“EL TURCO JULIÁN”: O TORTURADOR QUE PROMOVIA LUTAS COM SUAS VÍTIMAS

Conhecido por sua ferocidade e antisemitismo nos centros clandestinos da ditadura,
Julio Héctor Simón abaixa o rosto ao ser fotografado durante julgamento
(Foto: Reprodução)
De Buenos Aires (Argentina) – Ele se tornou um dos repressores da última ditadura (1976-1983) mais conhecidos do país, apareceu falando na TV que “voltaria a fazer o que fiz” e foi um dos primeiros a serem condenados por crimes de lesa humanidade pela Justiça argentina. Destacava-se por sua ferocidade, antisemitismo e violência, usava um chaveiro com a suástica nazista. E tinha um divertimento singular: promovia luta livre com os presos e depois desaparecidos, ele contra dois (dois homens ou duas mulheres), com regras que ele próprio definia, sendo que a principal era que todos seriam obrigados a lutar – quem se recusasse a fazê-lo seria submetido a uma sessão de tortura.


Por tais predicados, Julio Héctor Simón, atualmente com 70 anos, codnomes “El Turco”, “Julián” ou “El Turco Julián” – era suboficial da Polícia Federal -, mereceu os aplausos mais veementes dos militantes das entidades de defesa dos Direitos Humanos, reunidos em frente ao prédio dos tribunais federais, em Buenos Aires (Avenida Comodoro Py), em 21 de dezembro último, quando se ouviu a sua condenação à prisão perpétua.


 Militantes defensores dos Direitos Humanos concentraram-se em frente aos
tribunais federais em Buenos Aires para ouvir (e festejar) a leitura das sentenças
(Foto: Jadson Oliveira)
Era a terceira sentença ditada contra ele pela Justiça (a segunda perpétua), desta vez acusado num processo envolvendo 183 vítimas e mais 16 repressores que atuaram num circuito de três centros clandestinos do I Corpo de Exército, sediado na capital argentina. (Um dos centros se chamava Olimpo, daí “El Turco Julián” se dizia “um dos deuses do Olimpo”). Os crimes: sequestro, tortura, violentação de mulheres, desaparecimento, assassinato e roubo de bebês.


Entre os crimes o roubo de uma menina de oito meses, filha de um casal de desaparecidos


A primeira condenação foi a 25 anos de prisão, em 2006, nos primeiros processos que se seguiram à revogação, em 2003, das chamadas leis de impunidade (“el Punto Final” e “La Obediencia Debida”), que impediam o julgamento de torturadores. “El Turco Julián” respondeu então pelo sequestro (em 1978), tortura e desaparecimento do casal de militantes José Poblete e Gertudris Hlaczik. E também pelo roubo da filhinha do casal, de oito meses, de nome Cláudia. A criança foi entregue a um militar, tendo sido identificada no ano 2000 pela organização Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo, de atuação semelhante à famosa Madres de Plaza de Mayo). José Poblete era chileno, tinha 23 anos e desde os 16 anos vivia em cadeira de rodas por ter sido atropelado por um trem. Conta-se que por ter descendência judia, era tratado com especial violência por “El Turco”.


A sua terceira condenação, em 2010, foi uma das 110 proferidas pela Justiça argentina durante o ano, todas por crimes de lesa humanidade, incluída aí a prisão perpétua sentenciada contra o ex-ditador Jorge Rafael Videla, anunciada no dia 20 de dezembro. O número de tais processos vem aumentando. Em 2009 tinham sido julgadas 36 pessoas. Segundo estimativa de órgãos da Procuradoria Geral da Nação, divulgada pelos meios de comunicação, cerca de 800 repressores aguardam a vez para se sentar no banco dos réus, a maioria já em prisão preventiva.


Na semana passada, por exemplo, a Justiça decretou a prisão preventiva de 44 militares (do Exército e Marinha), policiais e agentes penitenciários que estão sendo julgados por atrocidades cometidas durante a ditadura na região de Bahía Blanca e Punta Alta, cidades da província (estado) de Buenos Aires.

(A maioria das informações foi obtida em matérias dos jornais Página 12 e Clarín)

Comentários

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