José Sérgio Gabrielli (Fotos de diversas páginas do Facebook) |
A banda
progressista da Bahia fez expressivo ato de desagravo, na Reitoria da UFBa, contra
a perseguição bancada pelo governo obscurantista de Bolsonaro, o lavajatismo e a
mídia hegemônica.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro)
– editor do Blog Evidentemente
O serviço de som estava ruim e o ar condicionado
não ajudava a amenizar o calor do verão baiano – reflexo da asfixia financeira
imposta pelo governo Bolsonaro às universidades federais. Mas, mesmo assim, o
professor José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, foi objeto de consagradora
homenagem na noite da quarta-feira, dia 22, no auditório da Reitoria da UFBa,
em Salvador.
Foi um baita desagravo. Vítima de perseguição
política, por supostas irregularidades na direção da estatal do petróleo, ele teve
sua aposentadoria como professor titular da Faculdade de Ciências Econômicas da
UFBa suspensa pelo governo federal.
(Irregularidades nunca comprovadas, mas também
nunca desmentidas, como é do modus
operandi da Operação Lava Jato e os alvos prediletos do suposto combate à
corrupção. Com suas ramificações no Judiciário e mídia hegemônica, tendo à
frente a Globo).
Aposentou-se depois de 36 anos e dois meses de
trabalho. Era, portanto, uma medida totalmente descabida e a Justiça
restabeleceu logo seu direito. Mas amplos setores progressistas da sociedade
baiana fizeram questão de mostrar publicamente sua indignação.
O ato, intitulado ‘Por Gabrielli, pela democracia’,
foi puxado pela APUB (sindicato dos professores das universidades federais da
Bahia) e Sindipetro (sindicato de petroleiros da Bahia). E o manifesto, que
ressalta o “total e irrestrito apoio” a Gabrielli, foi assinado também por
outras dezenas de entidades do movimento social e político.
Muita gente representativa da resistência
democrática, popular, de esquerda e nacionalista estava lá – em torno de 350
pessoas (infelizmente, pouquíssimos jovens!). Em especial, gente do meio
acadêmico e político, bem como ligada à Petrobras, como, por exemplo, Guilherme
Estrella, destacado servidor da empresa que dirigiu trabalhos de pesquisa e
exploração que levaram à descoberta do pré-sal. Ele veio a Salvador
especialmente para participar do evento.
Emiliano José |
Foi uma bela e sincera exaltação duma vida de
militância política, iniciada desde a adolescência no movimento estudantil e continuada
na criação e lutas seguintes do PT e da CUT. Resultando na formação dum notável
quadro da esquerda brasileira, testado, lapidado e reconhecido nacionalmente
quando dirigente da Petrobras durante os governos Lula e Dilma.
Foi o jornalista e ex-deputado Emiliano José quem
conseguiu arrancar os gritos de entusiasmo da plateia e da mesa – às vezes,
eles, os gritos (“por Gabrielli, pela democracia”), ficam contidos à espera
duma oportuna provocação – ao citar os célebres versos de Bertold Brecht, para fechar
o relato sobre a militância do homenageado:
“Há homens que lutam um dia e são bons,
há outros que lutam um ano e são melhores,
há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.
Palavras, aliás, que servem muito bem para o
próprio Emiliano e, também, para grande parte dos presentes: homens e mulheres
de cabelos grisalhos/brancos, uns carecas, outros barrigudos, na faixa dos
60/70 anos, que ainda parecem acreditar num mundo melhor, menos injusto e menos
desigual.
Emiliano lembrou um lado publicamente pouco
conhecido de Gabrielli: é que ele começou a “ganhar a vida”, como se diz, como
jornalista, trabalhando na equipe que iniciou o jornal Tribuna da Bahia, em
1969, nos tempos da ditadura – a institucionalizada, a escancarada, a da
censura governamental (e não a dos patrões).
Emiliano contou alguns episódios interessantes sobre
as frequentes prisões de Gabrielli, entrelaçadas com o dia-a-dia da redação do
jornal e de encontros casuais com chefes militares que comandavam a repressão.
Certamente serão incluídos – se já não o foram – nas memórias que anda
escrevendo e deliciando os antigos colegas. (Emiliano começou no jornalismo
também na Tribuna, um pouco depois, em outubro/1974, logo após sair da prisão).
A
institucionalidade é o que atravanca o movimento popular
O político mais graduado que apareceu por lá foi o
senador Jacques Wagner, do PT, o homem que ostenta o galardão de acabar com o
“reinado” na Bahia do velho ACM (ex-governador Antonio Carlos Magalhães), na
eleição de 2006.
Com sua empolgante oratória, o ex-governador baiano
despertou repetidos aplausos ao dar seu testemunho sobre esta grande figura que
é Gabrielli. E, claro, sobre este triste momento em que a extrema-direita executa
o processo de destruição dos avanços sociais que vinham sendo conquistados nos
governos liderados pelo PT.
En passant, Wagner aproveitou para fazer um
pouco de autocrítica quanto à forma de atuação das forças progressistas, na
medida em que subiam – a partir dos anos 80 - os diversos degraus do poder
político, chegando inclusive à Presidência e ao governo da Bahia: a prioridade
que a esquerda e centro-esquerda passaram a dar à institucionalidade, em
detrimento dos movimentos sociais e da ligação com as bases populares.
Jacques Wagner |
Mas, ali mesmo no salão da Reitoria, estava patente
a discrepância entre o discurso e a reformulação da prática política (nada como
um choque de realidade!): uma tímida comissão de estudantes do Colégio Estadual
Odorico Tavares, que chegou a ser ocupado durante umas 10 horas pelos alunos em
protesto contra o seu fechamento, não chegou sequer a ter sua presença
registrada pelos condutores do evento.
O governador é Rui Costa, do PT, ligadíssimo a
Wagner, que estava condenando em discurso as distorções da institucionalidade.
Os estudantes bateram de frente e perderam para o aparato institucional do
governo baiano. (Líderes do movimento acusaram Rui Costa de não dialogar, de ser
autoritário, enquanto o governo alegou que a escola está com sua capacidade subaproveitada e garantiu matricular todos os alunos em colégios mais próximos
às suas moradias).
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