(Foto: Viomundo) |
O
marketing do direitista Macri construiu a visão de que ele representa a “nova
política” (“Cambiemos” – Mudemos – é o nome de sua coalizão eleitoral). Além
disso, ele promete manter as políticas sociais do
kirchnerismo, como têm feito as oposições aos governos progressistas no Brasil
e Venezuela com Aécio e Capriles.
Por
Ariel Goldstein – reproduzido do blog Viomundo – o que você não vê na
mídia, de 01/11/2015
As
direitas avançam na América Latina. A conjuntura de expansão econômica e apogeu
das exportações que consolidou o período dos governos progressistas na região a
começos do século XXI têm mudado, e isso já foi comprovável nas eleições do
Brasil em 2014, Venezuela em 2013 e agora neste primeiro turno na Argentina.
A questão
já é repetida na historia latino-americana, e também aconteceu durante a etapa
dos governos populistas clássicos do Juan Perón e do Getúlio Vargas. Quando o
período da expansão e distribuição econômica acabou-se, esses processos ficaram
debilitados, sendo substituídos por opções da direita.
Além
disso, para uma melhor compreensão das eleições presidenciais na Argentina, são
necessárias outras reflexões. O resultado da eleição neste primeiro
enfrentamento, que deu mais possibilidades ao Mauricio Macri, o candidato da
coalizão conservadora (PRO-UCR – Proposta Republicana, partido de Macri, e
União Cívica Radical), que ao Daniel Scioli, do peronista Frente para a Vitória
(FPV), é uma derrota para todo o kirchnerismo.
As
condições para o triunfo em primeiro turno das eleições presidenciais de 2011,
onde o kirchnerismo tinha triunfado pelo 54% dos votos, têm se diluído. O
kirchnerismo tinha a certeza de que a eleição de um candidato com uma
questionável gestão na Provincia de Buenos Aires como o Daniel Scioli daria as
condições para ganhar com comodidade, como as pesquisas de opinião vaticinavam.
Contrariamente
a isso, pesaram as acusações de corrupção ao governo da Cristina, o caso do
fiscal Nisman morto, e a eleição para o governo da Provincia de Buenos Aires de
um candidato peronista que tem sido a espada discursiva do kirchnerismo,
desgastado por acusações e uma má comunicação com o eleitorado.
Outra
questão relevante que tem contribuído para o desenlace foram as contradições na
gestão da campanha entre o kirchnerismo mais ligado ao legado da Cristina e as
visões mais peronistas tradicionais vinculadas ao Scioli.
A
candidata do PRO para o governo de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, construiu
uma polarização com o peronismo tradicional que governa a província desde 1983,
desde a questão de gênero, com a narração de uma mulher que confronta os
aparatos tradicionais e os homens do poder peronista.
Isso no
nível do marketing político foi muito efetivo, e assim é preciso reconhecer a
capacidade do guru equatoriano do PRO, Jaime Duran Barba, que construiu essa
visão de que o PRO representava a “nova política”, estabelecendo uma
diferenciação com Massa e o peronismo tradicional, ao mesmo tempo em que Macri
prometia a conservação das políticas sociais do kirchnerismo, como têm feito
também as oposições aos governos progressistas no Brasil e Venezuela com Aécio
e Capriles.
Fica
difícil assim o cenário do segundo turno para o kirchnerismo, com uma tendência
que favorece ao Macri. O candidato do Cambiemos (PRO-UCR) vai ter uma cobertura
favorável da mídia e tem possibilidades de adesão do terceiro candidato na
eleição, Sergio Massa.
O
kirchnerismo tem que falar diretamente e fazendo propostas para as classes
médias que votaram contra o governo nacional e seu legado em grandes
proporções. Scioli vai ter que fazer um discurso mais aberto para buscar os
votantes independentes, já que esta nova eleição vai ser uma disputa com o
candidato do PRO pelo centro político.
A adoção
de um discurso mais aberto pode dar mais competitividade para este segundo
turno ao candidato do Frente para a Vitória.
@goldsariel -- Sociólogo, UBA.
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