Bala de borracha lançada pela PM atinge manifestante no rosto: repressão e força desproporcionais barram ato (Foto: Rodrigo Gomes/ RBA) |
"Vocês não conseguirão sair daqui", ameaçava comandante da PM.
"Ato é de resistência", rebatia MPL. Tensa desde o início,
manifestação foi liquidada por bombas, balas de borracha e gás, em novo ataque
contra a democracia.
Por Rodrigo Gomes, para a RBA (Rede Brasil Atual) - publicado 21/01/2016
17:45, última modificação 22/01/2016 10:38
São Paulo – A Polícia Militar voltou a
usar de truculência e reprimiu a manifestação de ontem (21). Foi o
quinto ato público organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra
o aumento das tarifas de metrôs, trens e ônibus na capital paulista. A
violência começou por volta das 21h40, quando o ato foi totalmente travado pela
PM ao chegar na Praça da República, no centro da cidade. A concentração foi a
cerca de 1,6 mil metros dali, no Terminal Parque Dom Pedro II.
Policiais formaram três cordões e atravessaram
caminhões do Choque na avenida Ipiranga para barrar a caminhada, que pretendia
seguir por cerca de mais sete quilômetros e chegar até a Assembleia Legislativa,
no Ibirapuera, região sul. Ao se depararem com o bloqueio, os organizadores
comunicaram, em formato jogral, que pretendiam seguir em frente e continuar o
trajeto, no que foram acompanhados pelos manifestantes. "A polícia é a
culpada por qualquer violência que ocorrer no nosso ato", gritavam os
organizadores, seguidos dos manifestantes.
(Foto: Reproduzida de Nodal - Notícias da América Latina e Caribe) |
Mesmo caminhando de mãos erguidas,
pacificamente e pedindo "sem violência", o ato foi atacado
intensamente, numa saraivada de spray de pimenta contra as pessoas na linha de
frente, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo lançadas contra os que
vinham mais atrás.
Houve vítimas. Um rapaz, inicialmente identificado
por André, foi ferido por uma bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi
atingido pelo impacto de uma bomba quando tentava escapar do ataque. Pelo menos
dez pessoas foram encaminhadas para o hospital das Clínicas e para a Santa Casa
de Misericórdia da região central.
Segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública
(SSP), oito pessoas foram detidas durante a manifestação. Elas foram levadas
ao 1º Distrito Policial e liberadas durante a madrugada.
O Movimento Passe Livre informou pelas redes
sociais que ao menos 17 pessoas ficaram feridas, por estilhaços de bombas ou
por balas de borracha. Um número não contabilizado de pessoas sofreu com os
efeitos da intoxicação por gás lacrimogêneo.
Ainda sob forte cheiro de gás, o militante do MPL
Vítor Quintiliano declarou que a luta continuará até a revogação do aumento das
tarifas de transporte, sem adiantar uma data para uma nova manifestação.
"Bastou os manifestantes encostarem no escudo do Choque para começar a
barbárie. Na outra, bastou pisar na outra pista da 23 de Maio e começou a
barbárie. A PM tem motivos ridículos para reprimir um ato legítimo",
afirmou.
O ativista
reafirmou que o MPL não vai aceitar trajetos impostos pela Secretaria da
Segurança Pública. "Quem tem de decidir o trajeto, a forma, o objetivo é o
povo ou o movimento que organiza o ato". O objetivo das mobilizações segue
sendo o mesmo: a revogação do aumento das tarifas do transporte coletivo em São
Paulo, de R$ 3,50 para R$ 3,80. "Lutamos por passe livre, mas o mote desta
mobilização é o reajuste. Só vamos sair das ruas quando a tarifa cair",
concluiu Vítor.
Ditatorial
O quinto ato do MPL contra o aumento do transporte
público em São Paulo, foi iniciado às 19h50, saindo do terminal Parque Dom
Pedro II, na região central. A caminhada, que pretendia seguir até a sede da
Assembleia Legislativa, no Ibirapuera (zona sul), saiu contrariando determinação
do comando da Polícia Militar, ostensivamente presente no local, que afirmou
que não permitiria o cumprimento do trajeto planejado pelos organizadores.
Terminal fechado: funcionário do local diz que foi determinação da SSP; comando da PM diz que foi da SPTrans (Foto: Jornalistas Livres) |
A tensão começou já durante a concentração, depois
de o terminal ser fechado, deixando sem condução milhares de pessoas que
queriam ir para casa. Segundo um funcionário da SPTrans que pediu
para não ser identificado, a ordem partiu da PM. Mais cedo, a Secretaria da
Segurança Pública (SSP) havia divulgado nota afirmando que não permitiria o
travamento do terminal. O tenente coronel da PM Mattos disse que houve um
acordo entre estado e município.
A medida revoltou a população, penalizada pela
decisão do poder público de fechar o terminal. "É um absurdo fazerem isso.
Como pode fechar o terminal assim e não colocar as linhas no entorno?",
questionou a vendedora Adelaide Soares, de 50 anos, moradora de Guaianases.
"Não está acontecendo nada demais aqui, pra que isso? Depois o povo se
revolta e ninguém entende", completou.
Marcha
A decisão de prosseguir com o ato conforme
planejado pelo MPL foi tomada após assembleia, que apreciou quatro propostas
diferentes: seguir o trajeto original; seguir pela Radial Leste até o Metrô
Tatuapé; ocupar o terminal Parque Dom Pedro II; ou acatar o trajeto imposto
pela polícia, de levar o ato somente até a Praça da República, também no
centro.
"Quem estabelece o trajeto de uma manifestação
popular não é o governo, nem a PM. Essa medida é antidemocrática, violenta e incita ao vandalismo", defenderam os
organizadores.
“O trajeto será aquele divulgado pela SSP. Se vocês
não seguirem nossa ordem, não vão nem conseguir sair daqui”, afirmou o comandante
da operação policial, tenente-coronel Motta, reiteradas vezes. Quando os
ativistas iniciaram a caminhada em direção à Assembleia Legislativa, policiais
cercavam toda a região e a Tropa de Choque já estava posicionada.
Assembleia de manifestantes contra alta das tarifas decide ‘resistir’, apesar da ostensiva presença da PM (Foto: Mídia Ninja CC) |
Às 20h10, seguida de perto por um forte contingente
policial, a passeata chegou à Secretaria dos Transportes Metropolitanos do
governo Alckmin, na Rua Líbero Badaró, onde foi feito um jogral
citando as denúncias de cartel e os atrasos em obras do Metrô: "Enquanto o
transporte for controlado por esses bandidos, as catracas vão ser mais
importantes que as pessoas", disseram os manifestantes.
Na rua Líbero Badaró uma bomba de gás lacrimogêneo
foi lançada pela PM após um objeto ser arremessado contra os agentes. Porém a
marcha se manteve e seguiu pelo viaduto do Chá, contornando o Teatro Municipal
e seguindo a avenida São João. Ao entrar na Avenida Ipiranga, os manifestantes
se depararam com três linhas de policiais da Tropa de Choque.
Após a repressão, os manifestantes correram pela
praça e para as ruas do entorno, mas muitas estavam fechadas pela PM. Grupos da
Tropa de Choque, da Força Tática e das Rondas Ostensivas com Apoio de
Motocicletas (Roçam) passaram a percorrer o centro caçando ativistas.
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