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“O WikiLeaks publicou documentos
sigilosos da embaixada americana e republicados na Folha de S. Paulo,
(segundo os quais) o senador Serra teria prometido trabalhar para acabar com a
lei que dava exclusividade à Petrobras na exploração do pré-sal”.
Por Roberto Requião, ao
discursar no Senado – reproduzido do blog Viomundo – o que você não
vê na mídia, de 25/02/2016 (sugerido pelo companheiro Geraldo Guedes, advogado
de Brumado-Bahia)
Eu
confesso que somatizei a nossa derrota no Plenário de ontem. Eu amanheci
exausto, adoecido, frustrado.
De
repente, eu tomo consciência de que o sentimento de nacionalidade do Brasil
está fragilizado, porque algumas lideranças nas quais o povo depositava a
confiança e a esperança foram engolidas em um processo de corrupção, e isso
abre um espaço terrível para que interesses que não são propriamente do Brasil
caminhem, de forma firme e forte, em um processo de fragilização e mesmo de
extinção de um projeto nacional. Isso é muito triste.
No mundo,
qualquer pessoa sabe das implicações geopolíticas da questão do petróleo.
Sabemos
que os Estados Unidos gastaram bilhões de dólares para tomar conta do Iraque,
muito pouco preocupado com Saddam, que foi seu aliado e mantido pela própria
CIA durante muito tempo para combater os iranianos.
A guerra
e manutenção de tropas no Iraque preocupam basicamente em manter em suas mãos
as reservas de petróleo.
Estamos
diante de uma guerra geopolítica. Os Estados Unidos arriscam a própria
sustentabilidade do seu território com as venenosas operações de shale
gas, baixam os preços internacionais, trazem a Arábia Saudita para esse
jogo, para enfraquecer Venezuela, Rússia e outros países importantes que vivem
do petróleo. Os baixos preços do petróleo são uma estratégia geopolítica.
Eu diria
mais, repetindo o que já disse mil vezes desta tribuna, depois da derrota do
nazismo, na última guerra, cresceu na Europa, o Estado social, o Estado com as
garantias trabalhistas, o Estado preocupado com a educação do povo, o Estado
preocupado com os direitos humanos, o Estado que se volveu para as necessidades
da sociedade e, de certa forma, acabou com o predomínio absoluto do capital.
E este
Estado, hoje, sofre um ataque brutal, a partir da ação de Mamon – Mamon em
hebraico, significa dinheiro, não é nem deus, nem diabo, é o dinheiro, assim
descrito na Bíblia. Mamom tenta recuperar os seus espaços perdidos com o avanço
do Estado de Bem Estar Social.
Para
recuperar seu espaço, Mamon, praticamente liquidou com a economia da Espanha,
da Itália, de Portugal…
Seu
projeto tem um tripé: o primeiro deles, é a fragilização do Estado, com a
autonomia dos bancos centrais. Uma proposta onde o Estado se resume a um
gendarme, um guardião que se oporá às revoltas populares diante da exploração
do capital.
O segundo
objetivo é a precarização do Parlamento, com o domínio absoluto do capital
financeiro, que se coloca acima dos partidos, financia campanhas, partidos
políticos e candidatos, e os parlamentares se transformam em mandaletes dos
interesses do capital vadio.
Não tem
mais ideologia, não tem ideal, não tem patriotismo, não tem nenhum sentimento
de nacionalidade.
E o
terceiro objetivo é bem claro, é a precarização do trabalho, o fim das leis
trabalhistas, que encontrará a oposição frontal do nosso Senador Paim, o
Senador do trabalho no plenário do Senado Federal.
Mas
dentro desse pacote e com esse amortecimento da consciência nacional, com a
frustração causada pela corrupção evidente de alguns líderes partidários que
tinham a confiança e eram depositários da esperança do povo, nós ficamos
extremamente fragilizados.
A presidente
Dilma já se manifestou, como era de se esperar, contra essa proposta de José
Serra.
Porque
ela não tem sentido, quando diz que quer retirar a exclusividade da Petrobras
no pré-sal, porque a empresa está com um endividamento alto. Não tem sentido,
porque não existe uma empresa de petróleo no mundo que não esteja fragilizada
financeiramente com os preços baixos.
O
prejuízo de todas elas é enorme, muito maior do que o da Petrobras. E maior do
que o da Petrobras porque a Petrobras tem uma reserva gigante de petróleo do
mundo com baixos custos de exploração – US$8,00 ou US$9,00 o barril –, um
petróleo que está garantindo lucros, mesmo na crise. E também porque o pré-sal
está entre o Rio e São Paulo, os grandes centros consumidores, processadores e
onde estão os principais terminais logísticos da Petrobras.
O pré-sal
é o ouro para a Petrobras.
As
petroleiras não vão investir hoje no Brasil de forma nenhuma porque estão
quebradas, estão em dificuldades e porque o petróleo está sobrando no mundo.
Então,
por que, de repente, aporta no Senado, com essa violência e esse desejo
absoluto de velocidade, essa modificação do modelo?
Atende a
quem? Atende a que interesses? Por que não querem o debate? Por que raios não
foi para as comissões normais e se tentou submetê-la a uma comissão montada
pelo presidente do Senado, sem a indicação dos partidos? O que é que está atrás
disso? Será que só eu enxergo esse açodamento súbito e violento? Qual é a
dificuldade de um debate claro em cima da questão do petróleo?
Não vai
haver investimento no Brasil, mas as grandes empresas que trabalham com
petróleo no mundo vão se assegurar das reservas brasileiras como reservas
estratégicas para o domínio no petróleo no futuro.
Os apressadinhos
que querem votar isso para ontem, sem discussão, açodadamente, sem que o povo
saiba dizem que “o petróleo não pode ficar enterrado”, “o petróleo não vai
valer nada no futuro”.
Como o
petróleo não vai valer nada se tem 3 mil derivados!
Não existe
um senador ou uma senadora neste plenário que não porte ou não tenha, em seus
trajes, algum componente que tenha a participação da indústria a partir de um
derivado do petróleo.
Não tem
nenhum sentido essa história de que não vai valer nada.
E a
Petrobras pode — e o senador Lobão liquidou os argumentos de Romero Jucá numa
reunião da bancada –, sim, extrair petróleo em poços novos sem nenhuma
dificuldade, sequer financeira.
Com 50,
100 bilhões de barris de reserva, não teria dificuldade de financiamento neste planeta.
O mundo está inundado de dinheiro com esses tais quantitative easing.
Agora,
por que o açodamento? De repente, senador Serra, ligo para o meu gabinete e
dizem: “Não, mas o WikiLeaks publicou documentos sigilosos da embaixada
americana e republicados na Folha de S. Paulo, que o senador Serra
teria prometido trabalhar para acabar com a lei que dava exclusividade à
Petrobras na exploração do pré-sal”.
O SR.
JOSÉ SERRA (Bloco Oposição/PSDB – SP) – Sr. Presidente, pela ordem. Não só fui
citado como foram feitas alusões absolutamente indevidas à minha pessoa.
Portanto, peço um aparte.
O SR.
PRESIDENTE (Dário Berger. Bloco Maioria/PMDB – SC) – Vou conceder a V. Exª….
O SR.
ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB – PR) – Isso fica me trazendo preocupação.
O que há por trás desse açodamento e dessa velocidade? O que há de urgência
nesse processo? Por que essa abertura? Por que a entrega do patrimônio que se
consubstancia nas jazidas petrolíferas brasileiras? Por que esse Governo
fragilizado por uma série de problemas e com medo do impeachment não age com
mais energia?
Antes de
ontem, nós votamos aqui o aumento de um imposto que, a meu ver, parecia
completamente absurdo, sobre lucros de capital. Eu dizia, lá do plenário,
utilizando o microfone, que um estudante que tenha comprado, há 40 anos, um
apartamento por R$10 mil, iria vendê-lo agora ou transferi-lo para um herdeiro
e ele estaria valendo R$2 milhões. Pagaria imposto sobre R$1.990,00? Isso é
justo?
Não, mas
o plenário, obedecendo à ordem do governo e à visão liberal que atravessa esta
República neste momento, votou a favor. Foram 11 votos contrários.
Sou a
favor do imposto pesado em cima dos lucros de capital, mas no exemplo citado há
exagero. Mas a base seguiu o governo.
Ontem
mesmo, quando boa parte dessa mesma base votou na sua maioria pela urgência de
votar o projeto de entrega do pré-sal. Os muitos votos que conseguimos foram
votos de consciência, não foram votos orientados. O governo orientou o que?
Mas nós
estamos em cima de uma proposta de aspecto fundamentalmente entreguista, não
ajuda o Brasil. É preciso que a gente marque posição.
Não sei
qual é a intenção disso. É favorecer a Chevron? É favorecer a Shell? É
prejudicar o País? Não há urgência, não há necessidade e não se extrai petróleo
no mundo hoje. Nenhuma delas, nem a Petrobras.
E
insisto: se a Petrobras pudesse contar com preços maiores, poderia facilmente
investir ainda mais do que já está investindo no pré-sal. O governo também
poderia pedir para seus bancos aumentarem os empréstimos para a empresa. O
Banco dos Brics e os chineses já ofereceram muito dinheiro para financiar os
projetos da Petrobras.
Mas há o
constrangimento do governo com essa pressão midiática, há esse enfraquecimento
da consciência nacionalista do País e há o avanço de ideias liberais.
É o fim
de um projeto nacional. É a valorização absoluta do dinheiro.
E eu me
lembro, senador Serra, do papa Francisco em Davos.
O capital
é bom quando ele é investido, produz empregos, produz bens, inovação
tecnológica, mas não pode o interesse pelo dinheiro, o jogo geopolítico das
grandes potências subordinar uma proposta de crescimento de um projeto nacional
que seria tão importante para os estudantes brasileiros.
Vou
repetir. Não adianta leiloar o pré-sal agora. Não vai haver investimento enquanto
o preço estiver lá embaixo, mas o preço não ficará para sempre lá embaixo. O
pré-sal é uma garantia do futuro do País.
O pré-sal
é muito melhor e muito maior do que o shale gas dos Estados
Unidos que tantos por aqui enchem a boca para falar.
O shale
gas tem um pico de extração em um primeiro momento. No segundo ano a
produção já cai na metade e o reservatório tem um declínio rápido.
Muitas
primeiras empresas americanas que começaram explorando essa suposta panaceia já
estão falidas. E é por isso que eles vêm para cá para querer pegar o pré-sal
para elas.
E estão
com muita pressa para começar esses leilões já na “nova lei”. Em breve o preço
do pré-sal vai aumentar. A Rússia e a Arábia Saudita, junto com a Venezuela,
estão anunciando uma contenção na produção.
A
corrupção é séria. Eu quero ver essa gente toda na cadeia, punida, mas a
corrupção não é a responsável pela circunstancial crise financeira que a
Petrobras atravessa.
O grande
problema da Petrobras foi o aumento brutal dos investimentos com o sonho de
viabilizar logo recursos para a educação e para a saúde. O erro foi aí.
Não
previram a jogada geopolítica dos Estados Unidos, baixando o preço do petróleo
no mercado mundial. Não previram que o dólar subiria tanto. Investiram muito,
se endividaram em dólar e o dólar disparou em relação ao real. Esse é o maior
problema, mas que logo será solucionado com o retorno dos preços aos seus
patamares normais.
E nós, no
Senado da República, temos que ter consciência do que estamos fazendo. Não
devemos irrefletidamente, sem nenhuma razão lógica, votar apressadamente no
projeto do senador José Serra, que, quer ele queira ou não, é um projeto
entreguista e prejudica o Brasil. Prejudica o futuro do País, a viabilidade de
um projeto nacional.
É um
projeto que prejudica a Petrobras porque, é graças ao pré-sal que a Petrobras
está sobrevivendo à crise, e que será ultrapassada rapidamente. O preço do
petróleo vai voltar para o patamar dos US$80 e estará tudo isso resolvido.
E essa
justificativa nova de que a Petrobras pode ficar como operadora preferencial da
extração de petróleo, numa imagem que eu já coloquei com clareza, é como se uma
família em dificuldade fosse instada, em uma dificuldade passageira, resolvível
em médio prazo, fosse instada a vender a propriedade.
Mas daí o
comprador lhe garante: Vocês vão vender a propriedade, mas a esposa do
proprietário terá preferência, se quiser continuar como cozinheira da família
que vai comprar o imóvel.
Essa
proposta não tem cabimento, é antinacional e é preciso que se registre um
protesto com toda a energia.
O governo
está fraco, a situação do Brasil é de fragilidade institucional e nós estamos
entregando o futuro do Brasil para a Shell.
Senador
José Serra, dá uma olhada lá para trás e veja quantos lobistas do petróleo
estão frequentando o plenário do Senado. Está cheio de lobistas aqui, mas onde
estão os trabalhadores, os petroleiros que eu conversei lá fora? Eles não
puderam entrar, né? Os trabalhadores brasileiros, nossos petroleiros não
puderam entrar no plenário hoje. Por que?
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