NOVA ETAPA DO CAPITALISMO DEIXA ESQUERDA SEM RUMO: “O NORTE DA CONSTRUÇÃO DUM NOVO MODELO DEVE SER A LUTA CONTRA A DESIGUALDADE” (parte 4/final)
Sérgio Gabrielli: "Quando estávamos encontrando as respostas, as perguntas mudaram" (Foto: Smitson Oliveira) |
A burguesia brasileira não tem projeto. É preciso identificar o que unifica mais gente contra o poder. Não adianta uma frente só de esquerda. O PT tomará um rumo de completa parlamentarização ou caminhará para liderar uma
frente da sociedade?
Por Jadson Oliveira –
jornalista/blogueiro – editor deste Blog Evidentemente
Concluímos com esta matéria a cobertura da
palestra/debate com o professor de Economia José Sérgio Gabrielli,
ex-presidente da Petrobrás, evento ocorrido em Salvador no dia 27 de julho
último e já objeto de várias matérias deste blog. O contexto continua: o
declínio do desenvolvimento baseado na indústria e a hegemonia do capitalismo
financeiro. Diante das mudanças
estruturais no mundo empresarial e no mundo do trabalho, as forças democráticas
e populares buscam definir tática e estratégia para enfrentar o governo de
extrema direita presidido por Jair Bolsonaro.
GABRIELLI COM A PALAVRA:
“Precisamos encontrar o que unifica mais gente
contra o poder. Não adianta ter uma frente somente de esquerda”
“Precisamos
pensar em formas de luta e vitórias, porque se não tivermos vitórias, na
próxima luta vamos ter menos gente do que nas lutas atuais. Temos que acumular
vitórias e, para isso, precisamos encontrar aquilo que unifica mais gente
contra o poder. Como o poder de direita ampliou sua base, nós estamos isolados.
Temos que disputar esse meio (forças que não apoiam a extrema direita), porque
não adianta ter uma frente somente de esquerda para enfrentar o governo Bolsonaro.
Uma
frente só de esquerda terá no Parlamento uns 100 deputados dentre 513 (se
tiver, aí incluindo PDT, PSB, PCdoB, PSOL, além do PT). E na sociedade vai ter
os 20%/30% que nos acompanham. É insuficiente para enfrentar Bolsonaro.
Uma
frente com a burguesia brasileira? Não, porque eu acho que, estruturalmente, a
burguesia brasileira não tem projeto, ela não vai entrar numa frente contra
Bolsonaro. Pelo contrário, ela está na esperança vã de que o governo Bolsonaro
vai criar condições para que os melhores se salvem (acho que não vai acontecer
isso, mas é essa a esperança que a direita tem hoje).
Então,
onde podemos ampliar? Nos segmentos médios: profissionais liberais, pequenos
comerciantes, dentro das questões regionais entre os que têm esperança de expansão
do mercado interno – isso é fundamental”.
Não há alternativa hoje de centro-esquerda sem o PT.
Ou ele tomará um rumo de completa parlamentarização ou
caminhará para liderar uma frente da sociedade
“Nesse
processo, qual o papel dos partidos? Infelizmente, para quem não gosta, está
crítico – ou felizmente, para quem está a favor -, não há como ter alternativa
hoje de centro-esquerda, sem o PT, não há como. O PT tem 2 milhões de filiados,
é o único partido que tem de fato estrutura nacional, vai ter agora eleições
(internas, o PED – Processo de Eleições Diretas) em 3 mil municípios (de 5 mil
e 500), vai ter agora renovação de diretórios. (Tal processo já foi iniciado).
Queiramos
ou não, o PT é o único instrumento – é uma enxada enferrujada, cheia de dentes?
mas é a única enxada que nós temos e essa enxada está num processo ainda
autofágico (o outro palestrante do dia, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra,
também petista histórico como Gabrielli, tinha feito uma metáfora comparando o
PT com uma enxada que está precisando ser afiada).
Mas vai
sair daí (do processo de renovação dos dirigentes) alguma coisa positiva. Acho
que até o final do ano vai começar a definir um rumo para o partido: ou ele vai
tomar um rumo de completa parlamentarização ou caminhará para ser um partido
que vai liderar uma frente da sociedade disposta a enfrentar as pretensões de
Bolsonaro”.
O centro de nossa ação deve ser a luta contra a
desigualdade, pela redução da pobreza e pela melhoria das condições de vida do povo
“Eu tenho
seguido a lógica do (Antonio) Gramsci (pensador comunista italiano –
1891-1937): precisamos ser pessimistas na razão, mas temos que ser otimistas na
prática, otimistas na ação. Para sermos otimistas na ação, temos que fortalecer
a estrutura partidária, tentar avançar no diagnóstico da situação e na
identificação de quais são os temas e as formas que podem mobilizar o máximo
possível o nosso povo.
Sou uma
pessoa socialista, não sou cristão e sou marxista. Não acredito que o
socialismo esteja em nosso horizonte, não está no horizonte romper com a
propriedade privada no Brasil, não temos a mínima acumulação de forças para
isso.
Assim,
temos que manter como o centro de nossas atividades a luta contra a
desigualdade, pela redução da pobreza e pela melhoria das condições de vida do
nosso povo. Esse é o norte da construção dum novo modelo. Esse norte implica um
papel essencial para o Estado, este Estado que está sendo destruído, desmontado
pelo Bolsonaro.
Não temos
que fazer uma defesa intransigente do que é o atual Estado, mas fazer uma
defesa intransigente das concepções de um Estado que seja capaz de colocar a
distribuição da renda como a razão fundamental do seu ser, do seu significado,
de sua função”.
PS 1: A análise que Gabrielli nos apresentou em Salvador estará presente nos debates dos quais está participando no âmbito do PT e outros partidos e movimentos sociais, a nível nacional, durante este semestre, em busca de resoluções políticas das forças progressistas.
PS 2: Gabrielli fará palestra em Seabra, na Chapada Diamantina (interior da Bahia), no próximo dia 17 de outubro. Este blog vai se encarregar da cobertura jornalística. Aguardem detalhes.
Mais intervenções durante a fase de debates e outras fotos (clicadas por Smitson Oliveira, de Seabra/Chapada):
Mais intervenções durante a fase de debates e outras fotos (clicadas por Smitson Oliveira, de Seabra/Chapada):
Participantes e organizadores do evento, com os dois palestrantes (Olívio e Gabrielli), manifestam-se pela bandeira Lula Livre. |
Os organizadores (Goiano/José Donizette, Valdimiro Lustosa Soares e Osvaldo Laranjeira) preparam pose para foto com os palestrantes. |
O êxito do evento ficou patente na superlotação (em torno de 250 pessoas) do auditório do Sindae (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente da Bahia). |
Comentários
Virginia Botelho Finalmente uma esperança! Muito boa leitura de uma possível reunificação de frente contra a extrema direita bolsonarista. Em frente!
As matérias ficaram muito boas e temos um registro fiel do que foi dito no encontro. Meus parabéns.
Abraços,
Neri