Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro)
Esta é a grande façanha da direita (ou do PODER): fazer
um negro pobre votar num Bolsonaro da vida (um amigo meu disse no Facebook que
mulher, negro ou gay votar em Bolsonaro é o cúmulo da burrice).
Ou fazer um pobre votar num rico, um rico assim como o
“garoto milionário” ACM Neto ou no “gestor” Dória; o oprimido votar no
opressor, o explorado votar no explorador, o escravo puxar o saco do senhor, o
cara optar “livremente” pela defesa dos interesses que não são os seus.
Esta é a grande façanha do PODER, assim com maiúsculas
para tentar tirar o verdadeiro poder das sombras. Agir à margem da lei é a sua
grande especialidade (no espanhol nossos hermanos latino-americanos usam o
termo “poderes concentrados”).
No Brasil de hoje quais seriam tais poderes? Vamos tentar
apontar (quem sempre toca nisso é o professor Fábio Konder Comparato – é preciso
desconstruir a falsa percepção de que o presidente da República manda tudo,
pode tudo):
Primeiro, o mais poderoso dos poderes atualmente –
banqueiros, rentistas e especuladores, cujos interesses estão entrelaçados com
o capital internacional/império estadunidense (não é à toa que quase a metade do
orçamento da União é destinada ao pagamento da chamada dívida interna);
Depois vêm grande empresariado, narcotráfico,
mineradores, agronegócio (faltou algum ramo importante do mundo empresarial?).
Como atuam na clandestinidade na nossa democracia
representativa, seus interesses aparecem e são exercidos através do pensamento
e ação dos poderes formalmente constituídos – Executivos, Parlamentos e Justiça
-, nos quais se trava uma complexa luta intestina,
cujo resultado depende dos avanços, recuos e ziguezagues da badalada correlação
de forças em cada conjuntura.
Temos que levar em conta fatores fundamentais, hoje, no
Brasil, num momento em que forças e manifestações de claro viés fascista
avançam e fortalecem uma candidatura como a de Bolsonaro :
Os monopólios dos meios de comunicação (gosto de
chamá-los mídia hegemônica) – sempre identificados com os interesses
antipopulares e antinacionais -, numa orquestração afinadíssima com a
militância político-partidária de juízes, procuradores e policiais da PF entrincheirados
na Operação Lava Jato.
Quadro que é agravado pela atuação de um STF e um TSE acovardados/acuados.
Para agravar a situação, do ponto de vista das forças de
esquerda e centro-esquerda, temos também o fortalecimento de partidos de
direita no Congresso, mesmo levando em conta o bom desempenho do PT que saiu da
eleição ainda com a maior bancada.
E para coroar o quadro de dificuldades, temos um fenômeno
novo na conjuntura eleitoral: o protagonismo cada dia mais às claras de
oficiais superiores das Forças Armadas.
Queria neste artigo dar uma ideia de como se entrelaçam
as engrenagens subterrâneas com as engrenagens formais do jogo do poder. E como
tais engrenagens fazem a cabeça e o coração dos brasileiros, levando um pobre,
um trabalhador, um desempregado, um excluído a votar num Bolsonaro.
Para concluir, queria apresentar dois livros que li
recentemente e que me ajudaram a entender um pouco essas tais engrenagens: ‘A
elite do atraso’, do sociólogo brasileiro Jessé Souza, e ‘A formação da
mentalidade submissa’, do professor espanhol (já morto) Vicente Romano. Espero
concluir antes da eleição num segundo artigo.
Comentários
Muito bom!
O tema é deveras muito interessante. Lembra-me um grande livro, um clássico da Filosofia "Discurso sobre a Servidão Voluntária".
Votar mas não somente votar e até assimilar absorvendo como suas próprias as idéias e a visão de mundo daqueles que representam interesses exatamente contrários e que não compartilham de uma identidade social, cultural, vivencial. Este fenômeno precisar mesmo de muita reflexão.
Laranjeira