NÚMEROS INDICAM FAVORITISMO DE LULA, MESMO COM DERROTA NO SUDESTE

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
"Cenário aponta para a derrota do bolsonarismo - ainda que por margem mais estreita do que gostaríamos de ver"

Por Rodrigo Vianna – jornalista, âncora do programa Boa Noite 247 – em 05/outubro/2022 (atualizado em 06/outubro/2022)

Lula teve ótima votação no primeiro turno, dentro de um cenário que este jornalista por exemplo sempre desenhou nas transmissões da TV 247: o mais provável, pela história e pelas curvas dos candidatos, sempre foi eleição em dois turnos. Então, 48,5% dos votos para alguém perseguido durante quase dez anos foi uma vitória tremenda.

O que espantou os setores democráticos foi a arrancada para a vitória no Congresso de personagens nefastos ligados a Bolsonaro, aliada ao fato de que o capetão obteve 43% dos votos, ficando a apenas 5 pontos de Lula.  

Nos últimos dias, vejo certo desespero entre apoiadores de Lula e da Democracia. "Ah, Bolsonaro teve 1,7 milhão de votos de vantagem sobre Lula em São Paulo, isso é muito perigoso".

Oh, que espanto! Perigoso, é. Mas o PT desde 2006 perdeu todas as eleições presidenciais em São Paulo. Mesmo assim, foi capaz de ganhar nacionalmente (com exceção de 2018).

Dessa vez, a derrota em São Paulo não foi feia. Lula venceu na capital e na região metropolitana. Ganhou ou perdeu por pequena diferença em cidades médias/universitárias (Araraquara, São Carlos). E perdeu por margem maior no interior profundo - que tem hegemonia do agro e identidade mais próxima com o Centro Oeste do Brasil.

Foi um susto? Ok. Mas a turma talvez esteja esquecendo de olhar para a fortaleza impressionante que Lula tem no Nordeste.

"Ah, são estados menos populosos do que São Paulo, então não fazem tanta diferença". Opa, calma. Olhe para os números que trago a seguir.

Só no estado do Ceará, Lula abriu 2,2 milhões de votos de diferença no primeiro turno. Ou seja: o Ceará compensou a derrota em São Paulo. E ainda sobraram quase 500.000 votos de lambuja para equilibrar também a derrota petista no Espírito Santo. A equação é: CE = SP + ES.

Da mesma forma, a vantagem estrondosa obtida por Lula na Bahia (um estado imenso) compensou a derrota no Rio, Paraná e Santa Catarina. 

O resumo é: Lula perdeu "de pouco" em SP/RJ e ganhou "de muito" no Nordeste. Motivo para salto alto? Nenhum. Mas tampouco para desespero.

Sejamos pessimistas e imaginemos que Lula não consiga recuperar terreno no Sudeste e no Sul, no segundo turno. Pensemos no seguinte quadro:

- Bolsonaro amplia a diferença em São Paulo, no segundo turno, para 2,5 milhões de votos sobre Lula;

- no Rio, a diferença pró Bolsonaro cresce de 1 milhão para 1,5 milhão de votos;

- e em Minas o apoio de Zema faz mágica e Bolsonaro inverte o jogo, em vez da derrota por 600 mil votos ocorrida dia 2, livra agora 600 mil votos sobre Lula, numa virara inédita em terras mineiras.

Somando isso tudo, Bolsonaro teria uma diferença de 5 milhões de votos no Sudeste. É bastante, eu sei. Mas é menos da metade da diferença que Lula deve abrir no Nordeste.

Bolsonaro tem apoio e máquinas estaduais em Minas, São Paulo e Rio. Lula tem apoio e máquinas fortes no Ceará, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e também no Pará da família Barbalho.

A seguir, uma simulação da diferença de votos, por região, supondo que no segundo turno Bolsonaro amplie a vantagem onde já venceu no primeiro (Sudeste, Sul e Centro Oeste), conquistando a maior parte dos eleitores de Ciro/Tebet/Outros e alguns brancos/nulos/abstenções; enquanto Lula faria movimento semelhante, ampliando as margens nos estados onde já venceu (Nordeste e parte do Norte).

* Sudeste: Bolsonaro abre 5 milhões de votos

(2,5 milhões SP, 1,5 milhão RJ, 600 mil MG, 400 mil ES)

* Sul: Bolsonaro abre 3,5 milhões de votos

(1,5 milhão PR, 1,5 milhão SC, 500 mil RS)

* Centro Oeste: Bolsonaro abre 1,5 milhão de votos

* Norte: Lula abre pequena vantagem de 500 mil votos, graças ao peso do Pará lulista

* Nordeste: Lula abre 13 milhões de vantagem 

(4 milhões BA, 2,5 milhões CE, 2 milhões PE, 1,5 milhão MA, 1 milhão PI, 2 milhões PB/AL/SE/RN)

A vantagem de 10 milhões de votos de Bolsonaro - obtida no Sul, Sudeste e Centro Oeste - é revertida pela diferença brutal pró-Lula no Nordeste: 13 milhões, pelas minhas simulações (feitas sem exagero, e sendo sempre mais "otimista" com Bolsonaro). 

Isso quer dizer que, por essa simulação "pessimista" para Lula, o petista ainda teria vantagem por margem entre 3 e 4 milhões de votos - muito parecida com a vitória de Dilma em 2014.

Agora, esqueça as contas.

O mais provável é que a vitória de Lula não seja tão apertada, porque ele tem condições de recuperar terreno no Rio (com Eduardo Paes e o PDT de Rodrigo Neves entrando pesado na campanha), reduzir danos em São Paulo e segurar vantagem pequena/empate em Minas. O Rio Grande do Sul é outro estado em que Lula pode reduzir diferença, a depender da aliança local com Leite do PSDB. 

Por isso tudo, sigo a dizer: o mais provável é que Lula chegue ao fim do segundo turno com uma vantagem na casa de 53 x 47 ou até de 54 x 46.

Não se trata do que dizem pesquisas, mas do voto lulista profundamente enraizado no Nordeste, em parte de Minas e em periferias de capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.  

Lula é favorito - a não ser que Bolsonaro consiga tirar uma quantidade significativa de votos do próprio Lula no segundo turno, algo absolutamente inédito (líder do primeiro turno jamais reduziu seu montante no segundo turno, desde 1989) e algo que a extrema-direita não conseguiu fazer até agora, mesmo batendo em Lula durante meses de campanha.

A vitória está garantida? Não. Será preciso lutar muito pela defesa da Democracia. Mas o cenário aponta para a derrota do bolsonarismo - ainda que por margem mais estreita do que gostaríamos de ver.

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