LINAURO NETO E ‘O TRIPÉ DA CONJUNTURA’: “A MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE EXPLORAÇÃO VIGENTE UNIFICA GOVERNO E OPOSIÇÃO”
"Os movimentos novos que se apresentam emanam da crise de exaustão do capital e de seu aprofundamento" (Foto: Internet) |
Ativista da Oposição Operária (OPOP), Linauro Neto será um
dos quatro expositores no debate ANÁLISE DE CONJUNTURA: ENTENDER A REALIDADE
PARA TRANSFORMÁ-LA. Na quinta-feira, dia 22, a partir das 18:30 horas, no auditório
do Sindpec (endereço abaixo).
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) –
editor do Blog Evidentemente –
publicado em 20/10/2015
Apresento aqui aspectos da visão política de
mais um dos debatedores que vão nos ajudar a entender a conturbada conjuntura brasileira,
marcada pelas crises econômica e política, pela luta em torno do impeachment da
presidenta Dilma e até pelo aparecimento duma direita saudosista da ditadura
militar, além do forte protagonismo do capital financeiro e dos monopólios da
mídia hegemônica.
Desta vez trata-se de Linauro Neto, integrante
do agrupamento político Oposição Operária (OPOP), que edita a revista Germinal
e que dá um peso fundamental, no desenvolvimento da conjuntura, a movimentos
sociais surgidos mais recentemente – como os do passe livre e dos sem-teto -,
visibilizados pela mídia especialmente a partir das manifestações populares de
junho de 2013.
A apresentação é feita aqui com base no texto ‘O
Tripé da Conjuntura’, divulgado em março de 2015 no Jornal Germinal e
transcrito na íntegra no final desta matéria. Tal tripé é destacado logo na
abertura, conforme vai aqui com edição adotada por iniciativa deste blog:
TRÊS GRANDES TENDÊNCIAS
“A conjuntura política social do Brasil se
desdobra neste momento em três grandes tendências.
1 - Uma em defesa do status quo vigente
composta pelo PT e seus aliados que formam o governo de plantão.
2 - Outra, composta pela oposição com um
discurso raivoso, porém, comportada na ação institucional, representada pelo
PSDB, com atitudes isoladas de um PSOL e um PSTU.
Estas duas tendências se encontram em uma unidade
contraditória que consiste na dicotomia governo/oposição, sem abrirem mão da
defesa da ordem capitalista. Portanto, a manutenção do sistema de exploração
vigente unifica estas duas tendências, apesar da farsa do jogo eleitoral.
(Foto: Internet) |
3 - A terceira tendência é o movimento
estabelecido a partir das jornadas de junho de 2013 e das mobilizações da Copa
das Confederações que, a despeito da ferrenha repressão do Estado, ainda é
possível se ver em ação no Movimento pelo Passe Livre (MPL), no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), e outros.
Estes movimentos se diferenciam das duas tendências
anteriores por se pautarem pela autonomia e independência, defendendo os
interesses dos trabalhadores e demais camadas oprimidas da sociedade”.
No texto completo (no final) seguem a ampliação
e o aprofundamento da visão política da OPOP.
MAIS TRÊS DEBATEDORES
Além de Linauro Neto, mais três acadêmicos e ativistas políticos das
esquerdas baianas estarão debatendo com a plateia: Renildo Souza, professor da
Faculdade de Ciências Econômicas da UFBa, integrante do Comitê Central do PC do
B; Joaci Cunha, assessor do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e
editor-chefe da revista Cadernos do CEAS; e o professor de Economia da UFBa,
Luiz Filgueiras.
No próximo dia 5/novembro (também uma quinta-feira), nos mesmos local e
horário, teremos novo debate, desta vez com Jorge Almeida (Macarrão), Sílvio
Humberto, Pery Falcon e Celi Taffarel.
Quatro entidades promovem o evento: CEAS, Projeto Velame Vivo (PVV),
Comissão da Verdade da Faculdade de Direito da UFBa e este blog Evidentemente (www.blogdejadson.blogspot.com).
SERVIÇO:
O que: debate ANÁLISE
DE CONJUNTURA: CONHECER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA;
Onde: Sindpec – Rua
Conselheiro Spínola, 07 – Barris – Salvador-Ba. - Telefone: (71) 3328-4699
Quando: dias
22/outubro e 05/novembro – a partir das 18/30 horas.
O TRIPÉ DA CONJUNTURA
A conjuntura política social do Brasil se
desdobra neste momento em três grandes tendências. Uma em defesa do status quo
vigente composta pelo PT e seus aliados que formam o governo de plantão. Outra, composta pela oposição com um discurso
raivoso, porém, comportada na ação institucional, representada pelo PSDB, com
atitudes isoladas de um PSOL e um PSTU.
Estas duas tendências se encontram em uma unidade contraditória que
consiste na dicotomia governo/oposição, sem abrirem mão da defesa da ordem
capitalista. Portanto, a manutenção do sistema de exploração vigente unifica
estas duas tendências, apesar da farsa do jogo eleitoral.
A terceira tendência é o movimento estabelecido
a partir das jornadas de junho de 2013 e das mobilizações da Copa das
Confederações que, a despeito da ferrenha repressão do Estado, ainda é possível
se ver em ação no Movimento pelo
Passe Livre (MPL),
no Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST), e
outros. Estes movimentos se diferenciam
das duas tendências anteriores por se pautarem
pela autonomia e independência, defendendo os interesses dos trabalhadores e
demais camadas oprimidas da sociedade.
As duas primeiras tendências estão sendo
articuladas com o intuito de cooptar
parcelas significativas da
população para respaldar
projetos igualmente burgueses.
Nesse intuito, surge inicialmente o
movimento puxado pelo PT, CUT,
MST e UNE. No mesmo sentido, aparece
outro movimento alavancado por parcela do
PSDB e aliados, que estão a defender propostas
tais como o impeachment da presidente Dilma, a volta dos militares ou
simplesmente a renúncia da presidente. A terceira tendência representada pelos
referidos movimentos sociais autônomos se
recusa em enquadrar-se aos engodos do Capital, seu Estado e governos.
Uma questão central desse panorama, no qual se
situam as três tendências acima descritas, é o fato de que o campo capitaneado
pelo PT e seus aliados não consegue
estabelecer uma situação
de governabilidade confiável e duradoura no que diz respeito ao estabelecimento de um pacto
político, inerente à esfera do poder de Estado, visando o combate à crise. A
isso se acrescenta outro elemento:
a conjuntura apresenta uma forte
tendência de desmoralização do Estado com os recentes escândalos
na maior empresa estatal do país, a Petrobras, bem como dos organismos
envolvidos nas apurações e punições dos responsáveis pela escancarada
corrupção. Esta realidade tem favorecido a criação de um clima ascendente à privatização
dessa estatal. Neste sentido, podemos afirmar
que o PT e seus principais aliados,
acabaram por emprestar quadros para
serem fritados e devidamente queimados no processo. Tendo sempre o cuidado de blindar
partes a serem aproveitadas em conjunturas futuras, como é o caso de Lula, por
exemplo.
Cabe acrescentar que a base mais volátil de
apoio ao governo é aquela que se situa
nas hostes do
velho, matreiro e
fisiológico PMDB. Esta agremiação partidária, de muito tempo,
vive pulando de galho em galho, na
tentativa de se
manter enquanto verdadeiro
saco de gatos oportunistas e
sem nenhuma definição
quanto aos objetivos programáticos estratégicos.
Não é que
isso também não
ocorra nos demais partidos, mas,
o fato é que no PMDB este fenômeno se dá com maior intensidade. Muito por conta
de que a “unidade” existente neste partido
se situa no
campo do quem
dá mais. Assim, em toda sua trajetória, apoio e
acordos foram construídos e devidamente rompidos. Desta forma,
ele vai de
mansinho deixando o
governo para se estabelecer em outra esfera de articulação
do poder político. Isso tudo começou nas últimas eleições quando parcela
considerável deste partido deixou de apoiar
as candidaturas do PT
e do seu lastro de alianças. Agora, com maior força na Câmara e no Senado, o PMDB está
retirando o apoio ao governo Dilma, preparando o movimento de ruptura final do vice-presidente
e dos ministros de Estado peemedebistas.
Mas nem tudo é um mar de rosas para o PMDB.
Além de contar em seu seio com
velhas, viciadas e
queimadas raposas da política brasileira, esse partido não tem
se apresentado enquanto perspectiva confiável
para parcelas da classe dominante, que acabam por ficar observando seus
movimentos com bastante cautela. Expoentes mais experientes do partido têm se
posicionado no sentido da necessidade deste voltar às ruas, vendo neste ato o
mecanismo pelo qual deva estabelecer as novas correlações de forças. No
entanto, o PMDB tem medo. Não se trata nesta conjuntura de um período como as
diretas já ou do impeachment de Collor de Melo. Pois, o aprofundamento da
crise se dá
de maneira irreversível para
o capital, a
despeito de pequenos
picos de desenvolvimento, aqui e
acolá, que logo se precipitam para baixo, numa escalada regressiva de uma
depressão de exaustão global.
Por conta disso
é que não se pode mais prever, de forma ordeira
e pacífica, o desenrolar
dos movimentos sociais, a não ser, é claro, daqueles movimentos
oficiais e oficiosos,
como também, aqueles movimentos formados nos espaços
próprios da pequena burguesia e da chamada classe média, ricos em discursos pseudo-morais
e éticos, portadores de um nacionalismo tacanho, numa tentativa alucinada de se
estabelecer novas bases
de apoio a
projetos burgueses. Hoje a conjuntura é outra e os movimentos
novos que se apresentam emanam da crise de
exaustão do capital e de seu aprofundamento. São movimentos latentes e brotam
constantemente das contradições e das relações sociais do Modo de Produção
Capitalista. Estes movimentos vão desde uma luta contra o aumento das tarifas
de transporte público e moradia à paralisação de caminhoneiros e de operários
metalúrgicos na resistência ao desemprego.
É lógico
que se tratando de movimentos mais amplos que os estimulados pela classe
operária nos finais dos anos 70 do século XX, eles carecem ainda de um núcleo
polarizador capaz de espalhar toda a sua energia para o conjunto dos trabalhadores,
da juventude, dos artistas e produtores da cultura como um todo. Nós somos
parte integrante deste núcleo, que há mais de trinta anos vem realizando
balanços exaustivos acerca dos desdobramentos conjunturais, intervenções nas
lutas e não abrindo mão do direito da democracia operária para o
desenvolvimento de um projeto sério de construção revolucionária do socialismo.
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