Theotônio dos Santos, ao centro (Foto: Clacso - facebook) |
Theotônio Dos Santos e Martin
Granovsky conversaram com a Carta Maior sobre o cenário atual e as perspectivas
da região em tempos de ofensiva reacionária.
Theotônio: “Não se deve acreditar ingenuamente que os governos e os
processos sociais que surgiram nestes anos serão eliminados tão facilmente
pelas forças conservadoras, como a grande imprensa quer que nós acreditemos”.
“Os meios de comunicação têm grande força na América Latina, é verdade, mas não têm tanta força como eles querem que nós pensemos. Basta dizer que seus candidatos perderam na maioria das eleições recentes”.
“Os meios de comunicação têm grande força na América Latina, é verdade, mas não têm tanta força como eles querem que nós pensemos. Basta dizer que seus candidatos perderam na maioria das eleições recentes”.
Por Darío Pignotti, enviado
especial a Medellín – reproduzido do portal Carta Maior, de
15/11/2015
Um fantasma percorre a América do Sul: as direitas enraivecidas com as
políticas reformistas e de esquerda se organizam para assaltar o poder através
de planos destituintes que marcham a todo vapor no Brasil, no Equador, na
Venezuela e em outros países da região.
Esse é um dos temas que vêm sendo debatidos em Medellín, por intelectuais e dirigentes que participam do congresso do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
O assunto se instalou nas mesas de discussão de centenas de acadêmicos e pensadores, principalmente depois que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva falou de um “mau cheiro” golpista na conferência de abertura do evento, na terça-feira passada (10/11).
“Lula foi muito claro em seu discurso aqui, estamos diante de uma ofensiva da direita, respaldada e até organizada pelos Estados Unidos, com seus especialistas em guerra psicológica econômica. Eles são os responsáveis políticos pela queda do preço do petróleo que afetou a Venezuela e o Brasil, causando problemas aos seus governos. Os planos desestabilizadores estão golpeando também a Argentina e outros países”, declarou o economista Theotônio dos Santos.
O economista brasileiro também participa do congresso do CLACSO, assim como o jornalista argentino Martín Granovsky, responsável pela comunicação da entidade. Durante o evento, ambos falaram sobre o tema dos avanços desestabilizadores, e concordaram que os grandes grupos de pressão internacionais não têm interesse em ver o aprofundamento dos avanços sociais e a melhor distribuição de renda alcançada pelos países latino-americanos.
Theotônio Dos Santos e Martin Granovsky conversaram com a Carta Maior sobre o cenário atual e as perspectivas da região em tempos de ofensiva reacionária.
Professor emérito da Universidade Federal Fluminense, Dos Santos sustenta que apesar da agressividade das direitas do Brasil e da Venezuela, elas não são tão poderosas.
“Não se deve acreditar ingenuamente que os governos e os processos sociais que surgiram nestes anos serão eliminados tão facilmente pelas forças conservadoras, como a grande imprensa quer que nós acreditemos”.
“Os meios de comunicação têm grande força na América Latina, é verdade, mas não têm tanta força como eles querem que nós pensemos. Basta dizer que seus candidatos perderam na maioria das eleições recentes”, propôs o autor de vários clássicos da teoria econômica da dependência.
Segundo Granovsky, é preciso analisar os problemas dentro de uma perspectiva histórica, e menciona que este evento do CLACSO, em Medellín, acontece justamente quando se celebra o décimo aniversário da Cúpula das Américas de Mar del Plata.
Naquele encontro multilateral, os presidentes Lula, Néstor Kirchner e Hugo Chávez lideraram uma aliança latino-americana que impediu os Estados Unidos de impor sua proposta de estabelecer a Área de Livre Comércio para as Américas.
“O Não à ALCA foi uma epopeia, mas não foi um feito politicamente isolado. Marcou a decisão dos chefes de Estado de tomar o controle das políticas externas, que se moviam tradicionalmente com sua lógica, algo típico das estruturas das chancelarias…”, comenta Granovsky.
“Isso trouxe avanços importantes para a integração, embora sempre tenha sido necessários lidar com as burocracias. Lula sempre recorda que se chegava a um acordo com Chávez, por exemplo, e esse acordo tardava em se materializar, por culpa das burocracias”.
Granovsky apresentou ontem, no congresso da CLASCO, o seu documentário “O renascimento da Pátria Grande: 10 anos do Não à ALCA”, com testemunhos inéditos dos protagonistas.
“Em meu registro, já não como jornalista, mas sim como graduado em História, o Não à ALCA é o primeiro ato de rebelião coletiva dos Estados da América Latina contra Washington”, disse Granovsky, em uma entrevista recente ao jornal Página12.
“Muitas vezes os povos se rebelaram, as pequenas comunidades também, ou um Estado sozinho, mas nunca houve uma rebelião coletiva desse alcance, e que além disso tenha obtido uma vitória importante, já que a ALCA só poderia ser aprovada por consenso, e esse consenso não foi possível pela decisão e a atividade dos presidentes”.
Os duelos verbais e as estratégias utilizadas por Lula, Chávez e Kirchner ficaram gravadas nos anais da diplomacia latino-americana como um modelo de batalha diplomática bem montada e vencedora.
Tão vencedora que derrotaram o presidente norte-americano daquele ano, o republicano George W. Bush tinha o apoio do mexicano Vicente Fox e do colombiano Álvaro Uribe – este segundo, atualmente, lidera a oposição em seu país na tentativa de desacreditar o processo de paz.
Theotônio dos Santos comentou que a posição colombiana em 2005 foi diferente da que tem hoje: um governo que, apesar de ser de centro-direita, mostrou maior abertura com relação à integração da América Latina.
“A Colômbia é fundamental por muitos motivos, como sua posição geográfica estratégica: um país que tem saída aos dois oceanos (Pacífico e Atlântico), que tem fronteiras com o Brasil e a Venezuela, e que faz parte da região amazônica”, assinala.
“Este país é muito importante em questões de segurança. Aqui, os Estados Unidos têm bases militares instaladas com o objetivo de manter o norte do Brasil sempre na mira. É um local militar fundamental para controlar a situação da América do Sul” concluiu Dos Santos.
Tradução: Victor Farinelli
Esse é um dos temas que vêm sendo debatidos em Medellín, por intelectuais e dirigentes que participam do congresso do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
O assunto se instalou nas mesas de discussão de centenas de acadêmicos e pensadores, principalmente depois que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva falou de um “mau cheiro” golpista na conferência de abertura do evento, na terça-feira passada (10/11).
“Lula foi muito claro em seu discurso aqui, estamos diante de uma ofensiva da direita, respaldada e até organizada pelos Estados Unidos, com seus especialistas em guerra psicológica econômica. Eles são os responsáveis políticos pela queda do preço do petróleo que afetou a Venezuela e o Brasil, causando problemas aos seus governos. Os planos desestabilizadores estão golpeando também a Argentina e outros países”, declarou o economista Theotônio dos Santos.
O economista brasileiro também participa do congresso do CLACSO, assim como o jornalista argentino Martín Granovsky, responsável pela comunicação da entidade. Durante o evento, ambos falaram sobre o tema dos avanços desestabilizadores, e concordaram que os grandes grupos de pressão internacionais não têm interesse em ver o aprofundamento dos avanços sociais e a melhor distribuição de renda alcançada pelos países latino-americanos.
Theotônio Dos Santos e Martin Granovsky conversaram com a Carta Maior sobre o cenário atual e as perspectivas da região em tempos de ofensiva reacionária.
Professor emérito da Universidade Federal Fluminense, Dos Santos sustenta que apesar da agressividade das direitas do Brasil e da Venezuela, elas não são tão poderosas.
“Não se deve acreditar ingenuamente que os governos e os processos sociais que surgiram nestes anos serão eliminados tão facilmente pelas forças conservadoras, como a grande imprensa quer que nós acreditemos”.
“Os meios de comunicação têm grande força na América Latina, é verdade, mas não têm tanta força como eles querem que nós pensemos. Basta dizer que seus candidatos perderam na maioria das eleições recentes”, propôs o autor de vários clássicos da teoria econômica da dependência.
Segundo Granovsky, é preciso analisar os problemas dentro de uma perspectiva histórica, e menciona que este evento do CLACSO, em Medellín, acontece justamente quando se celebra o décimo aniversário da Cúpula das Américas de Mar del Plata.
Naquele encontro multilateral, os presidentes Lula, Néstor Kirchner e Hugo Chávez lideraram uma aliança latino-americana que impediu os Estados Unidos de impor sua proposta de estabelecer a Área de Livre Comércio para as Américas.
“O Não à ALCA foi uma epopeia, mas não foi um feito politicamente isolado. Marcou a decisão dos chefes de Estado de tomar o controle das políticas externas, que se moviam tradicionalmente com sua lógica, algo típico das estruturas das chancelarias…”, comenta Granovsky.
“Isso trouxe avanços importantes para a integração, embora sempre tenha sido necessários lidar com as burocracias. Lula sempre recorda que se chegava a um acordo com Chávez, por exemplo, e esse acordo tardava em se materializar, por culpa das burocracias”.
Granovsky apresentou ontem, no congresso da CLASCO, o seu documentário “O renascimento da Pátria Grande: 10 anos do Não à ALCA”, com testemunhos inéditos dos protagonistas.
“Em meu registro, já não como jornalista, mas sim como graduado em História, o Não à ALCA é o primeiro ato de rebelião coletiva dos Estados da América Latina contra Washington”, disse Granovsky, em uma entrevista recente ao jornal Página12.
“Muitas vezes os povos se rebelaram, as pequenas comunidades também, ou um Estado sozinho, mas nunca houve uma rebelião coletiva desse alcance, e que além disso tenha obtido uma vitória importante, já que a ALCA só poderia ser aprovada por consenso, e esse consenso não foi possível pela decisão e a atividade dos presidentes”.
Os duelos verbais e as estratégias utilizadas por Lula, Chávez e Kirchner ficaram gravadas nos anais da diplomacia latino-americana como um modelo de batalha diplomática bem montada e vencedora.
Tão vencedora que derrotaram o presidente norte-americano daquele ano, o republicano George W. Bush tinha o apoio do mexicano Vicente Fox e do colombiano Álvaro Uribe – este segundo, atualmente, lidera a oposição em seu país na tentativa de desacreditar o processo de paz.
Theotônio dos Santos comentou que a posição colombiana em 2005 foi diferente da que tem hoje: um governo que, apesar de ser de centro-direita, mostrou maior abertura com relação à integração da América Latina.
“A Colômbia é fundamental por muitos motivos, como sua posição geográfica estratégica: um país que tem saída aos dois oceanos (Pacífico e Atlântico), que tem fronteiras com o Brasil e a Venezuela, e que faz parte da região amazônica”, assinala.
“Este país é muito importante em questões de segurança. Aqui, os Estados Unidos têm bases militares instaladas com o objetivo de manter o norte do Brasil sempre na mira. É um local militar fundamental para controlar a situação da América do Sul” concluiu Dos Santos.
Tradução: Victor Farinelli
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