É A MÍDIA DE ENTRETENIMENTO, ESTÚPIDO!


Não são apenas noticiários manipulados da mídia hegemônica que fazem a cabeça e o coração do povo, são sobretudo os Datena, os Huck, Hollywood, novelas e congêneres.

Por Fabiano Viana Oliveira – professor na área de Ciências Sociais – do livro ‘Em busca da verdade II – Bioética, Hipocrisia e Antipetismo’ – págs. 96/98 (título e destaque acima são deste blog)

(...) Outro erro do PT foi acreditar que o apoio de uma parte importante da mídia, especialmente a Globo, seria perene e fiel. Esses grupos de mídia não têm fidelidade a ninguém. Quando as verbas de publicidade estatal foram diluídas em um número muito maior de grupos, especialmente de Internet, isso incomodou os representantes das grandes mídias tradicionais. Se o que está previsto na constituição de 1988 sobre regulamentação e revisão das concessões de mídia tivesse sido efetivado desde o primeiro governo de Lula, quando tinha amplo apoio popular, talvez as coisas hoje fossem diferentes.

A influência da mídia nas mentalidades coletivas é algo amplamente estudado tanto pelas teorias quanto pela sociologia da comunicação. Pode-se inclusive responsabilizar em parte as mídias corporativas mundiais pela criação e manutenção do sentimento anti-esquerda que hoje se vive. Explica-se: independente de partidos e instituições, o sentimento que pode chamar de esquerda é aquele que pretende construir um mundo mais justo e igualitário. Dentro deste sentimento há linhas mais moderadas como a social democracia no estilo alemão com o Estado cuidando do bem estar dos cidadãos com alta carga de impostos e menor desigualdade social. E há linhas mais radicais que creem numa suposta revolução socialista que levaria ao fim da distinção entre classes econômicas.

O que se faz crer dentro da existência dessa ideologia que afeta as crenças pessoais é que isso é uma utopia, um desejo impossível ou um fruto de doutrinação ideológica de esquerda. Os conteúdos midiáticos (jornais, livros, filmes, séries, músicas, novelas, shows) apresentam um modelo de conduta social que direta ou indiretamente induz o espectador a crer que todo e qualquer discurso pró-esquerda é errado. Esse erro pode ser por ingenuidade: “isso é utópico!” - ou por pura maldade: “eles querem tirar tudo que é seu!”. Basta ver quanto o período de guerra fria entre USA e URSS criou todo um conteúdo de indústria cultural que tornava os americanos e ingleses em heróis defensores da liberdade e da democracia (Ex.: James Bond; Flint e outros) e os russos comunistas em terríveis e temíveis cerceadores das liberdades individuais.

Para além dessa (essa sim) doutrinação ideológica anti-esquerda, advinda dos conteúdos midiáticos de entretenimento, há também o esforço “jornalístico” da mídia corporativa mundial de desqualificar qualquer esforço um pouco mais à esquerda de produzir sociedades mais justas e menos desiguais. Basta resgatar todo esforço de parte da mídia americana e brasileira também de apresentar tudo sobre a ilha de Cuba nos últimos 50 anos como sendo um grande terror ditatorial. Que existem problemas políticos inerentes a um regime autocrático e personalista, tanto por influência soviética quanto das tradições latino-americanas, é inegável. Mas admitir esses problemas não pode reduzir as conquistas do pequeno país caribenho a apenas o ruim; como muito se faz por aqui e pelos EUA.

Um exemplo de uso estranho do nome de Cuba, apenas como apreensão pejorativa por parte do cinema de hollywood dos tempos da guerra fria, foi de ter o vilão do filme de James Bond, Goldfinger (também nome do filme), dizer no final do mesmo que está fugindo para Cuba, deixando subentender que a ilha comunista de Fidel serve de refúgio para vilões e bandidos internacionais. Tal suposição é das mais ridículas, pois o que o regime de Fidel fez com os criminosos comuns foi justamente expulsar do país. A nação que sempre teve por tradição atrair e refugiar bandidos é o Brasil. Esses conteúdos simbólicos ficam gravados em nosso subconsciente e quando a mídia jornalística resgata esse imaginário, fica fácil atribuir qualquer coisa de negativo a um país sobre o qual de fato não sabemos quase nada.

(...)

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