Festa com o Terno de Reis em 6 de janeiro (Foto: Smitson Oliveira - Seabra/Chapada) |
A
associação dos moradores e o grupo de jovens, com o apoio da comunidade,
mobilizam-se na busca e realização de melhorias materiais e espirituais. E já contam com um balanço positivo.
Por Jadson
Oliveira – jornalista/blogueiro – editor da Blog Evidentemente
A comunidade dos quilombolas de Vão das Palmeiras
(município de Seabra, Chapada, interior da Bahia), através do trabalho de sua
associação, em parceria com o grupo de jovens (Jovens em Ação), vem conseguindo
algumas realizações notáveis, tanto na área dos serviços públicos, como no campo
cultural.
Um balanço feito a partir de 2012, com a associação sob
a presidência de João Batista dos Santos e atualmente de Selma Marques, dá
conta da execução de várias obras. Como a abertura de ruas e estradas - a
exemplo da que liga o quilombo ao povoado Capão das Gamelas -, bem como a
ampliação da iluminação pública, benefícios obtidos a partir de gestões junto à
prefeitura do município, conforme informações de João Batista, hoje compondo a
diretoria da entidade como tesoureiro, e de representantes do grupo de jovens.
Com o reconhecimento e certificação pela Fundação
Palmares (órgão do Ministério da Cultura), em 2005, como comunidade
remanescente de quilombo, Vão das Palmeiras pôde usufruir de políticas públicas
inclusivas e se beneficiar de programas do governo federal como Minha Casa
Minha Vida, Luz para Todos e cotas raciais no ensino público.
A parceria com o grupo de jovens é destacada por
João Batista, resultando no maior dinamismo dos eventos na área cultural, como
é o caso do Encontro da Consciência Negra, realizado todo 20 de novembro (em
2018 foi a sua quinta edição).
As representações teatrais, que são feitas inclusive
nos povoados circunvizinhos, vêm ganhando força e aprendizado, especialmente
através da participação da juventude: as peças procuram debater os diversos
temas abordados, como já aconteceu com as encenações sobre a dengue, o meio
ambiente e as nascentes dos rios, que sobrevivem sob permanente ameaça.
Há ainda atividades como o ensino e prática da
capoeira, que tinham sido suspensos e serão retomados; e o curso de artesanato,
realizado através do sindicato dos trabalhadores rurais de Seabra, de cuja
diretoria João Batista faz parte. Há também a proposta, em fase de preparação,
de desenvolver hortas coletivas, a serem tocadas pelo grupo de jovens.
No ano passado, foi resgatada a via sacra pelas ruas
do quilombo, durante a Semana Santa, um evento que remonta a velhas tradições e
que tinha sido abandonado há 30 anos.
Outra tradição forte, que se mantém, é o Terno de Reis,
que no último dia 6 completou, com animados festejos, suas cantorias iniciadas
em 25 de dezembro, se apresentando também nos distritos e povoados das
redondezas, inclusive na sede em Seabra.
A Associação dos Remanescentes de Quilombo do Vão
das Palmeiras tem 380 filiados. O quilombo mede 1.023 hectares, reúne 430
famílias, tendo em torno de 1.000 habitantes, levando em conta os moradores
mais permanentes.
PS: Participaram da entrevista, representando a
coordenação do grupo de jovens, Maiara Cassimiro, Flávia Macedo e Poliana
Santos.
Os
vizinhos mais próximos do quilombo são os distritos de Velame e Baraúnas.
O nome oficial
do sindicato mencionado é Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da
Agricultura Familiar de Seabra.
Comentários
A observação me foi feita pelo companheiro Goiano (José Donizette - da coordenação do Projeto Velame Vivo), conhecido ativista da Chapada Diamantina, interior da Bahia, ligado a movimentos sociais e políticos de Seabra e região. Ele tem ligações com os quilombolas e foi fundamental nos contatos para elaboração de matérias produzidas para este meu blog.