A um mês do referendo para se habilitar a disputar uma nova reeleição, Evo Morales comemora seus 10 anos na presidência (Foto: EFE/Página/12) |
No momento em que o rumo progressista inaugurado com
Chávez em 1998 atravessa sua fase mais crítica – com as recentes derrotas eleitorais
na Argentina e Venezuela e o asfixiante assédio da direita brasileira a Dilma, –
o evismo, em termos gerais, navega nas águas calmas da governabilidade.
Por Agustín Lewit (*) – no jornal argentino
Página/12, edição impressa de hoje,
dia 22
Quando
Evo Morales ganhou as eleições presidenciais em outubro de 2005, poucos - para
não dizer ninguém – teriam apostado que uma década depois continuaria à frente
do poder, com a possibilidade inclusive de estender seu mandato por 19 anos
consecutivos, se ganhar o referendo do próximo mês e as eleições de 2019, algo
– pelo menos por enquanto – perfeitamente possível.
A rigor, sobram fatos surpreendentes: no momento em
que o rumo progressista inaugurado com Chávez em 1998 atravessa sua fase mais
crítica – com as recentes derrotas eleitorais na Argentina e Venezuela e o
asfixiante assédio da direita brasileira a Dilma – o evismo, em termos gerais,
navega nas águas calmas da governabilidade. Longe de ser casual, a sólida
hegemonia que blinda hoje o governo de Evo Morales, após intensos 10 anos de governo,
se nutre de três razões fundamentais: inéditas melhorias sociais dos setores
populares e médios, uma exitosa política econômica reconhecida interna e
externamente, e uma boa cota de astúcia para lidar tanto com a velha classe
política boliviana como com as diversas organizações sociais.
Sobre a primera, as cifras são contundentes: redução
durante a última década de 20 pontos percentuais da pobreza extrema, notória melhoria
dos índices de igualdade – em oito anos, o índice Gini passou de 0,60 para
0,47– e um desemprego que em 2015 apenas superou 3%, tudo acompanhado duma
bateria de programas sociais que alcançam a metade da população e que permitiram uma inclusão pela via do consumo sem
precedentes. Se somam a erradicação do analfabetismo, reconhecida pela Unesco
em 2014, e alguns avanços em matéria de saúde. A chave dessa matriz
reparacionista é similar à de outros processos vizinhos: a estatização dos
recursos naturais – gás e petróleo, neste caso – e uma redistribuição de seus
dividendos, num contexto internacional favorável (até agora).
Continua em espanhol, com traduções pontuais:
No obstante los aspectos comunes, el proceso
boliviano también desarrolló (desenvolveu) singularidades. La más notoria,
quizás, sea la fuerte estabilidad económica, central en un país en el que aún
retumba el trauma que sembró la (no qual ainda retumba o trauma causado pela) hiperinflación
de 1985. Con una conjugación exitosa entre pragmatismo y rigurosidad, entre
heterodoxia y equilibrio fiscal, Bolivia cierra una década con un crecimiento
promedio (médio) del PIB del 5,1 por ciento – que llevó a triplicarlo en diez
años –, una tasa de inflación del 2,78, el mayor nivel porcentual de reservas
de la región y una notable reducción de la deuda (dívida) pública. La obsesión
del presidente por apuntalar el crecimiento obligó a una versatilidad no
librada (não isenta) de críticas internas: así como Evo es un personaje clave
del ALBA, también firma sin sonrojarse (também assina sem se encabular) acuerdos
económicos con Merkel.
Esa capacidad de adaptación se reflejó
progresivamente también en la propia praxis política del líder del MAS
(Movimento Ao Socialismo – seu partido). Evo ya no es aquél líder indígena y
dirigente sindical que llegó al poder traccionado por una revuelta plebeya
(empurrado por uma revolta plebeia). Lejos de eso (Longe disso), el ex
dirigente cocalero (do sindicato dos cocaleiros) es hoy la máxima figura
política de su país con un liderazgo indiscutido (com uma liderança
indiscutida). Esa transformación, que implicó superar la fragilidad inicial
alimentada de prejuicios (preconceitos) y subestimaciones, se logró a fuerza de
mostrar una tenacidad inquebrantable algunas veces, pero también gracias a
saber negociar en otras tantas, lo que en política supone a menudo saber ceder.
La reposición de la justa y sensible demanda marítima a Chile, designando como
vocero (representante) al ex presidente y referente (notório) opositor Carlos
Mesa, o (ou) ciertas concesiones realizadas a la poderosa Media Luna (nome pelo
qual é conhecida a zona leste do país, com quatro departamentos – estados -,
sendo o principal Santa Cruz; nessa zona se concentrava ferrenha oposição a
Evo), donde en la última elección presidencial – a excepción (do departamento,
estado) de Beni – logró imponerse cuando hace algunos años no podía siquiera
pisar, hablan de cierta maduración política (falam de certo amadurecimento
político) del presidente en el manejo de la realpolitik.
Pero no sólo Evo cambió (mudou) en estos diez años:
en ese entramado complejo que es Bolivia casi no quedan elementos que no hayan (quase
não restam elementos que não tenham) sido transformados. El Estado, la
Constitución – la primera refrendada popularmente –, incluso el propio nombre
del país, que por fin da cuenta de la diversidad, están atravesados por la
novedad. Por una novedad potente, transformadora, redentora de un doloroso y
prematuro neoliberalismo, pero que sigue teniendo, claro está, numerosas
cuentas pendientes (mas que continua tendo, é claro, numerosas contas
pendentes). Evo, el ex pastor de llamas (mamífero próprio da região andina), el
sindicalista cocalero, el primer presidente indígena, es consciente de ello (disso)
y de ahí su obsesión por continuar al frente de un proyecto que ya ha
transformado al país y a su gente como nunca antes en su historia.
(*) Investigador del Centro Cultural de la
Cooperación-Nodal.
Tradução (parcial): Jadson Oliveira
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