Precisamos duma nova política para os tempos de ódio, desinformação e criminalização
da política e dos políticos: se ligar às bases populares, às comunidades.
Por Jadson Oliveira – jornalista/blogueiro – editor deste Blog
Evidentemente
- Vivi um final de semana de aprendizado
político, acompanhando uns debates de deputados com comunidades do meu interior
de Seabra, na Chapada – disse a uma amiga.
- Mas, agora, depois que as eleições já
passaram!? – ela se admirou.
- Política séria é assim, não é feita só na
época de eleição – retruquei.
Pois é isso aí, fiquei matutando: fazer
política com a participação direta das bases, das associações de moradores, das
comunidades rurais, buscando compreender e encaminhar a solução de suas
necessidades. E com políticos que se dispunham a receber votos suados (não
comprados), isto é, votos obtidos através do contato direto, discussão e
atendimento aos anseios do povo.
Os deputados no caso foram Jorge Solla
(federal PT) e Marcelino Galo (estadual PT). Com a intermediação de Goiano
(José Donizette, ativista social e político do Projeto Velame Vivo), botaram “o
pé na estrada” – ou seja, rodaram em estrada de barro – e foram discutir as
demandas do quilombo de Vão das Palmeiras e do povoado de Bebedouro, no
município de Seabra, Chapada Diamantina, interior da Bahia. Foi na sexta-feira
antes do Carnaval, dia 22 de fevereiro.
Goiano, Solla e Galo em reunião no quilombo de Vão das Palmeiras (Fotos: Valdimiro Lustosa) |
Moradores de Vão das Palmeiras no encontro com os deputados petistas |
No dia seguinte, sábado pela manhã, os dois
parlamentares e a vice-presidente do PT estadual, Bete Wagner (ex-vice-prefeita
de Salvador) participaram, em Seabra, do terceiro encontro regional dos
dirigentes municipais do PT da Chapada.
E à tarde do mesmo sábado, Solla e Galo se
reuniram com a comunidade do quilombo de Esconso, de Iraquara, e com militantes
políticos do município.
É o que chamo de busca duma nova política,
quando políticos usam seus mandatos a serviço das necessidades reais dos
setores populares, procurando superar o costumeiro oportunismo/clientelismo das
campanhas eleitorais. Digo “necessidades reais” porque apresentadas no cara a
cara, através dos líderes comunitários e dos próprios moradores.
Talvez seja esta a prática política adequada
para os tempos que vivemos, tempos marcados pelo ódio, desinformação e
criminalização da política e dos políticos, numa palavra: regressão democrática
(ou “democracia híbrida”, conceito cunhado pelo sociólogo português Boaventura
de Sousa Santos).
Talvez uma boa dica para a busca do equilíbrio
de ação da esquerda (ou centro-esquerda) brasileira, que parece nunca ter
aprendido como combinar o trabalho parlamentar com o trabalho de base.
PS: Temas e aspectos dos encontros acima serão tratados aqui em outras
postagens.
Comentários
Sinval Soares
Que bom deputados, fora do período eleitoral, ouvindo a voz rouca das ruas. Não é novidade para alguns parlamentares, e seria muito bom que a prática fosse de comportamento geral da esquerda, em qualquer época mas sobretudo agora para fazer a disputa de projeto político diretamente com a base, quando a grande mídia, mesmo percebendo a grande merda que jogou no poder, ainda assim não dá espaço para partidos de oposição e movimentos populares e sindical.
Clóvis Caribé (Coió)
Parabéns pelas suas incursões e divulgações de atos e que tratam de uma, ainda relutante, organização da nossa combalida "sociedade civil".
Gosto das suas incursões e noticias porque são objetivas, interessantes e de fácil leitura!
Elsa Kraychete
A minha sensação é que temos que começar de novo, e não tem outro caminho, voltar às bases, do jeito que hoje é possível.