GOVERNO BAIANO SUBESTIMOU A GREVE DA PM E AGORA CORRE ATRÁS DO PREJUÍZO

Tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança cercam o prédio
da Assembleia Legislativa, ocupado por dezenas de policiais grevistas
(Foto: Jadson Oliveira)
De Salvador (Bahia) – O governo baiano subestimou a força da greve da Polícia Militar, deflagrada na última terça-feira, dia 31. Passou para a população, com a ajuda da mídia, a versão de que o movimento era dirigido por um grupo de radicais sem representatividade entre a categoria e que o comando da corporação estava negociando com os dirigentes de três entidades que realmente teriam a confiança da maioria e não aderiram à greve.

Mas as adesões à paralisação foram crescendo e a realidade desmentiu a versão oficial. Primeiro começou-se a admitir que a greve atingia um terço dos 30 mil integrantes da corporação; na manhã de hoje, segunda, dia 6, dia em que a Assembleia Legislativa, ocupada por centenas de grevistas desde o primeiro dia do movimento, amanheceu cercada por tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança, a avaliação mais corrente é que a adesão chegava aos 80%; e no decorrer do dia, entre manifestações dos grevistas – no prédio da Assembleia e ao seu redor – e demonstrações de força das tropas federais, incluindo manifestantes feridos por tiros de balas de borracha, o percentual de apoio ia espichando: 90%, 95%...

Policial grevista ferido no rosto por bala de borracha
(Foto: Raul Spinassé - Ag. A Tarde)
Soldado Juca, ferido na coxa e também no braço
(Foto: Jadson Oliveira)
Em consonância com isso, o discurso do governo foi mudando: até ontem, não se negociava com homens armados que estariam ameaçando o Estado Democrático de Direito – o governador Jaques Wagner, do PT, dizia acreditar que policiais grevistas teriam algum tipo de participação em atos de vandalismo, nos quais as lideranças negam qualquer responsabilidade.

(Desde o início da greve a população da capital baiana e de muitas cidades do interior, além de viver sob pânico generalizado, grande parte trancada em suas casas, tem sofrido com altíssimos índices de criminalidade: 101 homicídios e cerca de 300 roubos de carros só na Região Metropolitana de Salvador, várias casas comerciais saqueadas e depredadas, tiros disparados contra agências bancárias e outros estabelecimentos, além de uma ação inusitada: homens armados, encapuzados, forçaram motoristas de ônibus a travar o trânsito).

(Foto: Edivaldo Fogaça - jornal Correio)
Diante disso, a prioridade seria – sustentava o governador – o cumprimento dos mandados de prisão já expedidos pela Justiça contra 11 lideranças do movimento (eram 12, mas um se entregou na madrugada de ontem), dentre eles Marco Prisco, o “soldado Prisco” (foto), o principal líder, afastado da PM por sua atuação na greve da categoria em 2001 e ainda lutando pela reincorporação. Ele é coordenador da Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra-BA), a entidade que vinha sendo desqualificada pelo governo.

Nessa linha, as tropas federais que cercam o Legislativo baiano tinham a missão de retirar os incômodos ocupantes e uma força especial da Polícia Federal, chamada de “tropa de elite”, estava encarregada de fazer cumprir os mandados de prisão. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que esteve em Salvador junto com outras altas autoridades federais, chegou a anunciar a reserva de vagas em presídio de segurança máxima para os líderes grevistas (conforme se avalia, o governo federal estaria temeroso de que a greve da PM, que já assustou em Rondônia, Maranhão e Ceará, se espalhe por outros estados, como o Rio de Janeiro, onde a categoria teria assembleia marcada para a próxima quinta-feira).

Barracas armadas pelos homens do Exército dão a impressão de que o cerco
pode demorar (Foto: Jadson Oliveira)
Bem, no decorrer desta segunda-feira, o governo baiano teve de correr atrás do prejuízo, como se diz popularmente. Apesar do cerco na Assembleia com o corte de água, luz e, segundo algumas denúncias, alimentação, a ênfase do discurso passou a ser a negociação. Em entrevista divulgada em torno das 18 horas, pela TV Band, o próprio Wagner falou na abertura de dois canais em busca do entendimento, incluindo um com a participação de dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil.

A negociação – caso se confirme a saída do impasse por essa via – deverá se centrar em duas reivindicações: anistia aos líderes do movimento, que parece bem indigesta para o governo, especialmente porque inclui o “soldado Prisco”, tão estigmatizado como radical (item do qual os grevistas certamente não abrem mão); e o cumprimento de lei de 1997, que estabelece os valores da Gratificação por Atividades Policiais (GAP), lei que, segundo os grevistas, não é cumprida pelos governantes do estado desde aquela data. Seu cumprimento significaria um reajuste salarial de 40% a 50%. O governador voltou a garantir um reajuste de 6,5% a partir de janeiro/2012, comentando que o salário inicial do soldado da PM baiana é R$ 2.326,00.

Comentários

Ernandes Santos disse…
Por conta das "entrevistas ensaiadas", cada vez mais comuns na imprensa baiana, perguntas essenciais não são feitas para não constranger os entrevistados parceiros. Mesmo assim, gostaria de saber por que:

O governador insiste em atribuir aos policiais os atos de vandalismos, furtos, roubos, assassinatos se não foram apontados os autores, nem qualquer resultado de investigação ou apuração foi divulgada?

O governador afirmou, em entrevista a Folha de São Paulo, que "a figura da anistia não existe, ela só existe quando se encerra um regime de exceção" se em 2010 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 12.191/2010, que anistiou policiais e bombeiros militares de nove estados?

O Estado alega falta de recursos para dar gratificação pedida por grevistas se esta gratificação já estava prevista em lei e, portanto, deveria fazer parte do orçamento?
Anônimo disse…
Se todos os trabalhadores que necessitassem negociar suas campanhas salariais se comportassem como os policiais grevistas da PM o que aconteceria? Seus filhos não seriam socorridos nos hospitais;os jornais não circulariam, não teríamos nenhum noticiário na tv;os ônibus parariam de circular por mais de sete dias.Os funcionários públicos (todos)não trabalhariam e assim sucessivamente.
Acredito que a negociação salarial faz parte do jogo democrático, agora levar esse caos à cidade às vésperas de uma festa que sustenta uma parte da economia baiana é demais.É pura irresponsabilidade dos grevistas. E o Ministério Público, serve pra que? Não se obedece mais???
Outra:o blog deveria publicar tb a dor de negros e negras que são espancados inocentemente pela PM em todo o estado, quando não são assassinados sem direito a defesa. A bala de borracha doeu neles agora??
Anônimo disse…
Se todos os trabalhadores que necessitassem negociar suas campanhas salariais se comportassem como os policiais grevistas da PM o que aconteceria? Seus filhos não seriam socorridos nos hospitais;os jornais não circulariam, não teríamos nenhum noticiário na tv;os ônibus parariam de circular por mais de sete dias.Os funcionários públicos (todos)não trabalhariam e assim sucessivamente.
Acredito que a negociação salarial faz parte do jogo democrático, agora levar esse caos à cidade às vésperas de uma festa que sustenta uma parte da economia baiana é demais.É pura irresponsabilidade dos grevistas. E o Ministério Público, serve pra que? Não se obedece mais???
Outra:o blog deveria publicar tb a dor de negros e negras que são espancados inocentemente pela PM em todo o estado, quando não são assassinados sem direito a defesa. A bala de borracha doeu neles agora??
Anônimo disse…
E outro absurdo: levar mulheres e crianças para o local. Que irresponsabilidade. São tão egositas que nem pensam nos filhos.
artur carmel disse…
Meu caro e nobre blogueiro/jornalista formado Jadson.
Evidentemente que o gov e sua área de informação vacilaram em não estarem 'plantados' para o movimento. Mas discordo de vc, quando colocou em seu texto da cobertura da greve, de que os caras que 'aprontaram' nos primeiros dias da greve não eram policiais. Quem seriam, bnandidos contratados pelos policiais para atirarem para cima, atravessar ônibus nas principais vias da cidaede, enfim, tocar terror na área ? Ou eram provocadores contratados pelo próprio governo ?
Jadson disse…
Companheiro Carmel, não sei onde eu teria afirmado que "os caras que 'aprontaram' nos primeiros dias da greve não eram policiais". No meu texto eu disse que "o governador Jaques Wagner, do PT, dizia acreditar que policiais grevistas teriam algum tipo de participação em atos de vandalismo, nos quais as lideranças negam qualquer responsabilidade".
Anônimo disse…
Que bom que o senhor Carmel escreveu jornalista formado, porque é justamente o que o jornalista aprende a escrever, SEM TOMAR POSIÇÃO. O texto aponta claramente fatos como são narrados pelos envolvidos, em nenhum momento Jadson afirmou nada de si próprio.

Tenho muito orgulho dos textos dele!

Quanto à violência racista mencionada pelo anônimo... provavelmente está certo: como dizia o saudoso Gey Espinheira: é a sociedade do medo!

Só vai como anônimo porque fechei minha conta no google.

Fabiano (filho de Jadson)
Anônimo disse…
Não é so os policiais q tratam negros como bandidos, mas todos os civis preconceituosos.
Como um governador, antes de se eleger, apoia todas as greves e depois se comporta dessa maneira?
Quanto a "grande festa baiana", acaba tarde,pois eu so vejo brancos e ricos se divertindo e os NEGROS baianos trabalhando.Rubia.