“NOM OMNE QUOD LICET HONESTUM EST” (Nem tudo que é legal é honesto)

Valdimiro Lustosa: "Pensemos melhor e tenhamos ação" (Foto: Facebook)

“As instituições políticas, religiosas e educativas contribuem para gerar a ideologia que confunde o interesse da classe capitalista dominante com o interesse geral”.

Por Valdimiro Lustosa – ex-dirigente sindical bancário, bacharel em Direito

Em determinados momentos da conjuntura de um país, as instituições perdem totalmente a sua importância. Elas passam a existir somente para referendar o que os donos do poder querem. Vejamos a situação do Brasil: para que serve mesmo o legislativo? Para fazer leis, dirão os deputados e senadores. Mas, que leis? A formação da lei já vem com defeito de origem. É a elite que faz a lei. Escreve-a a seu gosto, voltada para seus principais interesses.

Para tanto, banca a eleição dos seus deputados e senadores. Por isso é que se ouve falar da bancada ruralista ou bancada do boi, da bancada evangélica ou bancada da bíblia, da bancada da bala etc. Da mesma forma, pergunta-se: para que serve o judiciário? Para julgar à luz das leis elaboradas por um legislativo corrupto e representante da elite. Ora, na realidade o judiciário serve mesmo é para referendar os interesses da burguesia. Assim também se pode dizer do mesmo papel que exercem a Polícia Federal e o Ministério Público. Todos atendem aos interesses dos homens do dinheiro.

Quando o cidadão comum procura a justiça, ela não atende ou leva anos a fio para dizer, invariavelmente, NÃO ao pleito do suplicante. Claro que existem exceções. Há juiz e juiz ou como diz a frase: ainda há juízes em Berlim, frase atribuída ao moleiro que havia herdado do seu pai o moinho de vento intitulado moinho de Sans-Souci (episódio ocorrido na Prússia no Século XVIII, quando o Rei Frederico II tentou remover o moleiro das suas terras para ampliar o palácio).
   
O segmento da justiça que ainda atendia um pouco melhor os anseios do hipossuficiente era a Justiça do Trabalho, logo ajustada aos interesses do patronato (vide reforma trabalhista).  É só olharmos a redução de processos demandados nos TRTs Brasil afora. Por conta disso, centenas de escritórios de advocacia trabalhista encerraram suas atividades. Quantos ficaram desempregados! E o povo o que diz de tudo isto? Nada, absolutamente nada. Por quê? No meu entendimento, vários fatores contribuem para tanto. Primeiro, a mídia alimenta o discurso do governo ao apoiar os seus projetos, a exemplo das reformas trabalhista e previdenciária, porque os jornais e TVs são pagos para isto; por outro lado, o governo usa as igrejas concedendo-lhes benefícios (isenções fiscais) para que elas defendam  a política do governo.

Assim, elas avocam o nome de Deus para amortecer uma possível revolta das pessoas.  E os fiéis podem até passar fome, mas não deixam de pagar o dízimo porque são iludidos pelos pregadores do evangelho que prometem o reino do céu. Uma pregação que já faz mais de 2.000 anos e ninguém conhece ninguém que tenha alcançado o reino do céu e que viesse aqui na Terra dizer como é o reino do céu aqui prometido.

A burguesia se delicia com tudo isso. Aliás, ela nunca vem de cara limpa falar diretamente com o povão. A História demonstra que a classe poderosa nunca se apresenta de cara descoberta tal como é. Cobre-se com as bandeiras da religião ou do patriotismo. Acontece que, apenas reconhece e proclama como bom para todos, aquilo que é bom para ela. Por detrás do Estado existe toda uma malha doutrinal, de valores, mitos, instituições e outras tantas formas de iludir.

As instituições políticas, religiosas e educativas contribuem para gerar a ideologia que confunde o interesse da classe capitalista dominante com o interesse geral, justificando as relações de classe existentes como as únicas naturais e, portanto, perpétuas e inalteráveis. Todas essas instituições se conjugam na criação de uma consciência uniforme, para conferir unidade ao pensamento burguês.

Para preservar o sistema que os favorece, os ricos e poderosos investem muito na persuasão. É nesse contexto geral que intervêm nos meios de comunicação de massa e na capacidade dos pregadores do evangelho que têm um poder de persuasão muito eficiente. O governo, que é representante da burguesia, faz “dobradinha” com as igrejas e até usa o espaço físico religioso como comitê de um futuro partido político. Enquanto isso, a promessa do reino do céu continua nas pregações das igrejas. Até quando não se sabe. O reino do céu fica parecendo as tabuletas dos armazéns e bares do interior do nosso país: FIADO SÓ AMANHÃ! Haja paciência!

Baudelaire em um dos seus textos, assim se expressou:

É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

O poeta tinha razão. Como enfrentar tamanha perversidade? Acho que temos que nos embriagar mesmo de virtude, de coragem e fazermos como fez o povo do Chile que já nos apontou o caminho. Pensemos melhor e tenhamos ação. O que  estamos  vendo no Brasil é algo assustador. Não sabemos quando isto terá fim. Alea jacta est!

Comentários

Unknown disse…
Concordo Lustosinha. É tudo um faz de conta, uma farsa. Precisamos mesmo nós embriagar. Deta.