(Foto: Twitter/Viomundo) |
As manifestações em defesa do impeachment da
presidenta Dilma Rousseff foram um fracasso neste domingo 13, dia em que se
“comemora” a implantação do AI5 na ditadura militar.
Por Adriano Diogo (ex-deputado estadual pelo PT-SP),
especial para os Jornalistas Livres – reproduzido do blog Viomundo – o que você não vê na mídia,
de 13/12/2015
Era
véspera de vestibular, oito horas da noite e eu estava no curso Objetivo, que
então funcionava na Praça da Liberdade, ao lado da Igreja dos Aflitos. João
Carlos Di Gênio, dono do cursinho, colocou em todas as caixa de som o
pronunciamento do ministro da Justiça da época, Luis Antonio Gama e Silva.
Foi uma
noite macabra.
Desci
sozinho para o parque D. Pedro para tomar um ônibus e percebi que já estava
tudo cercado pelo quartel da região. Nos pontos, as pessoas eram revistadas.
Nas fábricas da Mooca, tudo estava cercado. A barra estava pesadíssima.
Todos os
teatros fecharam as portas, e as pessoas começaram a se juntar e conversar para
saber o que seria do Brasil. Anunciava-se a pena de morte e o banimento. Aquela
noite foi apenas o começo de um pesadelo que iria durar dez anos.
Morto
pela polícia da Ditadura quando se escondia da repressão dentro do restaurante
Calabouço, o secundarista Edson Luís de Lima Souto tornou-se o símbolo triste
de uma juventude silenciada à força
Fazia
algum tempo que a Ditadura estava sendo fortemente contestada nas ruas.
Passeatas se multiplicavam pelo país, a morte do estudante Edson Luís de Lima
Souto, no Rio de Janeiro, assassinado pela polícia dentro do restaurante
Calabouço, provocou uma comoção nacional contra o governo forte de Costa Silva.
A UNE, União Nacional dos Estudantes, organizou um grande congresso em Ibiúna
em outubro, interior de São Paulo, poucos meses antes. Os jovens foram presos
e, depois do pronunciamento do AI-5, os líderes do movimento tornaram-se
espécie de reféns clandestinos. A ditadura os marcou — quem estava na
organização foi jurado de morte. A USP foi cercada, ninguém entrava sem ser
revistado. Os centros acadêmicos foram fechados ou invadidos.
Até o
cursinho Objetivo, onde eu estudava, moveu uma forte perseguição aos
estudantes. Eu mesmo era visado pela diretoria por levar os colegas ao teatro e
conversar sobre política.
O ar
estava irrespirável. Se antes do AI-5 a cidade estava efervescente com as
contestações ao regime, depois a tristeza e o silêncio se abateram sobre todos.
Só se ouviam notícias de gente que saía de casa e não voltava, gente que teve
de se esconder, documentos que foram queimados. Eu percebi que o mundo havia
mudado. Se antes conseguíamos fazer uma crítica ao acordo MEC-Usaid, de
privatização do ensino, depois foi só solidão. Não se podia falar nada, as
pessoas sussurravam. A televisão apoiava o endurecimento do regime, instigando
o clima de terror, com delações aos colegas, aos professores e intelectuais. A
censura piorou muito.
Muitos,
como eu, foram presos e torturados ilegalmente pela Ditadura que endureceu com
o AI-5. Tantos foram assassinados nos porões do regime, depois de sofrerem
suplícios indescritíveis.
E agora,
um grupo de golpistas tem a intenção de comemorar essa data macabra, dia 13 de
dezembro, com uma manifestação para pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
A escolha da data do protesto pelo impeachment é a melhor e mais cabal prova de
que esses movimentos que pedem o golpe não estão interessados na Democracia.
Longe disso.
Passaram-se
47 anos daquele dia trágico, mas eu e meus companheiros que sobreviveram ao
arbítrio, às câmaras de tortura, ao assassinato, estamos aqui como testemunhas
de acusação dessa gente que quer a volta da Ditadura ao Brasil.
O povo
brasileiro, já tão sofrido, não merece essa empulhação, essa dor, mais este
sofrimento.
Não é o
que queremos.
É preciso
salvar (e melhorar!) a DE-MO-CRA-CI-A.
Comentários