Emissoras
brasileiras de rádio e TV usam concessões, que são propriedade do poder público,
para envenenar mentes e corações com visões de mundo cheias de ódio e
intolerância e para disseminar versões parcializadas como se fossem verdades
absolutas. Apesar disso, a esperança está no ar.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – Editor do Blog
Evidentemente – reproduzido do site
Dia e Noite no Ar, de 05/01/2016
Há cerca de três meses li um artigo do sociólogo brasileiro Emir Sader e
o guardei nos meus arquivos. Ele falava do genocídio da juventude negra como o
maior escândalo da conjuntura brasileira e defendia a necessidade de se “reconquistar
a opinião pública para uma visão de paz e de convivência entre as pessoas”.
E arrematava: “Devemos fazer um grande mutirão nacional contra a
violência, contra a ação brutal da polícia contra os jovens negros no Brasil de
hoje”. Fiquei com esta proposta do nosso pensador social engatilhada na mente e
resolvi comentá-la aqui nesta tribuna aberta
pelo velho companheiro de redação Vicente de Paula, no seu site –
eminentemente plural – Dia e Noite no Ar.
Eu poderia usar uma metáfora simpática: “Com que roupa? – meu caro Emir
– com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” (grande Noel Rosa!).
Mas prefiro ser cru, “como couro cru” (como diria meu poeta predileto Antônio
Brasileiro):
Com que armas, meu caro Emir, vamos a essa batalha da comunicação que
você nos convidou? Faltou esse fundamental detalhe: com que meios de
comunicação vamos lutar para “reconquistar a opinião pública para uma visão de
paz e de convivência entre as pessoas”?
Por acaso teríamos espaço nos monopólios da mídia hegemônica para
disseminar uma visão de amor e solidariedade entre as pessoas? Em emissoras de
rádio e TV, as quais, apesar de concessões públicas, disseminam todo dia e toda
hora os “valores” do ódio e da intolerância contra pobres e pretos, contra os
que são diferentes, contra os que pensam diferente? Emissoras que envenenam
mentes e corações com suas versões parcializadas como se fossem verdades
absolutas?
Creio que, infelizmente, as forças políticas que atuam no Brasil mais
afinadas com o que poderíamos denominar movimento popular, democrático e de
esquerda nunca compreenderam a necessidade de investir na construção duma mídia
contra-hegemônica (além da luta pela democratização das concessões de rádio e
TV).
Uma mídia de massa, forte, de alcance nacional, de conteúdo crítico,
fundamentada em critérios jornalísticos, plural, não partidária e, ao mesmo
tempo, comprometida com os interesses nacionais e populares. (Quem tenta suprir
esta lacuna hoje, com dificuldades e sacrifícios, são os chamados blogueiros
progressistas e os “guerrilheiros” das redes sociais, além dumas poucas
publicações, como a Carta Capital, Brasil de Fato e Caros Amigos).
Me lembro dum amigo jornalista, petista, me contando ter participado dum
encontro do PT nos inícios do primeiro mandato de Lula. Ao se falar do tema, o
dirigente partidário do setor disse que não havia o que se debater no tocante à
comunicação.
Há o episódio contado por Roberto Requião, que mostra o quanto a direção
do PT é (ou era) obtusa na questão: o senador sugeriu a Lula, então presidente,
investir na construção dum potente canal de TV para enfrentar a TV Globo e
demais monopólios. Lula o mandou conversar com José Dirceu, seu então chefe da
Casa Civil. Então, Dirceu disse a Requião que o governo não precisava duma TV,
simplesmente porque já tinha uma: era a TV Globo. (É até uma coisa louca pensar
numa ingenuidade deste tamanho da parte dum cara como José Dirceu!)
Conclusão: Lula, apesar dele próprio um genial comunicador, não parece
ter sensibilidade para a questão. A presidenta Dilma, definitivamente, não é do
ramo: é bastante recordar aquela babaquice que ela dizia sobre regular a mídia
através do controle remoto. Nesses dias de passagem para o Ano Novo, ela fez
mais uma besteira: publicou um artigo assinado por ela, com exclusividade, na
Folha de S.Paulo, jornalão conservador decadente que usa tais expedientes para
chancelar sua suposta pluralidade.
Apesar de
tudo, a esperança está no ar
Felizmente, os monopólios da mídia podem muito, mas não podem tudo. Em
São Paulo, o ano de 2015, um ano marcado pela ascensão de forças obscurantistas
e intolerantes, fechou com um raio de luminosidade e esperança - o movimento de
rebeldia da juventude secundarista.
A meninada se insurgiu contra o chamado projeto de reorganização do
sistema educacional do estado, ocupou 216 escolas (segundo dados da liderança
sindical dos professores) e forçou o governador tucano Geraldo Alckmin a voltar
atrás. A façanha dos estudantes ganha tons surpreendentes e alvissareiros se
lembrarmos da desavergonhada cumplicidade da imprensa com o governo paulista,
além da violência da repressão policial.
(Me regozijo em publicar acima uma bela foto duma das guerreiras
paulistas em luta, de autoria de Sato do
Brasil, do site Jornalistas Livres).
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