(Foto: Ronald Schemidt/AFP - reproduzida do Página/12) |
Grupos
paramilitares – gangues armadas violentas – foram a vanguarda dos chefes
golpistas bolivianos, reforçados pelas Forças Armadas e também pelas forças
policiais.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) –
editor deste Blog Evidentemente
(baseado em artigo de Washington Uranga,
do jornal Página/12).
O recente golpe de Estado que derrubou Evo
Morales na Bolívia veio com um ingrediente novo, levando em conta o modus operandi que vinha predominando
nas últimas duas décadas na América Latina: o chamado “golpe brando” (ou “suave”).
Foi como as forças da direita – instrumentalizadas pelas grandes
corporações econômicas, os donos do dinheiro e verdadeiros donos do poder,
aliadas às suas ramificações internas - derrubaram Fernando Lugo no Paraguai (2012)
e Manuel Zelaya em Honduras (2009).
Os protagonistas mais visíveis nos casos de Lugo e Zelaya foram o
Congresso Nacional e o Judiciário, com o respaldo fundamental da mídia hegemônica
e ajuda das Forças Armadas.
Agora, na Bolívia (outubro/novembro/2019), a marca predominante foi a
violência, deixando um rastro de mortos e feridos (o próprio Evo Morales esteve
na iminência de ser assassinado). Esqueça o “golpe brando” (e também os antiquados golpes
militares dos anos 1960/1970, também violentos).
Grupos paramilitares – gangues armadas violentas – foram a vanguarda dos
chefes golpistas, reforçados pelas Forças Armadas e também pelas forças
policiais (no caso destas últimas, um protagonista relativamente novo no
cenário latino-americano – esta observação é deste blogueiro que vos fala).
Com o apoio escancarado do governo dos Estados Unidos e da OEA
(Organização dos Estados Americanos), organismo que voltou a incorporar o papel
de capacho do império, fazendo jus ao antigo apelido de Ministério das Colônias
(adendo da Casa Branca para cuidar do “quintal” latino-americano). E que, por
isso, vem perdendo prestígio dia a dia.
(Foto: da Internet) |
Quem nos alerta para esta diferença ocorrida
no golpe boliviano é o analista político Washington Uranga (jornalista uruguaio
que vive na Argentina), do excelente jornal argentino Página/12.
No artigo intitulado ‘Alertas’, do último dia
13/novembro, ele lembra, ironicamente, que este golpe sangrento contra o governo
de Evo Morales foi executado sob o argumento da “defesa da democracia”, como
expressou, sem um pingo de vergonha, o presidente Trump.
Continuando sua análise, Uranga observa que no
caso boliviano não se usou o lawfare
(“mentira apoiada em falácias jurídicas”) que levou ao golpe contra Dilma
Rousseff no Brasil (2016).
O mesmo lawfare
que levou ainda à prisão e proibição da candidatura de Lula e à perseguição ao
ex-presidente equatoriano Rafael Correa, cujo substituto, Lenín Moreno, eleito
pelas forças políticas de Correa, bandeou-se para a direita, traindo seus
eleitores.
O mesmo lawfare
que foi usado para perseguir a ex-presidenta Cristina Kirchner. Na Argentina,
porém, as urnas se encarregaram de consertar o rumo, logrando-se uma
contundente vitória eleitoral sobre o direitista Mauricio Macri, defenestrado
da presidência a partir de ontem, dia 10/dezembro.
Uranga estende mais sua análise focando o seu
país, Argentina, mencionando a permanente ofensiva do império estadunidense e
seus tentáculos neoliberais contra a Venezuela.
Lembra que até parece que todos os métodos
tentados para impedir que os povos decidam seu próprio destino são
insuficientes.
Me lembrei da clássica proclamação de Simón
Bolívar, cognominado o Libertador (lembrado amiúde pelo ex-presidente
venezuelano Hugo Chávez): “Os Estados
Unidos parecem destinados pela providência para encher de fome e miséria a América
em nome da liberdade”.
Link
para ler o artigo de Washington Uranga na íntegra (em espanhol):
Comentários
Bom observar que em vários países da América Latina estão ocorrendo movimentos de massa e quando as massas se movimentam pode vir coisas boas para os explorados dependendo dos desdobramentos políticos e seus reflexos na luta das classes. O processo que me parece terá um desenvolvimento interessante, deste ponto de vista, é a movimentação pela constituinte no Chile. Mas como disse o articulista do Página/12 vamos ficar alerta.