De São Paulo (SP) - É impressionante a falta de influência hoje no Brasil de veículos de comunicação considerados há pouco tempo como os mais influentes, a exemplo da TV Globo, revista Veja, jornais Folha de S.Paulo, Estadão e O Globo, representantes do que podemos chamar “a velha mídia”. Pelo menos quando observamos o comportamento das amplas massas da população diante da política nacional e, particularmente, de cara com o processo eleitoral.
A antes chamada grande imprensa vai por um lado e o chamado povão vai pelo lado contrário, é como se um falasse o perfeito inglês e o outro o surrado português brasileiro, a mídia patina num mundo de ficção, o povo caminha em seu mundo real. Adaptando uma frase do saudoso líder nacionalista Leonel Brizola, “não se misturam, são como água e azeite”.
Decididamente, o povo não lê os jornalões, se lê salta as folhas das editorias de política. Ou lê e ouve (no caso das rádios e TVs), e não acredita. A propósito: estava eu a passear com um advogado boliviano pelas ruas de La Paz – lá pelo Paseo El Prado – falando da quase unanimidade da aceitação do presidente Evo Morales entre o povo, em contraste com as pauladas diárias que ele levava nos jornais privados (lá tem um jornal estatal, chamado Cambio). E concluí: “Acho que o povão não lê os jornais”. Meu amigo foi então me apontando algumas pessoas, com aquelas caras de indígena, lendo jornais pelas ruas: “Não, eles lêem, mas não acreditam”.
Os jornais batem todo dia: o povo não lê ou, se lê, não acredita
Bem, seja como for, deve ser um fenômeno parecido. Quase todos os dias os esforçados mancheteiros dos jornalões brasileiros arranjam uma manchete de primeira página lenhando o lombo do presidente Lula, dizendo o diabo de seu governo e de sua candidata a presidente (ou presidenta), Dilma Rousseff. Sempre se arranja um suposto fato novo (um factoide, palavra hoje muito popular entre os jornalistas). E enquanto não “aparece” um mais novo, ficam matracando em cima e ao redor de um, a exemplo agora da violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato tucano José Serra, supostamente a mando de Dilma (se este artigo demorar um pouco a ser publicado, já deve ter outro na pauta).
Os apresentadores da Globo, com aquelas caras circunspectas de corregedores da Verdade, da Justiça, da Moral e dos Bons Costumes, falam das “graves implicações do aparelhamento do Estado”. (Como dizem lá no meu interior baiano, “é o cego falando do aleijado”).
É um jogo interessantíssimo. Costumo chamá-lo “noticiário redemoinho”: vira e mexe, roda em torno de si mesmo, não resulta em nada e, quando vai enfraquecendo, vem outro e outro e outro...
Para usar uma metáfora tão ao gosto do popular Lula: a revista chuta a bola pra TV, a TV mata no peito e passa pros jornalões, e daí pras rádios e vão fazendo firulas... só não fazem gol! É o que os jornalistas chamamos repercussão, um faz a “revelação”, o outro repercute, um outro “descobre” um aspecto ainda não “revelado”, aí se incrementa a tal da repercussão, um tucano comenta, um “especialista” analisa, aí a oposição anuncia que vai pedir a cassação da candidatura da Dilma na Justiça Eleitoral, e tome repercussão.
Seis títulos numa única primeira página de O Globo contra Lula/Dilma
Qualquer pessoa com um nível médio de informação percebe que as manchetes dos jornalões são pura e simplesmente campanha eleitoral, meio beirando ao desespero, mas mesmo assim campanha. Para citar de memória: anúncio de arrocho fiscal num futuro governo Dilma; o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, conspirando pra impedir que o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ocupe um destes dois cargos num futuro governo Dilma; denúncias de supostas irregularidades na Petrobras; manchetes e mais manchetes sobre a quebra do sigilo dos tucanos, etc, etc.
Outro dia um blogueiro desses aí que vivem atanazando a já baqueada velha mídia deu-se o trabalho de contar os títulos da primeira página de uma única edição de O Globo contra Lula, seu governo e sua candidata: apontou seis títulos, quase toda a capa do dia 16 de julho último. É mole? Deve ser um dos tais blogueiros progressistas que andaram se reunindo no 1º. Encontro Nacional, em São Paulo, nos últimos dias 21 e 22 de agosto. Os mesmos que foram classificados por Serra de “blogs sujos”.
Enquanto isso – suprema insensibilidade dessa gentalha! -, o povo brasileiro passa ao largo, se lê, se ouve, se vê, não acredita. Especialmente a maioria, os mais pobres, esses incorrigíveis nordestinos/nortistas/ignorantes/esfomeados. Os índices de aprovação de Lula e seu governo não param de bater récordes e já se crê que sua candidata seja eleita no primeiro turno.
Comentários
Sobre a revista veja, o povo não lê.
Ficam abertas na fila dos caixas e as pessoas não dão atenção.