PELA IMEDIATA LIBERTAÇÃO DE JULIAN ASSANGE

E as nossas bandeiras ainda estão lá — And Our Flags Are Still There — arte de Mr. Fish (Foto: Mr. Fish)


“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

Por Chris Hedges (jornalista)

Declaração de Chris Hedges em manifestação no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York

4 de maio de 2023, 16:46 h Atualizado em 4 de maio de 2023, 17:17 

(As matérias foram transcritas do site Brasil 247)

Esta é uma fala que fiz numa manifestação no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York, clamando pela libertação imediata de Julian Assange.

Originalmente publicado no The Chris Hedges Report em 3/5/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz, com exclusividade para o Brasil 247.

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(As três matérias são transcritas do site Brasil 247)

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(Do site Brasil 247) A detenção e perseguição de Julian Assange eviscera todos os fingimentos do estado de direito e dos direitos de uma imprensa livre. As ilegalidades, abraçadas pelos governos do Equador, do Reino Unido, da Suécia e dos EUA são ameaçadoras. Elas pressagiam um mundo no qual as maquinações internas, os abusos, a corrupção, as mentiras e os crimes, especialmente os crimes de guerra, executados por estados corporativos e a elite dominante mundial, serão mascaradas ao público. Elas pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário. Elas pressagiam a distopia Orwelliana na qual a notícia é substituída pela propaganda, por trivialidades e entretenimento. Eu temo que o linchamento legal de Julian marque o início oficial do totalitarismo corporativo que definirá as nossas vidas.

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(Transcrito do site Brasil 247) Sob qual lei o presidente equatoriano Lenin Moreno acabou por capricho com os direitos de asilo de Julian enquanto refugiado político? Sob qual lei Moreno autorizou a polícia britânica a entrar na embaixada equatoriana — sancionada diplomaticamente como território soberano — para prender um cidadão naturalizado do Equador? Sob qual lei Donald Trump criminalizou o jornalismo e exigiu a extradição de Julian, que não é um cidadão estadunidense e cuja organização de notícias não se sedia nos EUA? Sob qual lei a CIA violou o privilégio de advogado-cliente, vigiou e gravou todas as conversas de Julian, tanto digitais quanto verbais, com os seus advogados e conspirou para sequestrá-lo da embaixada e para assassiná-lo?

O estado corporativo eviscera os direitos consagrados por decreto judicial. É assim que temos o direito à privacidade, sem privacidade. É assim que temos eleições “livres” financiadas pelo dinheiro corporativo, cobertas pelas mídias corporativas e sob o controle férreo das corporações. É assim que temos um processo legislativo sem o devido processo legal. É assim que temos um governo, cuja responsabilidade fundamental é a de proteger os cidadãos, que ordena e executa assassinatos dos seus próprios cidadãos, como o clérigo muçulmano Anwar al-Awlaki e o seu filho de 16 anos. É assim que temos uma imprensa a qual é permitido legalmente publicar informações classificadas e o publisher mais importante da nossa geração está sentado em confinamento solitário numa prisão de alta segurança, aguardando a sua extradição para os EUA.

A tortura psicológica de Julian — documentada pelo relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer — espelha a quebra do dissidente Winston Smith na novela “1984” de George Orwell. A Gestapo quebrava ossos. A Stasi da Alemanha Oriental quebrava almas. Nós também refinamos as formas mais brutas de tortura para destruir tanto almas quanto corpos. Isto é mais eficaz. É isto que eles estão fazendo com Julian, degradando constantemente a sua saúde física e psicológica. Este é uma execução em câmera lenta. Isto é feito de propósito. Julian passou a maior parte do tempo em isolamento, é frequentemente sedado e lhe foi negado tratamento médico para uma variedade de doenças físicas. É-lhe negado rotineiramente o acesso aos seus advogados. Ele perdeu muito peso, sofreu um AVC leve, passou algum tempo na ala hospitalar da prisão — a qual os prisioneiros chamam de ala do inferno — porque ele está em estado de suicídio, foi colocado em confinamento solitário prolongado, foi observado batendo a sua cabeça na parede e tendo alucinações. Esta é nossa versão do temido Quarto 1010 de Orwell.

Julian foi marcado pela CIA para ser eliminado depois que ele e o WikiLeaks publicaram o documento conhecido como Vault 7, o qual expôs o arsenal de guerra cibernética da CIA — incluindo dezenas de vírus, trojans, sistemas de malware por controle remoto programados para explorar uma ampla gama de produtos estadunidenses e europeus, incluindo o iPhone da Apple, o Android do Google, o Windows da Microsoft e até as Smart TVs da Samsung, que podem ser usados como microfones clandestinos quando parecem estar desligados.

Eu passei duas décadas como correspondente estrangeiro. Vi como as ferramentas brutais da repressão são testadas naqueles que Frantz Fanon chamou de “os miseráveis da Terra”. Desde o seu início, a CIA executou assassinatos, golpes de estado, torturas, campanhas de propaganda suja, chantagens e espionagem ilegal e abusos, incluindo de cidadãos estadunidenses, atividades expostas em 1975 pelas audiências públicas do Comitê Church no Senado dos EUA e nas audiências do Comitê Pike na Assembleia Federal de Representantes. Todos estes crimes, especialmente após os ataques de 11/9/2001 [torres-gêmeas de NY], voltaram como uma vingança. A CIA tem as suas próprias unidades armadas e um programa de drones, esquadrões da morte e um vasto arquipélago global de prisões clandestinas nas quais as vítimas sequestradas são torturadas e desaparecidas.

Os EUA alocam um orçamento clandestino secreto de cerca de US$ 50 bilhões por ano para esconder múltiplos tipos de projetos clandestinos executados pela Agência Nacional de Segurança [NSA — National Security Agency], pela CIA e por outras agências de inteligência — geralmente fora do escrutínio do Congresso dos EUA. A CIA tem um aparato bem lubrificado, que é a razão pela qual, já que tinha montado um sistema de vigilância por vídeo de 24 horas por dia de Julian na embaixada equatoriana em Londres, enquanto discutia naturalmente o sequestro e o assassinato de Julian. Este é o negócio deles. O Senador Frank Church — após examinar os documentos pesadamente censurados da CIA que foram disponibilizados ao seu comitê — definiu as “atividades clandestinas” da CIA como “um disfarce semântico para assassinatos, coerção, chantagem, suborno, a disseminação de mentiras e associações com conhecidos torturadores e terroristas internacionais”.

Tema os manipuladores das marionetes, não as próprias  marionetes. Eles são o inimigo que vem de dentro.

Esta é uma luta por Julian, a quem conheço e admiro. Esta é uma luta pela sua família, que está trabalhando incansavelmente pela sua libertação. Esta é uma luta pelo estado de direito. Esta é uma luta pela liberdade de imprensa. Esta é uma luta para salvar o que resta da nossa diminuída democracia. E esta é uma luta que nós não podemos perder.

Chris Hedges: Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

 

Entenda por que Assange é considerado um herói do jornalismo investigativo e mobiliza entidades de direitos humanos

Preso desde 2019 no Reino Unido, ele revelou importantes segredos de guerra

247 – Preso desde 2019 no Reino Unido, Julian Assange é um jornalista, ativista e fundador do site Wikileaks, que ficou famoso por divulgar informações confidenciais e documentos secretos de governos, empresas e organizações ao redor do mundo.

A importância de Assange para o jornalismo mundial está relacionada com a sua defesa da liberdade de imprensa e da transparência governamental. Ele acreditava que a sociedade tem o direito de saber o que seus governos estão fazendo em seu nome e que o jornalismo tem o dever de investigar e divulgar informações relevantes para o público.

Assange foi responsável por divulgar informações importantes, como os documentos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que mostraram conversas entre diplomatas americanos e líderes de outros países e revelaram ações secretas dos Estados Unidos no exterior, assim como a ação durante a invasão do Iraque.

Assange também contribuiu para o desenvolvimento do jornalismo investigativo, ao incentivar a publicação de informações confidenciais e ao promover o uso da tecnologia para proteger a identidade de fontes e jornalistas.

O papel de Assange na guerra do Iraque

Julian Assange e o Wikileaks divulgaram vários documentos secretos sobre a guerra do Iraque, que revelaram informações importantes sobre a atuação dos Estados Unidos e de outros países no conflito.

Um dos documentos mais divulgados foi um vídeo que ficou conhecido como "Collateral Murder", que mostrava um ataque aéreo dos Estados Unidos em Bagdá, em 2007, que matou 12 pessoas, incluindo dois funcionários da agência de notícias Reuters. O vídeo mostrou soldados americanos atirando em civis desarmados, incluindo um motorista de táxi e crianças que estavam próximas ao local do ataque. A divulgação do vídeo gerou indignação em todo o mundo e levantou questões sobre a conduta dos soldados americanos no Iraque.

Além disso, o Wikileaks divulgou milhares de relatórios militares confidenciais que mostravam o número de civis mortos no conflito, ações violentas cometidas por soldados americanos e outras informações que colocaram em dúvida a versão oficial dos Estados Unidos sobre a guerra do Iraque.

Os documentos também revelaram que os Estados Unidos permitiram que tropas britânicas e americanas entregassem prisioneiros iraquianos a grupos de milícias que os torturaram e mataram. Além disso, os documentos mostraram que as forças americanas mantiveram um registro de 109.032 mortes no Iraque, incluindo 66.081 civis, entre 2004 e 2009.

A divulgação desses documentos e informações trouxe à tona questões importantes sobre a conduta dos Estados Unidos e de outros países no conflito, e teve um impacto significativo na opinião pública sobre a guerra no Iraque.

Na Inglaterra, Lula defende soltura de Assange e cobra mobilização da imprensa mundial: "prisão vergonhosa"

"O jornalista denunciou que um Estado estava vigiando os outros e isso virou crime contra ele? E a imprensa não faz um movimento para libertar esse cidadão?", questiona o presidente.

6 de maio de 2023, 13:30 h Atualizado em 6 de maio de 2023, 13:30

247 - Durante coletiva de imprensa em Londres neste sábado (6), o presidente Lula (PT) defendeu a soltura do jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks preso por revelar ao mundo documentos do Departamento de Estado dos EUA, que mostraram conversas entre diplomatas americanos e líderes de outros países e revelaram ações secretas do país no exterior, assim como a ação durante a invasão do Iraque.

Assange está preso justamente em Londres, a cerca de 10 km onde o chefe de Estado brasileiro falou com jornalistas na manhã de hoje. O jornalista aguarda um caso de extradição para os EUA.

"Eu acho uma vergonha. É uma vergonha que o Assange, um jornalista que denunciou falcatruas de um Estado contra os outros, esteja preso, condenado a morrer na cadeia, e a gente não faça nada para libertá-lo. É um negócio maluco, a gente que briga e fala em liberdade de expressão, e o cara está preso porque denunciou as falcatruas. E a imprensa não se mexe na defesa desse jornalista, eu sinceramente não consigo entender", declarou Lula quando questionado sobre o tema. 

O presidente reforçou que conversará com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, por telefone sobre o assunto quando retornar ao Brasil, e cobrou uma mobilização da imprensa internacional em defesa de Assange: "eu até peço perdão porque foi um assunto que esqueci de falar com o primeiro-ministro, vou ligar para ele quando chegar no Brasil. Acho que é preciso um movimento da imprensa mundial em defesa da liberdade dele. Na defesa da liberdade para denunciar as coisas". 

"Ele denunciou que um Estado estava vigiando os outros e isso virou crime contra o jornalista? E a imprensa, que defende a liberdade de imprensa, não faz um movimento para libertar esse cidadão?", questionou Lula.

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