CHÁVEZ SURFA NOS NÚMEROS DAS PESQUISAS E DA ECONOMIA


Os atos de campanha continuam: neste sábado, dia 18, os chavistas receberam o presidente-candidato em San Félix, no estado de Bolívar (Foto: AVN)
A última da Hinterlaces dá 61,45% a 38,55% e os índices da inflação, do crescimento e do desemprego só reforçam a posição do presidente. O que mais preocupa os chavistas é o “plano B” da direita

De Caracas (Venezuela) – Perguntei a um comerciante português (dono de bar e restaurante português por aqui é o que não falta) quem vai ganhar: o presidente Hugo Chávez ou Henrique Capriles, o candidato da oposição? Resposta pronta: Chávez. Por que? Porque onde há 30 ricos, há 70 pobres. A avaliação rasteira do português bate com os resultados de todas as pesquisas de opinião consideradas confiáveis, dando uma diferença que varia de 15 a 30 pontos percentuais a favor do presidente-candidato nas eleições de 7 de outubro. E as variações vêm se mostrando basicamente estáveis desde o início oficial da campanha, em 1º. de julho.

A última pesquisa da Hinterlaces, um dos institutos mais respeitados, divulgada na quinta-feira, dia 16, aponta 61,45% a 38,55%, diferença de quase 23 pontos a favor de Chávez, no caso da pergunta citando os nomes dos dois candidatos. A intenção do voto, sem o estímulo dos nomes, deu: 48% - Chávez; 30% - Capriles; 18% - não sei, não respondeu; 4% - nenhum. Quem você acredita que vai ganhar? 61% - Chávez; 25% - Capriles; 14% - não sei, não respondeu.

Tais números foram reforçados pelos índices da economia fechados com base em junho e julho e divulgados durante a semana passada, dando ao chavismo uma condição mais confortável do ponto de vista eleitoral, se é mesmo que a economia é importante para a população direcionar seu voto, como diz a maioria dos analistas.
A variação anualizada da inflação de janeiro/2010 a julho/2012
A inflação de julho, por exemplo, fechou em 1%, um dado considerado bom para a realidade venezuelana, obrigada a conviver com índices na faixa de até 31% nos últimos dois anos. A variação anualizada vem caindo paulatinamente nos últimos sete meses: estava em 27,6% em dezembro/2011 e agora em julho/2012 chegou a 19,4%, conforme dados do Banco Central e do Instituto Nacional de Estatísticas. A meta do governo para este ano é justamente ficar abaixo dos 20%.

PIB crescendo em tempos de crise

Também o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), nesses tempos magros de crise nos países centrais do capitalismo, foi motivo de júbilo entre as fileiras bolivarianas. O PIB cresceu no segundo trimestre deste ano 5,4%. No semestre ficou em 5,6%, já que no primeiro trimestre tinha crescido 5,8%, superando assim, por enquanto, a meta oficial de 5% prevista no orçamento de 2012. Já a taxa de desemprego ficou em 7,4% em julho, mantendo a tendência de baixa.

O presidente Chávez comemorou esses números, comentando que o crescimento do PIB vem decaindo nos países mais representativos do capitalismo, a exemplo dos Estados Unidos, onde os índices ultimamente têm variado de 1 a 1,5%. Lembrou que na Europa têm batido na casa de 0,2%.

A ameaça de tormentas para as lideranças e militância da chamada revolução bolivariana vem, na verdade, de outros âmbitos. Vem do tal do “plano B” da direita venezuelana e do império estadunidense, que não se conformam com a perspectiva da derrota eleitoral e contam com o respaldo do chamado terrorismo midiático. Não há um dia sequer sem que alguma liderança do governo, da esquerda, dos movimentos sociais - ou o próprio “Comandante” - venha a público, de alguma forma, para alertar contra os riscos de desestabilização, já que – argumentam os chavistas - a oposição sabe que vai perder e se recusa a reconhecer a derrota como uma decorrência natural da escolha dos eleitores. Por exemplo, não reconhece a lisura do “árbitro da partida”, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso TSE). “Vai cantar fraude”, garantem.
No mesmo dia 18, os anti-chavistas receberam seu candidato em Los Valles del Tuy, no estado de Miranda (Foto: Guillermo Suárez/Lapatilla.com)
Ultimamente tal cenário ganhou um ator de peso na direita sul-americana: o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. Quer dizer, mostrou que ainda tem peso, apesar de possíveis desgastes sofridos em seu país, com a prisão recente de familiares e do seu ex-chefe de segurança, general aposentado Mauricio Santoyo Velasco, acusados de envolvimento com o narcotráfico e os paramilitares.

Não faltou tempo a Uribe, “faltaram culhões”

Os chavistas denunciaram ligações de líderes da campanha de Capriles com Uribe e este chegou a declarar que, quando presidente, iria atacar supostas bases guerrilheiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território venezuelano, mas lhe “faltou tempo”. Chávez não perdeu a deixa: respondeu que o problema não foi falta de tempo – “faltaram culhões”, disparou.

Outro dado nessa área nebulosa de temores e ameaças: na semana retrasada o governo anunciou que as forças de segurança tinham prendido um norte-americano, com formação militar, suspeito de ser mercenário. Veio da Colômbia e no seu passaporte, que tentou rasgar ao ser preso, registra passagens por países como Iraque, Afeganistão e Jordânia, dentre outros. Não quis dar informações. Tinha em seu poder um caderno cheio de coordenadas, que rasgou em parte, mas a polícia estava tentando decifrar os escritos.

E há duas semanas, o jornalista José Vicente Rangel denunciou na sua página do Últimas Notícias, considerado o jornal mais lido do país, que “há algo por trás” da campanha midiática de descrédito contra a Força Armada Nacional Bolivariana. “Em política nada é inocente, sobretudo quando provém de setores com experiência desestabilizadora”, diz, frisando que o roteiro é igualzinho ao do golpe de 11 de abril de 2002. Nesta área, particularmente, deve ter informações privilegiadíssimas, pois no golpe de 2002 ele era ministro da Defesa de Chávez. Na noite deste domingo, dia 19, no programa que mantém na emissora privada de TV, a Televen, chamado José Vicente Hoje, Rangel volta à carga repisando sua denúncia (Para ler mais sobre isto aqui no Evidentemente).

É por aí que andam as principais preocupações dos chavistas. É certamente por isso que Chávez, em meio à correria de governar e fazer campanha, “navegando” no mar de gente pelas ruas e praças do país, não esquece de advertir, como o fez num discurso recente: “A nossa revolução é democrática e pacífica, mas não é desarmada”.

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