(Foto: Internet) |
Há um discurso dominante na sociedade brasileira, através dos
poderosos monopólios privados de comunicação, como a Rede Globo, alardeando
todos os dias uma “verdade”: no Brasil há liberdade de imprensa e há liberdade
de expressão.
Por Jadson Oliveira
(jornalista/blogueiro), editor deste Blog Evidentemente – reproduzido do
site Dia e Noite no Ar, de 16/02/2016, com o título ‘A mídia e a busca
duma democracia participativa’ (o título acima é da edição deste blog)
Tenho escrito vários artigos, nos últimos
dois/três anos, enfocando basicamente: as forças políticas de cunho
democrático, popular, nacional e de esquerda (ou de centro-esquerda, incluindo
os governos liderados pelo PT), vivem no Brasil permanentemente na defensiva,
acuadas, especialmente depois da última eleição da presidenta Dilma.
Isso acontece, certamente, por um conjunto de
fatores. Não sou nenhum cientista político e não tenho pretensão de discorrer
sobre isso. Sou apenas um jornalista/blogueiro, me considero de esquerda,
alarmado com o avanço da direita, da ultradireita, até de posições fascistas,
cuja ponta de lança mais visível é a mídia hegemônica – os monopólios privados
dos meios de comunicação, Rede Globo à frente.
Aqui mesmo neste site diaenoitenoar.com.br
escrevi, duas semanas atrás, artigo sobre o tema (Blogosfera progressista x
mídia hegemônica: é preciso dar um passo à frente). Hoje escrevo, mais
propriamente, uma espécie de carta aberta aos companheiros da blogosfera, aproveitando
sugestão que fiz para que o assunto seja discutido pelo Fórum 21, uma ampla
frente política formada recentemente no Brasil visando justamente debater
saídas rumo a uma democracia popular e participativa.
Creio que o que dificulta as coisas para o
movimento popular e de esquerda é que há um discurso hegemônico na sociedade
brasileira, através dos monopólios privados de comunicação, afirmando uma
“verdade”: no Brasil há liberdade de imprensa e há liberdade de expressão.
Vou contestar e anunciar “minha verdade”: há
liberdade de imprensa sim, mas para quem tem dinheiro, para as grandes
empresas, para os Marinho da Rede Globo, por exemplo; daí que não gosto quando
se chama nosso regime político de democrático, o certo seria chamar regime
capitalista, toda democracia, toda liberdade para o capital, hoje muito
especialmente para o capital financeiro.
E quanto à liberdade de expressão há também
para essa gente, para a minoria, para o chamado 1%. E, portanto, não há
liberdade de expressão para o povo, para a maioria, para os setores mais
carentes e injustiçados, simplesmente porque estes não têm dinheiro para bancar
veículos e vozes que deem visibilidade à “sua verdade”. Será tão difícil de
compreender isso?
Daí que não consigo entender porque partidos e
movimentos sociais de esquerda e centro-esquerda e outros, a exemplo dos
blogueiros chamados progressistas, nem sequer discutem a necessidade de lutar
pela construção duma forte rede de meios de comunicação – alternativos, comunitários,
populares, privados, estatais, públicos -, comprometidos com um jornalismo
sério, plural, com os interesses nacionais e populares – o que chamo mídia
contra-hegemônica.
Aqui abro parênteses para lembrar a primeira
vez que tomei consciência da expressão “mídia contra-hegemônica”. Estava
entrevistando o então presidente (não sei se mudou) da Agência Venezuelana de
Notícias (AVN), jornalista Freddy Fernández, em Caracas, na segunda vez que
passei uma temporada por lá, em 2012, na época da última eleição do então
presidente Hugo Chávez. A AVN é estatal, criada no contexto da Revolução
Bolivariana.
“Nós aqui fazemos a mídia contra-hegemônica”
Conversa vai, conversa vem, Freddy me disse:
“Nós aqui fazemos a mídia contra-hegemônica”. Isso ficou no meu juízo e fui me
dando conta. Essa tal “mídia contra-hegemônica”, na Venezuela, incluía na época,
além da AVN, conforme me recordo:
Cinco emissoras de TV, duas delas de alcance
nacional – VTV-Venezuelana de Televisão e Telesur (Telesul), esta última
inclusive de alcance internacional; dois jornais de papel diários, um de
circulação nacional; mais duas ou três rádios e dezenas (talvez centenas, não
sei bem) meios de comunicação comunitários, entre emissoras de rádio e TV e
pequenos jornais de papel semanais e mensais. Também várias plataformas
digitais. Fecho parênteses.
Será que os companheiros de esquerda (ou
centro-esquerda) acreditam ser possível chegar a reformas mínimas da estrutura
do país – a exemplo da democratização dos órgãos de imprensa, em especial das
concessões de rádio e TV – SEM CONTAR COM O RESPALDO DUMA REDE DE MÍDIA
CONTRA-HEGEMÔNICA?
Como se contrapor às campanhas sujas dos
monopólios da mídia dominante – anteontem contra Getúlio, ontem contra Jango e
hoje contra Lula? Sempre levantando, da boca pra fora, a bandeira da luta
contra a corrupção – uma bandeira que foi, é e será, sempre, de todos os homens
e todas as mulheres de bem.
Como se contrapor à disseminação permanente de
“valores” sociais e culturais promotores do ódio, da violência, da
intolerância, do desamor, do individualismo, do consumismo? (Programas chamados
policiais, diariamente, na TV, tipo Datena e Marcelo Resende a nível nacional,
cujos filhotes se espalham por todos os estados; e também os grotescos programas
de entretenimento).
Vejo sempre companheiros valorosos esperneando
e reagindo a tais campanhas, principalmente através da blogosfera. Outro dia,
por exemplo, vi nosso sociólogo Emir Sader conclamando a um “mutirão” contra
tais campanhas de ódio. Mas – exclamo – com que armas e munição vamos para este
campo de batalha!?
A verdade nua e crua é que não temos veículos
de comunicação de massa para fazer um contraponto eficiente. Claro que hoje
temos os recursos da Internet, os quais ELES também os têm e até com mais poder
de fogo porque têm mais dinheiro. ELES têm a Internet e mais uma poderosíssima
rede de emissoras de rádio e TV, jornais, revistas...
Nós, além dos “guerrilheiros” da blogosfera e
redes sociais, temos uma revista semanal que faz um jornalismo criterioso, a Carta
Capital, e veículos de recursos muito limitados como a revista mensal Caros
Amigos e o jornal Brasil de Fato. E pouca coisa mais (emissoras comunitárias de
rádio e TV, raríssimas, são perseguidas pelo próprio governo também chamado de
progressista).
Bem, não quero me alongar mais, porque corro o
risco até de não ser lido. Às vezes tenho a sensação de que devo estar
totalmente equivocado, sou um lunático. Mas às vezes penso que posso ser, ao
contrário, um gênio iluminado, solitário e incompreendido, como diz a piada.
Fico intrigado: por que será que tanta gente
boa, inteligente, bem informada, lutadora – falo especialmente dos companheiros
da blogosfera progressista, que acompanho de perto – não vê essa premente
necessidade do movimento democrático brasileiro?
Em termos de América Latina, creio que seria
interessante conhecer o papel que joga a mídia contra-hegemônica em países como
Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.
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