A batalha, hoje, crucial, é a batalha da comunicação. Enquanto estivermos sob a hegemonia da Globo, ditando o ritmo, a regra, os valores, a verdade, não temos qualquer chance.
Por Jadson Oliveira - jornalista/blogueiro, editor deste Blog Evidentemente
O problema do embate político é saber se temos força ou não
temos – foi o que se viu neste domingo, dia 8, com a soltura/prisão de Lula. De
nada adianta argumentar com base nas firulas jurídicas. Trata-se – repito – de
ter força ou não ter força, de ter bala na agulha ou não ter, de ter munição
para a batalha ou não ter. O velho chavão da correlação de forças.
É isto que conta. O resto é choradeira de perdedor. E de
perdedor, as esquerdas têm experiência de décadas. Perdemos em
1954, perdemos em 1964, perdemos em 2016. E continuamos perdendo. Não
aprendemos?
Estas reflexões me batem, em desespero, neste final de
domingo, depois de participar de concentração (dita resistência, com escassos
resistentes) na praça vermelha do Rio Vermelho, em Salvador, esperando a
soltura de Lula, de acordo com ordem expedida e confirmada e, outra vez - a
terceira vez -, repetida pelo desembargador Rogério Favreto, plantonista do TRF4.
Os entendidos no tema não têm dúvidas: é líquido e certo o direito
do plantonista ao mandar soltar Lula. Mas o que é o direito em confronto com o poder
real? O que é o direito em confronto com o poder concentrado nas mãos do juiz
Sérgio Moro? O poder real vem, por vias tortuosas, do império do norte e
torna-se visível na tela da Rede Globo.
Meus amigos e amigas já festejavam, antecipadamente, o
gostinho da vitória com a iminente libertação de Lula. Eu avisei que, por volta
do final da tarde, uma das manchetes da Globo News era: “O presidente do TRF4
vai decidir se mantém ou não a prisão de Lula”.
Fui apupado como derrotista. Me advertiram cantando o
aguerrido reggae de Edson Gomes: “Lute amigo, lute, lute amigo, lute, lute
amigo, lute, porque senão a gente vai perder o que conquistou”.
Eu estava sendo acusado de derrotista. Me lembrei da pecha intolerável
que recaia sobre os companheiros que duvidavam da eficácia da luta armada contra
a ditadura militar no início da década de 1970.
Intolerável!? Estava desbundando, como dizíamos naquela fase
desgraçada da nossa história. E centenas de jovens idealistas foram massacrados
pela repressão cruel. Estamos condenados a não aprender com nossos erros? Até
quando seremos compelidos a ir ao campo de batalha desarmados? Teremos de nos
submeter a quantos espetáculos mais de crucificação?
A batalha, hoje, crucial, é a batalha da comunicação.
Enquanto estivermos sob a hegemonia da Globo, ditando o ritmo, a regra, os valores, a verdade, legitimando aos olhos da população todo atropelo judicial
(além de outros), não temos qualquer chance.
A nossa única chance, dentro da realidade atual, estaria na
mobilização popular. Mas isto está fora de cogitação, porque não temos - e não
teremos, pelo menos a curto prazo -, qualquer chance de mobilização popular
enquanto não tivermos meios de comunicação capazes de disputar os corações e
mentes do povo brasileiro.
Me parece uma coisa tão simples, tão elementar. Mas,
desconfio, será mesmo? Porque os nossos líderes das esquerdas brasileiras não
parecem sensibilizados com isso.
Uma amiga, certa vez, me disse: quem faz trabalho de base no
Brasil, hoje, é a Rede Globo, nós não temos canais de interlocução com as
massas. A nossa possível salvação, neste campo, é Lula, disse eu. Porque –
acrescentei -, em termos de massa, em termos de esquerda (ou centro-esquerda),
apenas e unicamente Lula sabe falar com o povo. Nós, as esquerdas, estamos
interditados. Até quando?
Vai se estendendo a noite na praça vermelha. Ou poucos – daí nossa
impotência – militantes ensaiaram várias vezes festejar a iminente libertação.
Se animavam a cada notícia favorável, juristas se diziam escandalizados com os
atropelos, até a Cármen Lúcia, presidente do STF, jurava que a hierarquia judicial
era sagrada. Um velho, calejado de desilusões, destoava: “Só acredito quando
ver o homem na rua”.
E veio, afinal, a decisão do presidente do TRF4, Thompson
Flores, recolocando tudo nos eixos. Como a Globo já tinha antecipado: “O
presidente do TRF4 vai decidir se mantém ou não a prisão de Lula”.
“Lute amigo, lute, lute amigo, lute, lute amigo, lute...”
Comentários
Talvez tenha um atalho para a esquerda vencer esse obstáculo, sei lá, mexendo na própria engrenagem da velha mídia. É um nó.
Mad acho que tem outros também, e um deles é a falta de afinação do discurso para lutar a grande batalha e deixar as diferenças para se resolver depois.
De qualquer forma, seu comentário é bem pertinente, e mostra a angústia que vivemos a cada sopro, a cada luz que se acende