Colunista denuncia o hábito da grande imprensa de esconder a verdade |
Para o colunista, os brasileiros
vivem enganados pelas mentiras da grande imprensa, que esconde sempre a
verdade.
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de
Janeiro – reproduzido do jornal digital Correio
do Brasil, de 26/01/2016
Há pelo menos duas décadas, quase
diariamente, sucessivos governos federais e a mídia comercial têm denunciado
uma suposta crise na Previdência Social. Os propulsores dessa tese advertem
também que se nada for feito a Previdência vai quebrar. Jornais conservadores
não fazem por menos e divulgam editoriais defendendo de todas as formas
possíveis uma reforma que basicamente prejudicaria os assalariados.
Pois bem, a economista Denise
Gentil, baseada em argumentos insofismáveis, acaba de apresentar tese de
doutorado mostrando que a falência da Previdência Social tão alardeada é
mentirosa e não resiste à análise mais aprofundada.
Falso déficit da Previdência
Denise Gentil prova por A mais B
a existência de uma gigantesca farsa contábil transformando em déficit o
superávit do sistema previdenciário, que atingiu a cifra de R$ 1,2 bilhões em
2006.
No aprofundado trabalho acadêmico
da professora do Instituto de Economia da UFRJ fica demonstrado a cascata
governamental com total apoio da mídia conservadora.
Omite-se o fato de que o
superávit da Seguridade Social, abrangendo a Saúde, a Assistência Social e a
Previdência, foi de 72,2 bilhões de reais
E o que aconteceu então? Segundo
Denise Gentil, boa parte desse excedente vem sendo desviado para cobrir outras
despesas, especialmente de ordem financeira.
Mas tal fato é omitido e os
brasileiros recebem a mentira repetida inúmeras vezes com o objetivo de que
vire uma verdade, seguindo velha técnica do chefe da propaganda do III Reich
nazista, Joseph Goebbels.
“A falsa crise da Seguridade
Social no Brasil: uma análise financeira do período de 1990 a 2005”, o título
da tese de doutorado deveria ser apresentada como contraponto pela própria
mídia conservadora, mas, claro, se ela fosse realmente imparcial como propaga.
Mas não é, e por isso os leitores, ouvintes e telespectadores não têm acesso a
esse tipo de reflexão.
Mas na edição do Jornal da UFRJ
do último dia 11 de janeiro, a economista explica em detalhes a sua tese que
contraria a “verdade” que vem sendo propagada há pelo menos duas décadas.
Numa longa entrevista concedida a Coryntho
Baldez, Denise Gentil assinala entre outras coisas que “a ideia de
falência dos sistemas previdenciários públicos e os ataques às instituições
do estado de bem estar social tornaram-se dominantes em meados dos anos
1970 e foram reforçadas com a crise econômica dos anos 80 em que o pensamento
liberal-conservador ganhou terreno no meio político e no meio acadêmico”.
Em sequência ela afirma que “a
questão central para as sociedades ocidentais deixou de ser o desenvolvimento
econômico e a distribuição da renda, proporcionados pela intervenção do Estado,
para se converter no combate à inflação e na defesa da ampla soberania dos
mercados e dos interesses individuais sobre os interesses coletivos. Um sistema
de seguridade social que fosse universal, solidário e baseado em princípios
redistributivistas conflitava com essa nova visão de mundo”.
“O principal argumento para
modificar a arquitetura dos sistemas estatais de proteção social, construídos
num período de crescimento do pós-guerra, foi o dos custos crescentes dos
sistemas previdenciários, os quais decorreriam, principalmente, de uma dramática
trajetória demográfica de envelhecimento da população”.
“A partir de então, um problema
que é puramente de origem sócio-econômica foi reduzido a um mero problema
demográfico, diante do qual não há solução possível a não ser o corte de
direitos, redução do valor dos benefícios e elevação de impostos. Essas ideias
foram amplamente difundidas para a periferia do capitalismo e reformas
privatizantes foram implantadas em vários países da América Latina”.
Fernando Henrique Cardoso que o
diga, bem como seus seguidores nos mais diversos campos, um deles Armínio
Fraga, consultor amplo e irrestrito do senador Aécio Neves e muito ligado ao
ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy,
Denise Gentil em essência defende
a ideia segundo a qual o déficit previdenciário não está correto, porque não se
baseia nos preceitos da Constituição Federal de 1988, que estabelece o
arcabouço jurídico do sistema de Seguridade Social.
“O cálculo do resultado
previdenciário leva em consideração apenas a receita de contribuição ao
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que incide sobre a folha
de pagamento, diminuindo dessa receita o valor dos benefícios pagos aos
trabalhadores. O resultado dá em déficit. Essa, no entanto, é uma equação
simplificadora da questão. Há outras fontes de receita da Previdência que não
são computadas nesse cálculo, como a Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (COFINS), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL), a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a
receita de concursos de prognósticos. Isso está expressamente garantido no
artigo 195 da Constituição e acintosamente não é levado em consideração”.
Foco de corrupção silenciado
Já que este espaço está dedicado
a colocar em cheque um falso argumento que vem sendo apresentado para iludir os
brasileiros, vale a pena também mencionar artigo do economista José Carlos de
Assis mostrando o silêncio total e absoluto da mídia conservadora em relação a
um grave foco de corrupção de responsabilidade do Banco Central. Segundo ele,
no ano passado foram desviados para o setor financeiro algo em torno de 89
bilhões e 600 milhões de reais, quantia 40 vezes maior do que as fraudes
cometidas por bandidos na Petrobras.
Esse desvio passou
deliberadamente e ninguém reclamou. Até porque, claro, se o tema for
aprofundado vai atingir também muitos setores que se apresentam diante da
opinião pública como moralistas de plantão.
No Banco Central, ainda segundo
Assis, rouba-se à vontade e longe de qualquer tipo de fiscalização da
cidadania. E ainda por cima tudo sob a cobertura de “operações monetárias
especiais só dominadas por ‘especialistas’”.
Em seu desabafo muito bem
fundamentado, Assis assinala ainda que “generoso com os bandidos do setor
financeiro, o Banco Central é excessivamente parcimonioso com os agentes
produtivos da economia. Sobre estes recaem as taxas extorsivas de juros que em
outras partes do mundo, se efetivadas, resultariam em cadeia”.
Por estas e ainda muitas outras,
para se combater para valer a corrupção, não basta apenas espetáculos de
pirotecnia como a Operação Lava Jato e outras do gênero. É preciso seguir
informando questões como as denunciadas pelo economista José Carlos de Assis e
a tese de Denise Gentil.
Lei dos meios de comunicação
E para finalizar, em matéria de
silêncio da mídia conservadora vale informar que na Argentina uma juíza federal
de San Martín e um juiz federal de Buenos Aires deixaram sem efeito os decretos
do presidente argentino Maurício Macri relacionados com a revogação da lei dos
meios de comunicação.
Os jornalões e telejornalões
deram grande destaque ao que havia determinado Macri, mas ignoraram totalmente
as decisões dos juízes mencionados que revogaram o decreto que interessava ao
grupo Clarín.
Podem
imaginar o motivo do silêncio desinformativo?
A propósito
de omissão e silêncio midiático, quando os jornalões e telejornalões vão
aprofundar a questão dos 100 milhões de dólares de propinas no
governo FHC?
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do
jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de
Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV
trasnmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade
Federal Fluminense. Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na
Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla, lançados no Rio de Janeiro.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui
Martins.
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