

Não consigo entender o significado histórico do desfecho eleitoral. Não percebo qualquer diferença política e ideológica entre os dois lados. (Como já disse, não compreendo a realidade local, devido à falta de domínio do inglês). Os comícios durante a campanha eram mais eventos musicais e artísticos. As mensagens dos candidatos eram sempre em tom paternalista, tipo “nós amamos vocês, vamos cuidar de vocês”.
São três os jornais mais vendidos aqui – Newsday, Guardian e The Daily Express, todos no formato mais moderno, tipo tabloide. Todos eles, segundo minha precária avaliação, apoiaram a oposição. Como a grande imprensa está sempre mais à direita, sou levado a supor que Patrick Manning, agora ex-primeiro-ministro, seria mais progressista. Mas, realmente, não tenho conhecimento da realidade para afirmar tal coisa.
Estavam aptos a votar 1 milhão de pessoas numa população em torno de 1,3 milhão de habitantes. O voto não é obrigatório.
Parlamentarismo e voto distrital
Politicamente, T&T é um país irrelevante no cenário da América Latina. Talvez o mais interessante seja anotar as diferenças, em relação ao nosso olhar brasileiro, do parlamentarismo e voto distrital, sistema copiado dos colonizadores, os ingleses.
1 – A disputa eleitoral se dá somente em cada um dos 41 distritos (39 em Trinidad e dois em Tobago), para a eleição dos 41 membros do Parlamento (MPs). Vão integrar a House of Representatives (Casa dos Representantes), o mesmo nome usado na Inglaterra e países colonizados por ela, como Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.
2 - Sendo eleito em seu distrito, pelo partido que consegue a maioria das cadeiras, o MP (ou a MP) que lidera seu partido torna-se então primeiro-ministro (ou primeira-ministra).
3 – Os senadores e o presidente da República não são escolhidos pelo voto popular. São nomeados pelo Parlamento, de acordo, e proporcionalmente, com os resultados eleitorais. O presidente não governa (espécie de rainha da Inglaterra), quem escolhe os ministros e governa é o primeiro-ministro (agora primeira-ministra).
4 – Ao todo concorreram 99 candidatos nos 41 distritos: 96 registrados por cinco partidos e mais três chamados independentes (sem partido).
5 – Para nossos padrões, a campanha foi curtíssima – apenas cinco semanas. Com inserções pagas pelos partidos nas TVs. Até a meia-noite do dia da eleição já se sabia o resultado.
6 – Uma diferença gritante dos nossos costumes políticos: o pleito foi no dia 24, dois dias depois, dia 26 à tarde, a nova primeira-ministra já estava sendo empossada no cargo.
7 – As pesquisas de opinião não têm tanta importância. Vi uma pesquisa onde Kamla Persad-Bissessar, hoje primeira-ministra, aparecia como a mais querida e popular entre a população. Mas se observava que isso não teria peso significativo na votação. É que ela, na verdade, só foi votada no seu próprio distrito. Para chegar a primeira-ministra, como chegou, ela dependeu de cada disputa em cada um dos distritos. Muito diferente do nosso presidencialismo.
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Fabiano