A campanha suja dos monopólios da comunicação de massa é o principal respaldo à temporada de caça ao ex-presidente Lula (Foto: Internet) |
Há hoje
no Brasil uma ofensiva devastadora contra valores humanistas e cristãos, uma
ode permanente ao ódio, à violência e à intolerância entre pessoas que pensam e
vivem distintamente.
Temos que construir uma mídia contra-hegemônica e lutar por uma sociedade mais
sadia e mais humana.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro),
editor deste Blog Evidentemente –
reproduzido do site Dia e Noite no Ar, de
02/02/2016
De
Salvador-Bahia - Diante do avanço das forças de direita e
da ultradireita no Brasil (e também na América Latina), tendo como principal
cabeça de ponte a mídia hegemônica – subsidiada por setores da Justiça,
Ministério Público e Polícia Federal -, se fortalece a cada dia entre os
companheiros da blogosfera progressista a percepção da prioridade absoluta da
luta pela democratização dos meios de comunicação, em especial das concessões
de rádio e TV.
Tal percepção inclusive ganhou nos últimos
dias tons dramáticos ante a frenética temporada de caça deflagrada contra o
ex-presidente Lula. A justificativa metida goela adentro duma população
desinformada é a suposta luta contra a corrupção, a mesma fraude imposta pela
imprensa para defenestrar Getúlio em 1954 e Jango em 1964.
Notam-se vozes representativas se somando ao
clamor contra o cerco midiático do pensamento único. Cerco que já foi tratado
pela presidenta Dilma, de forma inadequada, como “batalha da comunicação” – não
há batalha, há um massacre diário, uma ofensiva demolidora contra as forças
populares, democráticas, nacionais e de esquerda.
Há uma ofensiva devastadora contra valores
humanistas e cristãos, uma ode permanente ao ódio, à violência e à intolerância
entre pessoas que pensam e vivem
distintamente.
Vozes representativas como, por exemplo, as
do jornalista Mino Carta e do sociólogo Emir Sader, que recentemente sugeriram
ao governo de Dilma encarar a imprensa dominante como inimigo (sugestão que,
diante da fraqueza do governo, certamente cairá no vazio).
A cada dia ressoam novas vozes de
jornalistas, blogueiros, acadêmicos, juristas e políticos contra os
antidemocráticos e anticonstitucionais monopólios da mídia, uma luta que já vem
sendo travada há muito pela militância do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC) e mais recentemente pelos companheiros do Centro de Estudos
da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
No recente encontro de inauguração em São
Paulo do Fórum 21, uma nova e promissora frente política e cultural, o jornalista
e professor Laurindo Lalo Leal Filho foi claro (ele e o professor Venício Lima
são velhos batalhadores sobre o tema): “Cada vez mais, a sociedade brasileira
necessita se organizar diante da poderosa organização que já existe há muito
tempo e que é coordenada pela grande mídia nacional, contra os interesses
nacionais e os interesses da maioria da população”.
Continua Lalo Leal: “Um órgão como o Fórum 21, com a
estrutura que está se criando aqui, tem que ser muito imbricado pelo Brasil,
porque é a única condição, o único caminho que temos para enfrentar esse
partido monstruoso: o Partido da Mídia Brasileira, que é contra os interesses
nacionais”.
O próprio Lula - no que pese não ter feito nada
quando teve espaço político e institucional para fazê-lo e esbanjar habilidade
para dizer um discurso para cada tipo de plateia -, reconheceu em entrevista
aos blogueiros progressistas (ou “sujos”, como os viu o líder tucano José
Serra) no último dia 20: “A imprensa tem lado”. E prometeu processar todo
caluniador e difamador midiático, como de fato vem fazendo.
Do alto de seu rico cabedal de arauto da luta contra
a pobreza e de maior líder popular do país, o ex-presidente acrescentou: "Graças
a Deus a gente tem uma imprensa alternativa, que dá esperança de que a gente
possa fazer um enfrentamento".
De meros reagentes a agentes
de nossa própria agenda
Agora, daqui da invisibilidade da planície, me atrevo a
lançar meu grito – já rouco pela insistência e nenhuma repercussão: É PRECISO
DAR UM PASSO À FRENTE (o “graças a Deus” do Lula reflete muito pouco, não nos
iludamos).
É chato ser repetitivo: sem esse “passo à frente” nunca
teremos condições mínimas para chegarmos a uma reforma democrática da mídia,
uma reforma ao menos razoável. Nem a esta, nem a tantas outras de que carece,
historicamente, o povo brasileiro – lembrem, se puderem, das “reformas de base”
do defenestrado Jango.
E qual seria esse “passo à frente”? A construção duma mídia
contra-hegemônica, uma expressão que sequer entrou no linguajar cotidiano da
militância democrática no Brasil, embora já trivial na militância política de
muitos países latino-americanos. Claro, primeiro seria necessário adquirir consciência
e, em seguida, começar a luta pela construção...
Lula referiu-se a “uma imprensa alternativa” para fazer “um
enfrentamento”. Não sei até que ponto isso merece alguma credibilidade para ser
tomado como, por exemplo, uma proposta, pois o que temos é pouquíssimo, apesar
do esforço heroico dos “guerrilheiros” da blogosfera e redes sociais.
Mas, vamos lá, é disso que se trata: é preciso construir uma
forte e poderosa mídia alternativa que sirva de contraponto aos poderosos
monopólios: uma rede de emissoras de rádio e TV, plataformas digitais e, se for
o caso, até de jornais de papel (um tipo de mídia hoje em franca decadência),
meios comunitários, populares, que podem ser também privados, estatais e/ou
públicos.
Pensar grande, a médio e a longo prazo, assim: daqui a 10 ou
20 anos poderemos estar em condições de informar e formar consciências cidadãs
abertas a valores apegados à solidariedade, à fraternidade e a utopias de um
mundo mais saudável e mais humano.
Óbvio que outros fatores da atividade social estão também em
jogo, a exemplo da educação e da cultura, mas é fundamental para se construir
um mundo melhor uma mídia plural, criteriosa do ponto de vista jornalístico,
comprometida com os interesses democráticos, nacionais e populares. Não só uma
mídia capaz de reagir às diatribes da grande imprensa, mas capaz de ditar a sua
própria agenda.
Aviso aos navegantes: não se trata aqui apenas de fazer e
ganhar campanhas eleitorais – fator importante no jogo político -, mas de lutar
por uma sociedade mais sadia e mais humana.
Comentários
Cono sempre, seu artigo é inquestionável. De uma clareza ímpar. Você envia seus artigos ( com temas como este ) para seus colegas blogueiros? Acredito que valeria a pena enviar.
Grande abraço
Neste artigo de agora, enviei um texto por e-mail à frente Fórum 21 (uma frente com variadas forças políticas, visando debater e buscar saídas para a esquerda, me parece bem consistente e promissora) sugerindo debater a questão - construir uma mídia contra-hegemônica. Mandei a sugestão com um link para o artigo. Vamos ver se vai merecer alguma atenção.
Às vezes penso que nossos companheiros blogueiros progressistas imaginam que podem se contrapor aos poderosos monopólios da mídia hegemônica. Uma loucura!
Grande abraço, Jadson