Os adversários do PT estimularam um sentimento
generalizado de ódio, enquanto os poderosos de verdade continuam invisíveis,
controlando nossos destinos e desumanizando nossa existência.
Por Fabiano
Viana Oliveira (professor na área de Ciências Sociais) - nas conclusões (de 04/06/2018) do livro ‘Em busca da verdade II – Bioética,
Hipocrisia e Antipetismo’, páginas 102/103/104 (título e destaque acima são
da edição deste blog)
Recentemente um
trabalho tem causado bastante debate na sociologia, antropologia e história
brasileiras: A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato, de Jessé Souza. O
debate versa em torno da crítica sobre a noção de patrimonialismo como a
principal causa do atraso e da corrupção no Estado brasileiro. Tratamos um
pouco disto nesta última parte do livro e de certo modo reproduzimos a crença
construída de este patrimonialismo, isto é, a privatização da coisa pública,
ser a causa e justificativa para o Brasil ser como é. O elemento novo que Jessé
Souza traz é a do escravismo como verdadeiro molde do pensamento nacional, que
torna todas as pessoas em potenciais humilhadores do outro, apenas pelo outro
ser mais fraco, mais pobre ou negro.
Tento ver desse
novo aprendizado que tanto o antipetismo, o antiesquerdismo e a hipocrisia por
conhecimento parecem servir ao mesmo propósito, no Brasil (talvez também na
América escravista), de manter essa mentalidade de submissão. Se por um lado
somos submissos como povos que de fato nunca alcançaram real independência
(hoje a dependência do mercado é o que conta), por outro lado ansiamos nos
tornar senhores, isto é, aqueles que submetem os outros. Essa forma de pensar e
de agir parece bastante condizente com o suposto espírito competitivo do
capitalismo, que apresentamos como inviabilizador da bioética no primeiro
capítulo. O discurso apologético da pura meritocracia serve ao propósito de
esconder as desigualdades históricas inerentes de sociedades com esse espírito
escravista. A competição livre real não existe. O que existe são os poucos
poderosos de sempre por cima e logo abaixo um monte de servos se agarrando na
fé de um dia estar realmente junto dos poderosos, assim não se identificando
(não tendo empatia) com a grande massa de excluídos que está lá embaixo dessa
pirâmide. O próprio David Ricardo, economista liberal clássico, colocava essa
visão para o futuro do capitalismo.
Assim, no caso do
antipetismo, suas origens estão nessa mentalidade escravista por duas razões:
um produto do próprio PT ao promover governos de parca inclusão social
despertou o ressentimento dos semi-privilegiados; outra, produto dos seus
adversários que estimularam esse ressentimento latente no momento mais
apropriado, criando um sentimento generalizado de ódio, que agora,
aparentemente fora de controle, faz parte do nosso dia a dia, enquanto os
poderosos de verdade continuam invisíveis, controlando nossos destinos e
desumanizando nossa existência, tornando-nos meros recursos para um sistema
produtivo fadado à obsolescência.
A hipocrisia serve
como uma proteção, pois não vemos essa nossa situação, mas apontamos para os
erros dos outros. E forçando um pouco a barra vemos que o esforço da bioética
em vigiar a biotecnociência é inviável, já que a decisão final está nos
poderosos e não nos agentes: pesquisadores, cientistas ou filósofos.
São conclusões um
tanto tristes, mas são as que consegui chegar ao final desse processo de
argumentação, reflexão e contra argumentação, mantendo ao máximo a honestidade
de meus propósitos, que não estão livres de opiniões e ideologias. Espero que
você leitor tenha aprendido algo com essa leitura, mesmo que seja para
discordar, de repente podendo até me apresentar uma visão mais otimista ou
apontar erros no meu argumento que possam aprimorar o mesmo.
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