José Bezerra Lima Irmão, autor do livro 'Lampião - a raposa das Caatingas' (Foto: Jadson Oliveira) |
“Para se
saber quem foi Lampião, é preciso situá-lo no contexto social de seu tempo e no
espaço geográfico em que ele viveu. Só assim é possível compreender e julgar
esse personagem que terminou sendo o símbolo de uma época no sertão
nordestino”.
Por Jadson Oliveira
– jornalista/blogueiro, editor do Blog Evidentemente (matéria postada no
site Fazendo Media – a média que a mídia faz, em 02/12/2016)
Reproduzida aqui por
ocasião do seminário feito pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (Praça
da Piedade, Salvador-Ba) – de ontem, dia 24, até amanhã, dia 26, a partir das
16:30 horas - pelos ’80 anos da morte de Lampião’.
De
Salvador-Bahia – Parece
inevitável. Uma discussão sobre o Rei do Cangaço e o cangaceirismo desemboca na
interrogação recorrente: o “capitão” Virgulino Ferreira, o Lampião, que
aterrorizou o Nordeste brasileiro durante 17 anos, na primeira metade do século
passado, foi bandido ou herói?
Isso
aconteceu mais uma vez no último dia 26, na Faculdade de Arquitetura da UFBa,
em Salvador, onde intelectuais baianos debateram o tema a partir da avaliação
do livro ‘Lampião – a Raposa das Caatingas’.
O autor,
José Bezerra Lima Irmão, foi taxativo: “Nem bandido nem herói, foi um
cangaceiro”. Advertiu que a pergunta é a mais tola que se possa fazer e é
simplória qualquer resposta dada às pressas.
“Para se
saber quem foi Lampião, é preciso situá-lo no contexto social de seu tempo e no
espaço geográfico em que ele viveu. Só assim, situando-o nas dimensões dos
espaços físico e temporal, é possível compreender e julgar esse personagem que
terminou sendo o símbolo de uma época no sertão nordestino”.
Este
trechinho copiei da parte inicial do livro, um camalhaço (no bom sentido) de
736 páginas de letras miúdas. E dá o tom do conteúdo da exposição de José
Bezerra para as pouco mais de 20 pessoas que foram ao encontro (uma pena tão
pouca gente!).
Talvez
não fosse necessário frisar que o autor deu uma mostra do seu conhecimento
enciclopédico sobre o assunto, adjacências e contexto – Guerra de Canudos e
outros levantes populares, coronelismo, violência, injustiças sociais,
religiosidade, falta de instrução, vinganças familiares, luta “braba” pela
terra e pela sobrevivência, ausência do Estado, mandos e desmandos dos
coronéis, dos jagunços, da polícia e, óbvio, dos cangaceiros.
Sobre
tudo isso, José Bezerra mostrou que sabe tudo, pode-se dizer sem medo do
exagero. Tanto que o reconhecido escritor baiano, Oleone Coelho Fontes (autor,
dentre outros livros, de ‘Lampião na Bahia’, já na décima edição), não hesitou
em declarar que Bezerra esgotou o tema.
A
estrutura social da época explica o fenômeno
Oleone,
aliás, tem uma opinião bastante diferente da de Bezerra. Proclama com toda
eloquência que Lampião foi um bandido, simplesmente assim, um bandido
sanguinário. Invoca a favor de sua posição as inúmeras testemunhas ou
contemporâneos dos fatos que entrevistou para escrever seu livro.
Presente
ao encontro, Antonio Olavo, cineasta/documentarista baiano, mostrou-se afinado
com grande parte da visão apresentada por Bezerra. Disse que respeita vozes
diversas, mas discorda de enfoques como o de Oleone, frisando o fenômeno da
reação dos cangaceiros frente a uma situação política, econômica e social
marcada pela injustiça e violência.
O cenário
natural de tal situação era a tirania capitaneada pelos coronéis e chefes
políticos, que tinham a seu serviço jagunços e policiais, além de autoridades
como delegados, juízes e padres.
Já os
organizadores do debate, o professor Edmilson Carvalho e Jorge Oliver, velhos
militantes do campo das esquerdas, defenderam a necessidade e a relevância do
aprofundamento de tal discussão, levando em conta principalmente que as
verdadeiras causas do cangaceirismo residem na estrutura social e política da
sociedade de então.
Bem, é
preciso dizer que José Bezerra, um sergipano que vive em Salvador, é auditor da
Receita estadual, com 70 anos, ainda não aposentado. Passou 11 anos atolado nas
pesquisas, usando finais de semana, feriados, férias, licenças (preciso lhe
perguntar como sua família aguentou, ou não aguentou?), com mais de 30 viagens
pelos sete estados nordestinos por onde andou Lampião obrando suas
controvertidas e famosas proezas.
PS:
Edmilson Carvalho comentou que se trata duma obra “monumental”, que começou a
ler as mais de 700 páginas, formato grande e letras miúdas, e só sossegou
quando acabou. Eu já cheguei à página 85 e está até me atrapalhando, pois tenho
outros afazeres e, infelizmente, não posso ficar o tempo todo na leitura. Um
conselho: compre o livro. Em Salvador, pode ser encontrado na Saraiva (Salvador
Shopping). Ou entre em contato com o autor por e-mail: josebezerra@terra.com.br
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