A luta contra o fascismo, no Brasil, demanda um ajuste no curso dos acontecimentos (Foto: Correio do Brasil) |
Gilberto de Souza: A luta contra o fascismo continua
O próprio
governo, em plena luta para não ser apeado antes do tempo pelas forças do
fascismo, contribui com bilhões de reais em publicidade nas publicações
identificadas como quartéis da ultradireita golpista.
Por Gilberto de Souza – do Rio de
Janeiro – reproduzido do jornal digital Correio
do Brasil, de 30/01/2016 (o título principal acima é da edição deste blog)
Nesse
embate entre grande parcela da esquerda brasileira e o domínio da mídia
conservadora, que ora caça o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uso de
sítio e visita a apartamento, é preciso deixar claro que a ultradireita faz
esse estrago todo não porque seus argumentos sejam os mais justos, os mais
dedicados à maioria dos brasileiros. Mas pelo simples fato que tem
mais dinheiro e, com esse dinheiro, compra e mantém um exército de
colaboradores. O dinheiro tem um efeito hipnotizador, a ponto de alguns
deles se venderem por quase nada, ninharia para os donos do poder.
Não é que
falte coragem aos valorosos jornalistas que, com o peso de seus nomes e do
trabalho que exercem, saem em defesa do Estado democrático e de
Direito, na luta pela extinção do sistema capitalista e se unem
aos esforços internacionais por um mundo socialmente justo e
economicamente igualitário. Falta apoio. Falta organização. Sobra, sim,
heroísmo nos jornais, revistas e algumas poucas emissoras de rádio, na internet
ou não, que circulam – diariamente, no caso do Correio do Brasil – sob
condições de pressão absoluta, sem jamais abandonar os leitores, os
ouvintes, ávidos pelas notícias da resistência.
O apoio
publicitário é escasso, como determina o cartel da mídia alimentada pelas
verbas oficiais e as empresas, públicas e privadas, que sustentam os pilares de
Wall Street e da City, na sociedade brasileira. A busca pela informação é
dificultada, ao máximo, para os meios de comunicação independentes. Prova é que
parcela do Judiciário vaza quilos de processos aos veículos orientados para o
apoio ao golpe de Estado em curso. A própria presidenta da República não
resistiu à tentação de ver o nominho impresso em artigo publicado justo naquele
jornal conservador paulistano que a prefere fatiada, salgada e exposta pelas
ruas da corte.
Fascismo
dominante
Além da
contribuição editorial, o governo Dilma, em plena luta para não ser apeado
antes da hora, contribui com bilhões de reais em publicidade nas publicações
identificadas como quartéis da ultradireita golpista. Este fato é meramente
ilustrativo do volume implacável de obstáculos impostos, cotidianamente, no dia
a dia dos brasileiros que resistem – alguns há décadas – contra a máquina
fascista que trabalha, sem descanso, para enterrar qualquer tentativa de
democratização da mídia nacional.
Mas é
naquele momento, quando falta bala na agulha, o suporte aéreo não aparece e a
cavalaria acaba de avisar que teve um problema e não está mais a caminho, justo
quando a batalha segue feroz, que é preciso ter pé quente. E cabeça fria.
Em recente entrevista a blogueiros, o próprio Lula reparou no fato de que,
enquanto as maiores empresas do país sustentam o
Instituto Millenium – uma espécie de matéria escura que
une os interesses político-econômicos dos donos da mídia conservadora – os
produtores, os comandantes da mídia independente sequer conseguem conversar,
durante 30 minutos, sem quase sair no tapa.
As
iniciativas de brasileiros, de jornalistas, destes dirigentes que ainda mantém
viva a luta de heróis como Carlos Marighella, Leonel Brizola, entre tantos
outros, segundo Nietsche, submetem-se à lei da selva e, aqueles que
sobreviverem, sairão mais fortes, no futuro. Se houver um futuro.
É
terrível.
Mas tem
sido assim desde a invasão portuguesa. Portanto, não se trata aqui
de nenhuma novidade. Apenas pensávamos – erroneamente, como sabemos hoje –
que a eleição de um governo de centro, como foram Lula e, agora, Dilma
Rousseff, traria algum alento na batalha que travamos, a céu aberto, contra o
domínio do ódio, da intolerância, do fascismo.
Diante
dos fatos, avaliados os erros no curso dos acontecimentos, a determinação é de
ajustar o sextante e seguir em frente, rumo a 2018.
Em
resumo: a luta continua.
Gilberto
de Souza é
jornalista, editor-chefe do diário Correio do Brasil.
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