própria, de acordo com o viés da primeira página e pelo que
já conheço dos principais. Os três: os estatais Correo del Orinoco, do governo federal, custa baratíssimo – 1 bolívar
(tem o mesmo nome de um antigo periódico criado por Simón Bolívar), e Ciudad CCS (da prefeitura de Caracas), que
é gratuito; e o terceiro é o Diario VEA
(Veja), editado por uma empresa privada.
William Ovalles, dono de "kiosko" na Av. Baralt: aqui não estão os "alternativos" |
Banca de jornais em frente ao shopping Metro Center, também no centro de Caracas |
O grande diferencial fica por conta do Últimas Notícias, que é o jornal mais
lido pelos venezuelanos, de propriedade de um grupo privado. Embora a maioria
dos editoriais seja de orientação antichavista, as matérias noticiosas conseguem
ser equilibradas, contendo portanto informações com grau razoável de credibilidade.
William Ovalles comentou, muito oportunamente, que ali na
banca não estavam os que chamou “alternativos”, ou seja, as dezenas de
publicações semanais e quinzenais das diversas comunidades e movimentos
sociais. Tais meios de comunicação, juntamente com as rádios e TVs
comunitárias, têm forte influência na chamada revolução bolivariana e recebem o
apoio oficial através de arrojado programa do governo de Chávez, conforme já
foi abordado em algumas matérias deste blog.
(Tentarei um dia desses fazer abordagem semelhante no que
toca às emissoras privadas de TV. Aí o jogo é também pesado, especialmente
quando se fala da TV Globo Visión,
apelidada pelos chavistas de Globo Terror, já que é o mais eminente veículo do
chamado terrorismo midiático. Mas aí o chavismo tem também um contrapeso
poderoso: as TVs estatais, particularmente a Venezuelana de Televisão).
Comentários
Veja como o site G1, da rede Globo ( http://g1.globo.com/mun), conta aqui a inscrição de Capriles e faz um breve perfil do opositor de Chaves.
"A projeção de Radonski na vida política começou no partido democrata-cristão Copei. Aos 25 anos assumiu o cargo de Presidente da extinta Câmara de Deputados, durante o governo de Rafael Caldera, antecessor de Chávez.
De origem judaica polonesa, sua família representa uma das mais tradicionais e ricas da elite venezuelana e está vinculada ao setor empresarial, incluindo a principal cadeia de cinemas do país, meios de comunicação, indústrias e imobiliárias.
Solteiro, Capriles utiliza esse detalhe como arma para captar o público feminino. Se chegar à Miraflores, prometeu dar à Venezuela uma 'primeira-dama'.""
"Para mostrar juventude e saúde - diferencial que tem utilizado durante a campanha contra Chávez - Capriles caminhou no domingo cerca de 10 quilômetros, do leste ao centro de Caracas, onde está o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) cercado por uma multidão. Em outro ato de campanha, já havia comparado a vitalidade dos dois. 'Aquele cavalo (Chávez) está cansado. Este aqui esta cheio de energia'".
Outro dado curioso: Para angariar esses votos e fazer frente à 'maquinária chavista', Capriles buscou o marqueteiro carioca Renato Pereira, responsável pelas campanhas do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do prefeito Eduardo Paes.
Vc acrescentou boas informações sobre o Capriles.
No seu discurso parece que ele disse não ser milionário, mas o que se diz é que é mesmo. Tenho umas anotações interessantes sobre seu discurso (extremamente vazio) e o contexto das duas incrições no CNE (o TSE daqui), mas não tô conseguindo acompanhar a agitação político/eleitoral daqui, é muita coisa e ainda problemas pessoas pra resolver.
Sobre os marqueteiros brasileiros, não sei se vc tá sabendo, o de Chávez é o baiano Patinhas, de Lula/Dilma.
Vamos em frente, beijão.
Há um portal pelo qual estou me guiando para acompanhar a campanha eleitoral, especialmente na área mais popular, socialista, revolucionária, é o aporrea.org . Aqui me parece que a esquerda radical (pelo menos a maioria) está junto com Chávez.
Acontece que não tenho muita informação sobre tais aspectos.
Fiz a matéria pegando só os jornais diários, porque é uma coisa mais visível.
Não tenho quase alternativas em termos de fontes de informação, é a parte mais difícil, se entrosar.
Grande abraço.