A coragem dos estudantes conseguiu dobrar o governo (Foto: Internet) |
Colunista se inflama diante da coragem das
estudantes paulistas que enfrentaram o governo.
Por Apóllo
Natali, de São Paulo – no site Direto
da Redação – reproduzido do jornal digital Correio do Brasil, de 28/12/2015
Que instantâneo emocionante de
uma democracia! Meninas estudantes nas ruas de São Paulo - meninas! -, que
coragem a de vocês, enfrentando de peito aberto temíveis policiais militares
encarregados de desencorajarem com brutalidade sua luta pacífica pelo não
fechamento de suas escolas.
Do alto dos meus 80 anos nunca
fui assim iluminado e proclamo: que inveja dessa coragem que eu nunca tive!
Confessar covardia, esta coragem eu tenho…
Gatinha, olha essa bomba de
efeito moral que explodiu ao seu lado! Essa bomba de gás lacrimogênio! Esse gás
de pimenta nos seus olhinhos! Você não tem medo, garotinha?
(Não tem medo não, a danadinha!)
Que inveja da coragem daqueles
meninos e meninas a teimar que uma democracia não é lugar para posturas
autoritárias. Que lição de democracia essa, dos pequeninos e pequeninas! São de
boa estatura, alguns, mas na idade e na cabeça são estudantes crianças. A
polícia já constata que foram bandidos, alguns até mascarados, que aproveitaram
a oportunidade para depredar escolas e furtar bens. E tem de concordar que só
em democracia se faz festas.
Trajetória negativa de Alckmin: de médico bonachão a aprendiz de
ditador.
Na história de Alice no País das
Maravilhas, a menininha enfrenta uma rainha ditatorial que esbraveja
repetidamente durante toda a historinha infantil de terror sua deixa de morte:
cortem-lhe a cabeça!
As menininhas e menininhos nos
protestos da Avenida Paulista enfrentam um duque absolutista que, durante toda
essa sua historinha adulta de terror, dá vazão à sua sanha ditatorial contra
crianças, a esbravejar, espumando de ódio: reprima-se!
A rainha ordena, sem mais nem
menos, que um tal gatinho, bichinho querido das crianças, seja decapitado, por
pertencer à Duquesa, que ela odeia. O governador Geraldo Alckmin, com seu ódio
a uma duquesa chamada democracia, põe na rua policiais militares para derrubar,
algemar crianças e levá-las para a delegacia.
Crianças! Que instantâneo nauseante das sobras da última ditadura
brasileira!
Mais algumas lufadas de
despotismo como esse e a nossa esganada democracia vai perder o fôlego de vez.
Para justificar a suspensão do
seu projeto de alcance medíocre em favor da educação, Alckmin se escudou nas
palavras do papa Francisco que recomenda diálogo para resolver
diferenças. Para dizer o nada que disse, Alckmin fez um solene,
espetaculoso discurso de meio minuto diante de uma selva de microfones. Falou
pouco, virou as costas e fugiu de perguntas dos jornalistas.
Ora, governador Geraldo Alckmin,
faz tempo, faz 6 mil anos, surgiu na região onde se situa hoje o Irã, a Síria e
o Iraque, o movimento para opor o diálogo à opinião única dos tiranos,
movimento esse então chamado de democracia de assembleia. Não precisava esperar
tanto tempo e se agarrar em Francisco para deixar sua ficha cair. [Não, a
democracia não surgiu na Grécia. Lá ela se fanatizou.]
Até agora só deu PM de Alckmin em
cima de estudantes que protestam na USP, PM de Alckmin em cima de
professores grevistas, PM de Alckmin em cima de qualquer um que protesta
nas ruas. Tudo bem, dá-lhe, PM! é a rotina do governo Alckmin. Mas agora, o que
acontece?
Tudo bem, todos sabem que o PSDB,
há 21 anos no governo, é o responsável pelo fracasso da educação em São Paulo;
e também já se tornou de domínio público que os estudantes não aceitam agora a
falácia de sua chamada reestruturação do ensino. No entanto, encurralado,
fingindo-se de democrata, Alckmin se oferece para o diálogo com os estudantes e
seus pais durante todo 2016.
Cuidado, o inimigo da Duquesa nos
dá o direito de suspeitar que ele vá desferir sem dó em 2017 o golpe de
misericórdia para executar ditatorialmente, sem a concordância dos alunos, seu
insignificante e predador projeto de reduzir custos para a educação.
Ou antes até, passo a passo, em doses
homeopáticas em meio às férias escolares, um pouco aqui, outro ali. De grão em
grão a galinha acaba na panela. Alerta!
Em todo caso, quando vocês,
menininhos e menininhas iluminados, e seu papais, não vislumbrarem a mínima
possibilidade de salvação e a vontade absoluta de Geraldo Alckmin vencer, aí é
que vocês deverão apelar para todas as suas forças, erguer a cabeça
orgulhosamente e gritar bem alto, com voz possante, segura, para que o mundo
inteiro os escute: socooooooooorrrrrrooo!!!
Apóllo
Natali foi
o primeiro redator da antiga Agência Estado, foi redator da Rádio Eldorado, do
Estadão e do antigo Jornal da Tarde. Escreve atualmente para diversos sites e
blogs de notícia, como o Observatório da Imprensa.
Direto da
Redação é um
fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
Comentários