LUIS NASSIF: O GOLPE FATAL NOS GRUPOS DE MÍDIA FOI A TECNOLOGIA DA INTERNET E A CONVERGÊNCIA DIGITAL

(Foto: Luis Nassif Online)
Dentro de algum tempo, redações com jornalistas em tempo integral serão peças de um passado distante, tal e qual os casts da rádio Nacional e da TV Globo.
Por Luis Nassif – reproduzido do Luis Nassif Online (Jornal GGN), de 22/10/2015 (o título principal e o destaque acima são deste blog)

Entro no The Guardian para ler uma reportagem sobre a crise da imprensa inglesa. No meio da página, o anúncio de um banco brasileiro, provavelmente colocado por um bureau de anúncios independente do The Guardian.
Como não sou nem assinante, nem leitor habitual do Guardian, quem analisou meu perfil, nacionalidade, hábitos de consumo e colocou um anúncio de um banco brasileiro em um jornal inglês foi um bureau. Ou seja, o jornal não tem mais o controle do ciclo do anúncio.
Os jornais perderam o controle sobre o ciclo da propaganda e sobre a distribuição, desde o momento em que o Facebook e o Google fecharam acordos de distribuição do seu conteúdo. Para conseguir os page views necessários para melhorar o faturamento, tiveram que entregar a ambos parte de seu negócio.
Cada vez mais a publicidade os considerará um ponto da Internet, competindo com lojas de departamento, blogs independentes, sites de compras etc. E a maior parte dessa publicidade não passará sequer pelos bureaus independentes, mas pelas redes sociais, especialmente Google e Facebook.
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A reportagem do The Guardian é sobre a "tempestade perfeita" - e não se refere às economias emergentes, mas ao mercado de mídia britânico.
Para a maioria dos jornais, a publicidade impressa ainda tem sido o principal motor de faturamento. Mas tem atingido os piores níveis da história. Em algumas semanas do último semestre, o faturamento chegou a cair 30% em relação à média histórica. E a publicidade digital não deslanchou.
A desaceleração é generalizada. Segundo o Publisher do Daily Mirror, do aumento de 30% na publicidade digital, 29% foram apropriados pelas plataformas sociais. A “tempestade perfeita” está a caminho com os avanços das redes sociais nas estratégias de vídeo. Nos países centrais, conteúdo pago e Internet estão sufocando rapidamente a TV aberta. E a tecnologia da TV digital, no caso das abertas, não logrou ganhos tecnológicos que a viabilizem.
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Haverá reflexos inevitáveis sobre o mercado de opinião.
Os grupos de mídia foram os mais relevantes atores políticos de todo o século 20. Passaram a ter seus poderes solapados em um passado distante, com a disseminação das FMs; de um passado recente, com os avanços da TV a cabo. O golpe fatal foi a tecnologia da Internet e a convergência digital.
Aprovada a nova Lei de Direito de Resposta
Esta semana, na Câmara Federal, foi aprovada a nova Lei de Direito de Resposta, que reduzirá substancialmente o enorme poder da mídia sobre as versões do fato e a construção e destruição de reputações.
A lei implanta definitivamente o direito de resposta extensivo a todas as formas de comunicação – excetuando os comentários em meio digital. Obriga a que a resposta seja dada no mesmo espaço e abrangência do fato. No caso de injúria, elimina a chamada exceção da verdade – pela qual o veículo lançava uma acusação sem provas e, depois, para adiar o direito de resposta, exigia do ofendido a comprovação de que a acusação era infundada.
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Nos anos 40 e 50, várias rádios mantinham orquestras e cantores contratados. Nos anos 70 em diante, foi a vez da Rede Globo com seus artistas e redes de correspondentes em todo mundo. Dentro de algum tempo, redações com jornalistas em tempo integral serão peças de um passado distante, tal e qual os casts da rádio Nacional e da TV Globo.


Comentários no Luis Nassif Online:

Já acaba tarde - Daniel Klein

qui, 22/10/2015 - 07:15

O fim dos grandes veículos de noticiário impresso é apenas o final de mais um ciclo tecnológico, como por exemplo o fim das carruagens. Em ambos os episódios, ficamos também livres de outros danos à sociedade. No caso das carruagens, das montanhas de bosta de cavalo que infestavam as ruas das grandes cidades.

No da grande imprensa, da manipulação da opinião pública em conluio com a elite econômica, fato conhecido e amplamente discutido desde antes do tempo em que o próprio LN era importante jornalista da FSP e um dos definidores da sua linha editorial. Como há décadas tem apontado Noam Chomsky, e antes dele Marshall McLuhn, a grande mídia é muito ruim em todo o mundo.
  


qui, 22/10/2015 - 09:12

Não temos bosta de cavalo, mas gás carbônico.  Mais uma vez podemos sair do fogo para a frigideira. Num primeiro momento, as redes sociais e Google apresentam-se como aliados no combate à hegemonia da grande mídia. Mas apenas enquanto for conveniente, até o momento de seu poder dela ser solapado, e um novo altar de poder, com as novas-velhas formas de controle tomar o seu lugar.

Google pode esconder e hierarquizar conteúdos, Facebook, igualmente, e até censurar o que não lhe convém, em conluio com empresas, companhias de espionagem e governos, como no caso Julian Assange. Quanta fé o homem colocou na república contra a monarquia e a igreja, fé na burguesia e na imprensa como arma de libertação da tirania para entregá-la de bandeja  no altar do deus mercado, numa servidão voluntária a toda sorte de pequenos e mancomunados tiranos.

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