José Sérgio Gabrielli (palestra em Seabra, último dia 17. Foto: Smitson Oliveira) |
Por Jadson Oliveira – jornalista/blogueiro –
editor deste Blog Evidentemente
De
Seabra/Chapada/Bahia
– Quem assistiu as palestras de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da
Petrobras, em Seabra (Chapada Diamantina), no último dia 17, viu e ouviu a
previsão de avanço das forças progressistas, em especial na América do Sul.
Para um público em torno de 300 pessoas, a
maioria jovens, reunidas no auditório do campus XXIII da Uneb, ele sublinhou o
tremendo desastre do governo de Mauricio Macri na Argentina, cuja agenda
econômica foi semelhante à do governo Bolsonaro. Mais exatamente, à do ministro
Paulo Guedes.
Gabrielli, que é professor titular de
Economia (aposentado) da UFBA, falou da previsão – já bastante alardeada, depois
das prévias eleitorais e repetidas pesquisas – de vitória contundente de
Alberto Fernández/Cristina Kirchner. Vitória confirmada, no primeiro turno, no
último domingo, dia 27.
Mas não só Argentina. Lembrou a possibilidade
das forças de centro-esquerda ganharem também as eleições presidenciais da
Bolívia (dia 20) e Uruguai (também dia 27).
De fato, Evo Morales foi reeleito para seu
quarto mandato consecutivo. Não tão folgadamente como em 2006, 2009 e 2014, mas
ganhou no primeiro turno (com mais de 10% de votos na frente do segundo
colocado, conforme reza a Constituição do país).
No Uruguai, o campo progressista, aglutinado
na Frente Ampla que está na presidência há 15 anos, também conseguiu o primeiro
lugar. Mas terá que disputar um difícil segundo turno, onde as principais alas
de direita (e extrema-direita) prometem marchar unidas.
Realçando o quadro, tivemos a vitória do
levante popular no Equador (mencionada por Gabrielli na UNEB/Seabra), forçando
o governo a revogar medidas de “ajuste” receitadas pelo FMI. E as grandes jornadas
de protesto no Chile, que estouraram a partir do dia 18.
Levando em conta, portanto, que nos últimos
cinco/seis anos as forças populares e democráticas da América Latina vinham
amargando recuos expressivos – a “restauração conservadora”, como chamou o
ex-presidente equatoriano Rafael Correa -, tais vitórias e manifestações significaram
um alento: “saímos das cordas”, disseram alguns.
Aliás, Álvaro García Linera, “eterno”
vice-presidente de Evo Morales (intelectual comprometido com o movimento
popular, estudioso da realidade indígena), sempre minimizou a força dos
reacionários latino-americanos. Dizia que a nova “onda” neoliberal não seria
duradoura, não tinha fôlego.
Houve ainda mais uma eleição, também no
último domingo (dia 27), em “nossa Pátria Grande” (sonho de Simón Bolívar, cognominado
o Libertador, repetido à saciedade pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez):
foi na Colômbia (eleições chamadas regionais – governadores, prefeitos,
vereadores...).
Esta não foi mencionada por nosso palestrante,
mas se encaixa nas suas previsões de avanço dos partidos e movimentos sociais
do espectro das esquerdas (ou, talvez melhor, da centro-esquerda).
Então: também na Colômbia, o principal
enclave do império estadunidense na América Latina – país bastião da
ultradireita, do paramilitarismo e do narcotráfico -, as forças progressistas
avançaram. O maior perdedor da jornada eleitoral foi o ex-presidente Álvaro
Uribe, o mais notório líder da extrema direita na região, a quem é ligado o
atual presidente colombiano Ivan Duque.
O professor Gabrielli enfocava, em sua
palestra na UNEB, a marca cruel da desigualdade durante a história do povo
brasileiro: desde a abolição formal da escravidão negra, passando pelo
desenvolvimento da indústria a partir da Revolução de 1930 e chegando aos
nossos dias com a hegemonia do capitalismo financeiro. E, por consequência, o
aumento cada vez maior da desigualdade.
Falava do começo da construção dum Estado
mais inclusivo socialmente nos governos de Lula e Dilma, seguindo-se, a partir
daí, o processo de destruição dos mecanismos estatais indutores dum
desenvolvimento menos desigual, nos governos Temer e Bolsonaro.
E fez a previsão de avanço – plenamente confirmada
- das forças progressistas, em especial na América Latina, ao ressaltar a capacidade
de luta dos povos. “Vamos reagir”, augurou Gabrielli, com certa dose de
otimismo (ou realismo?).
Digo eu: vamos ver quando e como chegam ao
Brasil os ventos refrescantes que começam a soprar por nuestra América.
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