(Foto: Internet) |
Esposa e filha de Vaccari falam pela
primeira vez
Elas contam como é ter o marido e pai preso e
exposto à execração pública só porque é do PT
“Apesar da pressão para
que todos se tornem delatores, tenho certeza de que meu
pai jamais fará isso.
A ideologia é tudo para
ele.
E ele jamais
falaria de pessoas inocentes só para sair da prisão”, diz Nayara, filha de
Vaccari.
Publicado em 30 de outubro de 2015 no Blog ‘A
verdade sobre Vaccari’ – reproduzido do blog de Gilmar Carneiro, de
01/11/2015
“Não sei
se consigo falar. É difícil. Quem está nos dando força na verdade é o próprio
João. Ele é muito forte e é o que nos dá alicerce”.
Foi assim
que Giselda de Lima, a Gigi, há mais de 30 anos casada com João Vaccari Neto,
deu a primeira entrevista sobre o drama que a família vem enfrentando nos
últimos meses. Ao seu lado, com os olhos marejados, estava Nayara de Lima, a
filha do casal.
“Quem
está nos dando força na verdade é o próprio João” é uma frase surpreendente
para quem não conhece Vaccari, mas não para aqueles que conviveram com ele,
como seus amigos e companheiros. Ela resume a personalidade de um homem com
sólidos laços familiares, ético, determinado, comprometido com seus ideais
políticos e, por isso mesmo, perseguido, humilhado e execrado.
Um
silêncio ensurdecer tomou conta da sala. Não era um silêncio comum apenas a uma
casa onde um bebê dorme tranquilamente. Era o silêncio que vinha lá do fundo
dos corações dessas mulheres que mostram que têm a força típica dos Vaccari
para enfrentar as torturas psicológicas. E, naquele momento, apesar do choro
incontido, ao decidirem conceder entrevista a nosso Blog, mostravam também que estavam
muito mais fortes do que pensavam para seguir lutando por justiça.
Ainda
surpresas e certas de que não conseguiriam falar mais que duas frases, Gigi e
Nayara abriram o coração e, com a voz embargada ou crises de choro, relembraram
o pesadelo que enfrentam desde que a Operação Lava Jato passou a perseguir a
família.
15 de
abril. Logo cedo os noticiários exploravam de forma sensacionalista a prisão
preventiva do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Foi um dia terrível,
porém não tão humilhante como a manhã de 5 de fevereiro, quando a Polícia
Federal invadiu a casa da família depois de arrombar o portão para conduzir
coercitivamente Vaccari a depor. “Foi horrível e assustador. Naquele dia, ele
não saiu para a caminhada como costumava fazer. Estávamos dormindo e foi um
grande susto, pois foi muito truculento”, lembra Gigi.
Nayara, a
filha única do casal, estava grávida de oito meses quando seu pai foi preso de
forma humilhante e injusta sob os holofotes da mídia. João Mateus, o genro de Vaccari, foi quem preparou o espírito da então
futura mamãe. “Ele dizia para mim, com todo o cuidado: você sabe o que de ruim
pode acontecer ao seu pai, né? Mas vai ficar tudo bem.”
Os dez
primeiros dias após a prisão – praticamente anunciada, prevista e defendida
pela mídia nos dias que a antecederam – foram os mais difíceis. De repente,
esposa, filha e a cunhada Marice Correa viram seus nomes e imagens sendo
explorados de maneira covarde em uma campanha difamatória e brutal.
A base de
tudo foram os vazamentos de dados confusos e contraditórios, devidamente
explorados pela imprensa que não teve o mínimo pudor ao distorcer cada
informação. “Foi bem difícil. Minha mãe ficou muito abalada, principalmente no
período em que ficavam comparando a imagem dela com a da minha tia”, conta
Nayara.
A
tentativa de destruir a honra da família Vaccari, a forma avassaladora a que a
intimidade deles foi exposta por jornais e revistas, continua provocando
calafrios na Gigi, que, compreensivelmente, ainda se assusta com a presença de
jornalistas.
Passados
alguns meses, Gigi e Nayara se esforçam para encontrar formas de conviver com
essa nova realidade.
A
ideologia mantém meu pai sereno
“Acredito
no que fiz, por isso vou até o final”. É com essas palavras que Nayara descreve
uma das conversas que teve com o pai. “O que me dá força é essa convicção dele
de que fez tudo certo. É isso que faz com que eu o admire ainda mais e aceite melhor
tudo o que estamos passando.”
Falar da
ideologia do pai é, visivelmente, motivo de orgulho para essa jovem médica
ginecologista. No olhar e nos gestos é possível perceber a emoção que toma
conta de Nayara quando fala sobre suas conversas com Vaccari.
“Meu pai
é muito ideológico. Ele diz que a vida dele não fará mais sentido se sua
soltura implicar perder tudo aquilo em que acredita. A ideologia é tudo para o
meu pai e é isso que vai fazê-lo aguentar até o final.”
E nem foi
preciso perguntar o que seria esse final. Apesar de não militar
partidariamente, Nayara tem plena consciência da perseguição política da qual
seu pai é vítima e da pressão que ele sofre diariamente. Ela logo emendou:
“Existe uma clara pressão para que todos se tornem delatores. Mas tenho certeza
de que meu pai jamais faria isso. Primeiro, porque ele me disse que não tem o
que falar. Segundo porque querem nomes e ele jamais falaria de pessoas
inocentes só para sair da prisão.”
Nesse
momento, Gigi, também muito emocionada, concordou com todas as palavras da
filha. “João é um homem muito honesto e justo”, completou.
Como não
pode conviver com o neto, Vaccari lê livros infantis
“Essa é a forma que ele encontrou para saber lidar com o neto quando
voltar para casa”
Quando
Gigi e Nayara visitaram Vaccari pela primeira vez no Complexo Médico-Penal, em
Curitiba, seu neto já havia nascido. Foi o nascimento de João que o fez começar
a ler livros de contos infantis. Isso mesmo, Vaccari, aquele homem apresentado
pela mídia como seco e frio, passou a frequentar a biblioteca da prisão para
ler livros para crianças – o primeiro, com cerca de 50 páginas, foi “O menino
que mudou de bairro”.
A
história, explica Nayara, é sobre um menino que sofre preconceito ao mudar de
casa e tem dificuldade para se relacionar com as crianças do novo bairro. “Meu
pai disse que o conto trazia um debate importante sobre preconceito e por isso
escolheu o livro. Só podia ser meu pai mesmo, é a cara dele isso”, disse, entre
risos.
O segundo
livro infantil foi “O menino do dedo verde”. Até a pedagoga responsável pela
prisão estranhou a escolha de um segundo livro infantil. “Ela deve ter ficado
confusa. De repente, ele pega dois livros infantis na sequência. Ela perguntou
o porquê”, contou Gigi.
– E o que
ele respondeu?, pergunta a reportagem.
– Ele
disse: “mas o que eu vou conversar com o meu neto quando sair daqui?”
O avô
Vaccari certamente está orgulhoso e feliz e demonstra isso do seu jeito. Foi
assim quando viu seu neto com calça jeans pela primeira vez. Nayara conta que
quando levou João para conhecer o avô, Vaccari não conseguiu expressar a
alegria e, emocionado, repetiu diversas vezes a mesma frase: “Esse meu neto
parece um homem de calça jeans”.
Quem sabe
estava sonhando com o futuro, quando puder passear de mãos dadas com seu
neto, livre.
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